PARTE 1

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O fato de Can ter perdido a memória e fazer novos planos sem incluí-la, de olhá-la como se ela fosse uma estranha, depois de tudo o que tinham vivido, depois de tantos obstáculos superados, justo quando eles finalmente ficariam juntos, foi além do que ela podia suportar.

Estava cansada, decidiu recomeçar e deixar o seu albatroz livre para alçar voo para onde quisesse.

Ao amanhecer, Can espera por Sanem para eles irem juntos para a empresa, porém ela não aparece.

Can a procura, mas descobre que ela deixou a fazenda e voltou para casa.

Ele não se atina para a magnitude desse ato de Sanem, não entende o significado dessa atitude dela de deixar o seu refúgio especial para retornar para a casa dos pais.

Assim, ele simplesmente entra em seu carro e vai para a agência com a tranquilidade de que ela estaria lá, porém, após a primeira hora em seu escritório sem ver Sanem, imagina que ela se refugiou em alguma outra parte na empresa.

Ele não imaginou que ficaria tão incomodado com a ausência dela...

Nada de chá, nada de batidinhas na porta, nada de olhares engraçados e hipnóticos, nada de sua fragrância inebriante e peculiar.

Ela fazia falta, e essa era a primeira vez que percebia isso desde que perdera a memória.

Ele leu no livro dela sobre a sua obsessão pelo perfume de Sanem, e não querendo repetir essa postura em relação a ela, já que tinha sido a causa de alguns transtornos, Can preferiu não fazer nenhum comentário sobre o aroma dela, até então.

Mas a verdade era que aquele aroma continuava a exercer um efeito sobre ele, um grande efeito, embora ele não tivesse nenhuma lembrança desse passado de fixação.

Ali, sentado em seu escritório, inquieto por conta da ausência daquela garota peculiar, ele pensa no dia em que dançaram na cabana, quando sentiu seu cheiro tão latente.

Havia se esforçado bastante para não encostar o nariz no pescoço de Sanem para sorver o seu perfume em uma inalada exploratória.

Apesar de já ter feito isso muitas vezes antes — pelo menos era essa a sua dedução —, ele se sentia travado como se não fosse possível tais liberdades, uma vez que, na perspectiva dele, acabara de conhecê-la.

Por mais que ela tivesse amor em seus olhos, que sua linguagem corporal fosse convidativa, ele sentia que seria um atrevimento extremo certas proximidades, como encostar o nariz em sua pele.

Outro motivo era que até aquele dia, ele estava extremamente confuso, não sabia se recuperaria o amor que um dia sentiu por ela.

Não queria fazê-la sofrer, ainda mais dando-lhe falsas esperanças. Não queria que crescesse a intimidade entre eles para depois constatar que não funcionava e assim quebrar ainda mais o coração de Sanem.

Mas não era mais assim, ele começou a perceber isso quando ela deixou a cidade para se refugiar por uns dias em uma pousada.

Ele fora ao seu encontro, passando uma noite com ela na praia. E agora, apenas nessas poucas horas sem ela, percebeu que não ter Sanem ao seu lado, sob os seus olhos, trazia um vazio em seu coração.

Decide então, discretamente, procurá-la pela empresa. Perguntaria a um funcionário que não fosse tão próximo deles, alguém mais neutro.

Dando um tapa em suas pernas, com quem diz : "Touché", é isso mesmo que farei", Can se levanta, sai de sua sala, lança um olhar de 180º e diz para si mesmo: "À procura da minha Sanem". "Sua Sanem?", diz a sua voz interior.

Can reflete por um instante, lembra do dia em que acordara no hospital e ouvira de Sanem: "Sua Sanem", então Can assenti com a cabeça e repete: "Minha Sanem".

Ele sorri com um sorriso curto, unilateral, de canto de boca  e prossegue.

Pergunta de forma aleatória para um ou outro funcionário, olha algumas salas, e, por fim, desce as escadas.

Nesse momento, ele tem alguns flashes de dias em que saiu atrás dela pela empresa. Junto com os flashes vêm também as lembranças dos pensamentos e os sentimentos.

Ele tinha a intenção de procurá-la nos arquivos e percebe que a urgência em colocar os olhos sobre ela era a mesma, isso intensifica a sua necessidade por estar com ela...

A voz de Sanem, o aroma de Sanem, o olhar de Sanem, o toque de Sanem....Sanem, Sanem, Sanem... A mente dele pulsava com tais lembranças e pensamentos...

"Então é nos arquivos que você costumava se esconder de mim, hem, senhorita Aydin?", diz Can.

Ao entrar na sala, Can passa os olhos ao redor, coloca as mãos na cintura e olha para o chão em total frustração e desamparo. Ela não estava ali.

De repente, seu coração acelera... Cenas deles nessa sala começam a saltar diante dos seus olhos, não muitas, mas o suficiente para gerar nele duas reações opostas: alegria e lamento.

Alegria por ter lembrado de mais alguns momentos deles. Lamento e tristeza pelo desfecho não ter sido o mesmo. Dessa vez, ela não estava ali.

Final Alternativo da série Erkenci KuşOnde histórias criam vida. Descubra agora