Dylan

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Lá estava eu, mais um dia entediado na aula, era história então não era tão importante ao ponto de prestar muita atenção. O professor é legal até, as vezes ele deixa a gente ouvir música durante a aula, acredito que até ele ache a aula entediante.
Fui pegar meu caderno pra matar tempo rabiscando algo enquanto ele não passa nenhuma atividade, quando o coordenador entra na sala, me viro pra frente num piscar de olhos, pego de surpresa pela visita repentina, assim como todos os meus colegas.

— Bom dia alunos, — ele cumprimenta, recebendo alguns "bom dias"s preguiçosos — Incrivelmente, dessa vez não estou aqui para brigar com vocês — algumas risadas – e peço que não tenha que voltar aqui com esse propósito muito cedo, pois gostaria de anunciar o mais novo aluno da nossa escola! – ele parou para cochichar alguma coisa para alguém fora do meu campo de visão, enquanto isso era possível ouvir murmúrios da sala, a maioria das meninas, provavelmente especulando sua aparência, revirei os olhos.

Os murmúrios pararam quando o coordenador virou de novo para nós, e um garoto entrou na sala. Me surpreendi com sua aparência, sinceramente, não estava esperando alguém tão...

— Me chamo Andrew Wrusky – Ele anunciou, mexendo as mãos ansiosamente. – Me mudei da cidade vizinha há alguns dias, e... é isso – completou a fala, nervoso, com uma risada fraca. Deu uma última olhada na sala, parando com o olhar em mim. Olhei para a janela.

— Andrew, você pode se sentar ali, no lugar de Dylan. Collins, pule uma cadeira para trás, por favor. – Ele disse, apontando para mim. Virei rapidamente para o professor, indignado com sua escolha, mas ele já estava indo falar com o coordenador, sem chance para protestos. Tudo bem que tinha, sim, uma mesa vazia atrás de mim, que eu usava para apoiar o material que não estaria usando no momento, mas gostava desse espaço todo, que agora teria que dividir com esse...

Peguei minhas coisas e me alojei na cadeira vazia, que afinal não era tão ruim, mas não era a minha mesa. O novato se sentou e, após alguns instantes se virou para mim.

— Acho que este é seu. – Olhei para seu rosto, as sardas cobriam seu rosto inteiro, eram quase da mesma cor de seu cabelo, um ruivo bem discernível, seus olhos eram de uma cor meio... cinza? Ele olhou para a mão e a balançou, chamando minha atenção. Era o meu caderno. Meu caderno de desenhos. Senti meu coração acelerar, ele não teria visto, né?

— Ah, obrigado. – Peguei e ele sorriu, um sorriso sincero e gentil. Senti uma pontada no peito. Ele era mais alto que eu, visivelmente mais alto, até quando sentado.

—Gostei dos desenhos. – Parei de respirar. Ele tinha SIM visto! Fuxiqueiro! – Desculpe, não quis bisbilhotar, ele estava caído e aberto em alguma página e... – Ele não completou, mas estava subentendido. Pigarreei

— Tá tranquilo, obrigado. – Tentei o tranquilizar. Por quê? Talvez porque era seu primeiro dia e eu estava com pena, ou porque ele realmente parecia alguém simpático. Dei uma olhada na caderneta, não tinha muita coisa, só alguns rascunhos de personagens, Ashley e Chris, e objetos da sorte do dia do signo de Ash (não me perguntem). Levantei os olhos, ele ainda estava ali, me observando. Levantei a cabeça.

— Você é o Dylan, certo?

— Exatamente! – O professor respondeu, aparecendo no nosso lado, do nada. – Collins, vou prestar bastante atenção em você esse semestre, cuide do nosso novo colega. – Ele pediu, bagunçando o cabelo de Andrew, que deu uma risadinha. – Você conhece a escola, mostre pra ele como sobreviver aqui e, quem sabe ele possa me dar umas dicas também, depois. – Dei uma risada fraca. – Mas no recreio, agora eu preciso dar aula. – Prof. Maurício falou, deu um tapinha no ombro do novato e foi em direção ao quadro.

Mas bom, quebrando a quarta parede, sou Dylan Collins, como previamente anunciado pelo professor. Tenho dezesseis anos e, atualmente, tenho os mesmos amigos que tinha desde a infância (sem muito movimento na minha vida), sendo eles Chris, Ashley e... acho que para por aí mesmo. Minha aparência física não é tão fora do comum: Branco, cabelo preto, e consideravelmente baixo (culpa do meu amado pai.) Minha escola é uma escola de "ensino superior" tendo assim apenas salas do oitavo ao terceiro ano do ensino médio, atualmente estou no segundo ano. E sendo sincero, acho que ainda seria BV se não tivesse brincado de verdade ou desafio com uns amigos da minha prima ano passado, acho que levei o assunto de antissocial muito a sério.

A aula acabou, e chegou a hora do intervalo, Chris veio cumprimentar o novato (bem quando eu iria tentar sair de fininho) dando algumas dicas sobre chegar cedo na cantina e coisas que ele provavelmente já sabia. Numa tentativa muito falha de parecer descolado, ele passou o braço por volta dos ombros dele, o que foi incrivelmente engraçado, considerando os 15 centímetros de diferença de altura. Enquanto eu segurava a risada, e ele passava os braços pelos meus ombros, pude ver Andrew achando a situação igualmente engraçada, principalmente quando fizemos contato visual, o que fez com que nós dois soltássemos as risadas, com Chris confuso no meio. Quando abri os olhos, ainda rindo, olhei para Andrew, que fez o mesmo, fizemos contato visual de novo, ainda rindo. Outra pontada no peito, senti minutos se passarem, apenas naquele instante, em que seus olhos pararam nos meus. Senti como se estivesse cometendo um crime, como se apenas o fato de olhar para ele fosse errado. Desviei o olhar penosamente, tentando não voltar a olhar em sua direção. Pensei em sair dali, mas não queria chamar atenção, e afinal eu teria que mostrar a escola a ele, a não ser que...

Enquanto muito focado em passar uma ótima impressão para Andrew, Chris tirou o braço de meus ombros para gesticular e apontar para alguém, com certeza fofocando, aproveitei a deixa para sair de fininho, enquanto escutava a voz de Chris, que com certeza não percebeu:

— Ah, ta vendo aquela menina ali? Ela pagou um – Chris fez um gesto obsceno com a língua na bochecha. -- Pro professor, que é casado, e ainda reprovou!

— Meu deus, sério? – Andrew perguntou rindo, mas surpreso

— Te juro! Ah! E também teve a vez que uma menina fez um... – Não consegui ouvir o resto, por mais que provavelmente já tivesse escutado a história, ainda fiquei curioso, mas fugir para o banheiro parecia mais interessante. Ia deixar o resto da conversa para quando nos encontrássemos novamente na sala.

Entre Beijos e Segredos (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora