Vencedor do Mês
Autor: Brinn
Email: brinn_k@hotmail.com
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— ... e por estas flores e polas aves que cantam d'amores, por que ando i led'e sem cuidado; e assi faz tod'ho-...
Crash!
O repentino estrondo interrompeu o jovem que cantava ao som do alaúde. Correndo até a janela, ele inclinou o corpo para fora, a tempo de ver uma sombra fugindo na direção dos estábulos.
Sem pensar duas vezes, ele saltou para fora, pousando com leveza no chão ao lado do banco de madeira quebrado e, ainda com o instrumento de cordas em mãos, seguiu atrás do não tão misterioso espião. Entrando no estábulo sem a menor pressa, ele parou para cumprimentar o cocheiro que o encarou num misto de surpresa e confusão, confirmando ainda mais suas suspeitas.
Caminhando lentamente pelo interior da construção de madeira, ele parou diante dos montes de feno, dizendo com falso pesar:
— Oh amiga palha, me pergunto para onde poderia ter voado o passarinho que me ouvia cantar...
— Heh.
Ouvindo a risadinha abafada, o jovem cantor se virou, fingindo se afastar antes de abruptamente se jogar de costas sobre um dos montes mais suspeitos.
— Ei! — O menino escondido ali embaixo se assustou com o peso que caiu sobre ele, tentando empurrar o mais velho para longe, mas sem sucesso. — Sa-sai de cima de mim!
— Oh amiga palha, ouça minhas preces, tu vistes o passarinho que me ouvia cantar?
— Jo-joão! Pare com isso! E-eu não con-consigo respi-rar! — O menino continuou se debatendo cada vez mais desesperado, porém, incapaz de se libertar.
— Oh amiga palha, tu é capaz de me responder afinal, para onde foi o passarinho que me ouvia cantar? — O jovem de cabelos escuros enfim se virou com um sorriso levado no rosto, permitindo que seu irmãozinho enfim saísse dali debaixo.
Após se recuperar de um acesso de tosse, mas ainda com a respiração ofegante, o mais novo lhe lançou um olhar fulminante.
— Oh meu caro passarinho, o que tanto te irritas? — João perguntou sem deixar o sorriso vacilar.
— Por que você fez isso!? — O mais novo respondeu indignado.
— Eu é que pergunto Afonso, por que você estava me espiando tão furtivamente?
Ouvindo a acusação, o garoto de cabelos tão escuros quanto seu irmão sentiu as bochechas esquentarem. Era óbvio que ele havia percebido.
— E-eu, eu-...
— Se querias tanto assim me ouvir, era só ter batido a minha porta. — Erguendo a mão livre, o mais velho bagunçou os cabelos de seu irmãozinho, tirando algumas palhas que se enroscaram neles.
— Mas... A mãe disse para não te incomodar. — Afonso desviou o olhar, mordendo os lábios.
— Meio tarde para isso, não acha? — O rubor nas bochechas do mais novo aumentou ainda mais com essa declaração, fazendo João gargalhar. — E então, queres ouvir ou não uma canção?
— Pode ser...
— Certo, deixe-me ver. Onde eu estava mesmo? — Passando as mãos sobre as cordas do alaúde, o jovem se sentou sobre um confortável monte de palha, dedilhando a mesma melodia de antes enquanto seu irmão se ajeitava não muito longe, ansioso para ouvi-lo.
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Competição dos Criadores (Março - 2020)
Ficción GeneralTemas do Mês: Medieval e/ou Escape Room