Nossa entropia

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Desordem, dor, raiva, medo, pânico, ansiedade e todas as coisas ruins que compõem um ser vivo. Esse era o modo como Tweek se via toda vez que se olhava no espelho.

Estava com olheiras profundas, um olhar morto e sem qualquer expressão que pudesse dizer que o rapaz está feliz.

Entropia.

Era assim que ouviu algumas pessoas lhe descrever, era um rapaz em total e completa desordem. Ninguém queria falar consigo, não chegavam perto de si e muito menos o encaravam por muito tempo.

Café.

Foi assim que o garoto começou a fugir, era o seu refúgio e o fazia se sentir vivo. Uma gota de café sobre sua boca era o suficiente para lhe fazer entrar em êxtase.

Amargo, doce, quente, frio.
Conseguia identificar cada uma dessas coisas quando bebia café mas infelizmente o seu salvador virou um vício e desenvolveu um grande e forte vício por cafeína.

E não imaginou o quanto isso foderia sua vida.

Até ele chegar como a leveza da primavera.

Craig.

________

Era cedo quando o rapaz de madeixas loiras bem bagunçadas saiu de casa, vestia um casaco verde e uma calça moletom marrom, envolta do pescoço estava um cachecol marrom como suas calças e a bolsa atravessada no corpo. A boca estava coberta pelo tecido felpudo enquanto o mesmo caminhava pela calçada desviando o olhar de qualquer ser vivo que viesse pela sua direção.

Abriu a porta da loja com o ombro e tirou as mãos do bolso pegando a carteira e entregando o vale alimentação ao atendente que passou o mesmo e entrego o copo de café junto do cartão. Tweek agradeceu e saiu da loja bebendo lentamente o seu café, saboreando cada gole que tocava sua boca e descia por sua garganta.

O trabalho não ficava muito longe então não se demorou para estar frente a empresa, adentrou ao grande prédio e subiu as escadarias.

Ele não pegava mais o elevador, lhe causava pânico e sentia muitos olhares sobre si, muitas bocas cochichando e dedos apontando para si. Fazia meses que subia pela escada até o décimo andar, empurrou a porta lentamente com o ombro e foi para a sua pequena cabine, colocou a bolsa no canto, ligou o computador e pois o fone.

Telemarketing.

Esse era o seu emprego e não existia emprego pior para um viciado em café, passava o dia sentado resolvendo situações de merda e ouvindo merda o dia todo até a noite. A garrafa de café era deixada na sua mesa antes mesmo do rapaz chegar, ele era produtivo a base de cafeína e seu chefe decidiu mandar deixarem sempre uma garrafa em sua mesa.

Não importava se o garoto era estranho e assombroso, alguém tinha que deixar lá para a empresa ter bons resultados. Era o funcionário do mês desde que seu novo viciou se tornou o café.

"Rapazinho, eu preciso que vocês liguem a minha internet. Eu já paguei, eu já disse que paguei, eu já falei que essa porra tá paga, libera a minha internet."

Essa ainda era educada, havia dias que era assediado, dias que era amaldiçoado e até mesmo humilhado. E tinha dias que atendia o chamado de alguém fingindo ser doce para se livrar das dividas.

Entropia [Creek]Onde histórias criam vida. Descubra agora