INCERTO

// Tu //

Tens o poder de causar uma guerra.

De querer fazer desaparecer.

De esquecer pessoas. Desvio-me dos espelhos.

De que uma guerra seja criada,entre duas pessoas, que eu quero esquecer até que deixe de haver um nós. Que deixe de haver um eu e que deixe de existir assim que começar a noite.

Porque os meus lábios moldam-se num sorriso de vitória ao ver o final do dia chegar. O meu reflexo chora por pensar.

O medo de acordar com menos do que o que já perdi faz com que as horas se arrastem.

Incrível como o tempo só importa às vezes. Quando preciso que ele se altere.

E senão houver mais tempo? Demasiado tempo? Tempo insuficiente para o que precisa de acontecer. Estagnado, talvez o melhor.

A meio da noite ele parava. A meio de muitas noites ele pára para sempre.

Como se o prazer de me torturar nas minhas próprias angústias o impedisse de seguir em frente.

E depois avançava muito mais rápido do que o que eu conseguia. Suspiro ao pousar a caneta.

E eu ria-me baixinho, quase em desespero sem saber se dormia ou continuava a tentar. Com ou sem silêncio? As minhas vozes ou as do tempo?

A inquietação moveu-me no desespero por uma boa notícia, algo que tranquilize  e me faça ter um momento de paz. No entanto tudo o que vejo nos espelhos é uma guerra.

A minha e a nossa. A que eu escondo e a que eu não quero. Inevitável e indesejada.

E se? Esta noite for um recomeço?

Que o amor tenha a força das mãos entrelaçadas, que a guerra interior acabe. Que o meu reflexo sorria.

Que a noite regresse mas não traga aquela agonia no peito.

As palavras desenrolaram-se. Com a mesma felicidade que o sorriso.

Isso, tudo isso, sem que as minhas mãos não façam mais do que uma tentativa de escorrer todas as emoções pelas linhas tortas e pelas últimas nuvens do pôr-do-sol.

Tão simples e tão complexo. Que o tempo mude ou faça mudar. Que leve sem deixar ficar as memórias antigas na minha mente.

Esse poder de mudar a linha seguinte. Faz-me sobreviver às noites.  A tal noite de muitas.