Lágrimas de Inverno • {jikook}

08 | O Sorriso de Verão

O Verão estava demorando para chegar naquele ano.

Com a primavera durando mais tempo do que de costume, Jimin — que aprendera a gostar bastante de conversar com seu amigo humano — tagarelava livremente no banco da praça ao lado de Min Yoongi. Balançava as pernas como uma criança e gesticulava intensamente, crente de que a atenção do humano lhe pertencia ao que dissertava, mais uma vez, sobre o amor avassalador que sentia por suas flores. Mesmo que não fosse só na primavera em que as flores abriam, porque Jimin sempre deixava um pouquinho de sua energia em todos os lugares. Todavia, a cada troca de estação, a grande maioria delas morria, tendo ou não cumprindo seu papel. Primavera era fertilidade, afinal.

Como sendo a própria Primavera, ele acabava por tornar-se deveras narcisista quando aquele era o assunto. E quem o culparia? Eram realmente lindas. Não havia como culpá-lo por tanto gostar de Yoongi, também, embora às vezes o humano se distraísse de seus falatórios — supostos diálogos que mais soavam como monólogos. E em verdade, era compreensível, já que em toda a existência de Primavera, Yoongi era o único com quem ele podia conversar por tanto tempo em seu período de permanência — ou seja, seus três meses. De qualquer forma, não era só Jimin que quando entrava em algum assunto de sua preferência, disparava a falar; o jovem Yoongi fazia o mesmo e nunca se arrependia.

Ele gostava de ouvir Jimin, afinal, ainda que quando distraído só conseguisse escutar a voz doce de Primavera e, às vezes, ver o sorriso sutil ameaçando tomar forma nos cantos dos lábios cheios (que mal se erguiam), enquanto Jimin derramava animadamente as palavras sobre ele, como uma cachoeira.

Além do mais, Jimin não tinha muitas outras opções de companhia para uma prosa, já que só o que ele podia fazer quando via Verão ou Inverno era cumprimentá-los, e logo, se despedir. Yoongi não podia saber que houvera o tempo em que Primavera e Inverno podiam trocar mais do que somente uma dúzia de palavras e beijos tenros. E além do humano, Jimin só conhecia Inverno e Verão, respectivamente, seu antecessor e seu sucessor. Portanto, nunca havia nem visto Outono. Do mesmo modo, Inverno e Verão nunca haviam se conhecido; apenas sabiam da existência um do outro. Eram as extremidades opostas do ciclo, e não havia como se encontrarem. Jamais se encontrariam.

E por algum motivo, Min Yoongi era a Singularidade. Ninguém parecia saber por que motivo o humano era o único mortal capaz de enxergar, tocar e interagir com as Estações. Como possuíam bastante tempo livre em sua permanência, não demorou muito tempo para que todos os quatro se apegassem a ele e passassem seus três meses em Nova York seguindo-o e acompanhando-o. As Estações peregrinavam, viajando todo o mundo e ficando somente poucos meses em algum lugar específico — não levou muito tempo para que o jovem entendesse e aprendesse a adorar suas histórias e as experiências que lhe contavam.

Entretanto, nada disso importava muito. O que realmente tinha importância era o fato de que Yoongi se tornara amigo de todos eles e desde então passava grande parte de seus dias conversando com a Estação da vez. Contudo, por mais que amasse Outono e Primavera como irmãos e o pequeno grande Inverno como seu melhor amigo, seu coração pertencia ao Verão, por quem havia se apaixonado desde a primeira vez, quando Jimin lhe apresentou aquela entidade cujo sorriso brilhante iluminava a alma de qualquer um.

— Yoongi! — Jimin resmungou, sua mão pequena puxando a manga do suéter verde do humano, que sequer percebera que havia mergulhado em seus próprios pensamentos, e levou alguns segundos para conseguir emergir.

— O que foi? — perguntou, com a voz suave.

Jimin era sensível e a penúltima coisa que queria era vê-lo triste — a última era ser a causa de sua tristeza. Virou-se para encarar Primavera e deu de cara com sua aparência estonteantemente desumana mais uma vez. Não era tão difícil de acreditar que todos eles eram entidades da natureza, de força cósmica, quando tinham beleza tão surreal.