Domingo às 07:49 no Sanatório Blackwood, Oxford (Inglaterra).
Meu adorado diário, mesmo depois de estarrecer neste recinto por um castigo criminoso, não poderia deixar de mencionar mais um acontecimento. Por dentro estou melancólico. Temo não ver mais às ruas movimentadas de Oxford ou rever meus apreciados companheiros.
Não consigo mais sentir a sensação de ser livre. As lembranças se tornam cada vez mais vagas e meu coração lapidado por variados fundamentos.
A dor está mais presente, perante os dias que parecem intermináveis, temo não aguentar por muito mais tempo. Quero deixar registrado essas palavras para que, após minha morte, alguém possa encontrar e entender tudo que ocorreu no meu íntimo.
Na madrugada da noite anterior, havia sido a mais cômica da minha vida, mesmo após a minha falha tentativa de escapar do sanatório. Os bramidos soltados por Jack durante toda a escuridão nas altas horas do ápice noturno, foram um canto para meus sentidos.
Suas súplicas implorando por liberdade foram ouvidas várias vezes. No silêncio mais escuro, onde eu estava apenas com minha caneta esboçando as letras que decifram meus pesares, sendo interrompido por ele inúmeras vezes, quase perdi minha paciência por sua inquietude e descontrole.
Após deixar de pedir socorro, sua única atração foi dialogar com seu inimigo, isso iria tranquilizá-lo. Seu andar de um lado para o outro é extremamente irritante. Sua mísera opção é juntar a mim. Sentou ao meu lado questionando minhas habilidades na escrita:
— Como consegue? — Exterminou o silêncio.
— O quê? — Continuei minhas anotações.
— Não se desesperar nesse silêncio, com esse quarto fechado. Escutando apenas sua voz ou nada, às vezes. — Se questionou.
Pausei meus registros por alguns instantes, talvez eu tenha que ensiná-lo a lidar com isso. Eu sei, Jack não merece nenhuma consideração que eu venha a ter, mas certas coisas são verdadeiras monstruosidades superando qualquer fúria.
— Esta não é a primeira vez que me colocaram aqui, tudo se tornou mais fácil depois do início. — Recordei dos instantes antes de continuar. — O meu primeiro dia foi macabro. Meu peito apertava enquanto faltava ar e antes que eu pudesse pedir ajuda. Claro que ninguém iria me salvar, estava sozinho naquela época.
— E por que você veio parar aqui antes?
— Achou que aquela noite foi a primeira vez que tentei fugir? Talvez tenha sido a última. Não sei se consigo ter vontade ou qualquer otimismo. Ninguém nunca saiu daqui, por que eu conseguiria? — Interrogo a mim mesmo.
— Não pense que viramos amigos. — Interpelou.
— Não achei que aconteceria. — Debochei do momento.
— Prometo que dá próxima vez que tentar fugir, não vou te impedir. — Se desculpou.
— Não vai ter próxima vez, me sinto esgotado. — Reconheci.
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Meu Querido Psiquiatra - Romance Gay (Degustação)
RomanceCômodos estranhos, pessoas não normais e um querido psiquiatra. David Quincy é um jovem rapaz cuja vida foi brutalmente interrompida pela ambição de sua madrasta, Renee, levando-o a ser internado em um sombrio sanatório chamado Blackwood. Após anos...