Lighthouse V

97 26 2
                                    


Quando MoonBin havia começado a chorar? Notou apenas que soluçava alto e tremia assim que terminou de ler a carta.

Estava em choque, o que havia acabado de ler? O que EunWoo havia acabado de o escrever? O que era aquele desenho? O que eram aquelas lágrimas? Eram tantas perguntas e nenhuma resposta.

Quando se deu por conta, já estava sentado sobre a grama coberta de neve, abraçando suas pernas e chorando mais e mais. Apertava as folhas em sua mão, não estava digerindo aquilo, era como se seu corpo recusasse a ter aquela informação e botava pra fora por meio de lágrimas.

Ele se lembrou, EunWoo falou sobre ter coragem, e se ele ainda não tivesse tido a coragem para colocar um ponto final na carta que escrevia todos os dias conforme vivia?

Se levantou completamente alterado, começou a correr até as escadas, as subiu sem prestar atenção se havia alguém por perto, apenas precisava chegar na última rua do distrito.

O caminho de pedregulhos parecia tão longo agora, parecia nunca chegar na última rua, parecia que estava correndo eternamente para não chegar em seu destino, mas logo chegou, ficando completamente atordoado.

Só havia uma casa na última rua, a casa que havia entrado da última vez. Tentou andar mais adiante, mas não havia outras casas ou rua, não havia mais nada depois da última rua. Aquela era a casa, não tinha dúvidas.

Novamente a porta estava destrancada, já não havia luz suficiente para enxergar corretamente, estava entrando aonde exatamente?

Olhou o primeiro cômodo era uma sala, completamente empoeirada com móveis gastos. O segundo era uma cozinha, panelas sujas e abandonadas, não havia nada de interessante por ali além de uma mancha no chão, uma mancha seca e antiga. Provavelmente alguém deveria ter derrubado molho de tomate e nunca mais limpou.

O terceiro cômodo era um quarto de casal que, apesar de empoeirado e abandonado, estava com uma organização impecável, como se de fato tivesse sido arrumado antes de ir embora.

O quarto cômodo era um banheiro, novamente um cômodo organizado com uma mancha no chão. Se bem que... Havia um traço, um pontilhado na verdade, vários pinguinhos que ligavam a cozinha até o banheiro. Tinham derrubado o molho e vieram se limpar?

O último cômodo era o quarto onde havia encontrado o desenho, mas... Nada estava da mesma forma de quando ele veio na primeira vez. O chão estava manchado, bem manchado, e quando pensou perder sua visão por conta da escuridão, um poste se ascendeu. Era possível aquilo funcionar ainda?

As manchas agora pareciam mais vivas por estarem no claro, e simplesmente identificar as manchas foram o suficiente para gelar MoonBin completamente. Aquilo que manchava o chão desde a cozinha era sangue.

Começou a revirar o quarto, olhou os lençóis, abriu as gavetas, olhou o armário, mas logo esqueceu de olhar o mais óbvio para esconder algo.

De baixo da cama havia algumas cartas, o caderno com páginas –agora todas– arrancadas que viu da primeira vez, pincéis, aquarela, um amontoado de papéis e uma folha separada. Pegou de início a folha sozinha, abandonada do restante, e viu uma caligrafia completamente desconhecida por si, ninguém que conhecia escrevia tão redondo assim.

Filho, ou melhor, DongMin, você sabe quem está escrevendo isso.

Lamento por ter que receber essa carta assim, mas eu e seu pai não retornaremos. Conseguimos um emprego bom aqui, porém é muito longe de casa e não teríamos como ir e voltar, portanto compramos uma casa por aqui.

Você é um menino inteligente e sabe se virar, acreditamos que você não vai fazer nenhuma besteira sem nós, acreditamos em você e em sua vida, espero que venha nos visitar (endereço no verso) e que consiga achar uma namorada logo.

- Mamãe e Papai
Senhora e Senhor Lee

MoonBin virou a página, ainda desacreditado que aquela carta era de pais que abandonaram "DongMin" na cara dura. Havia de fato um endereço ali, porém... Havia uma caligrafia conhecida ali. Uma caligrafia bem mais do que conhecida.

Poxa, que pena que vocês nunca vão receber minha resposta pois nunca vou envia-la.

Ah, como eu sempre odiei meu nome verdadeiro, ele me lembra vocês, me lembra como fui abandonado por vocês, me lembra desta prova que tenho em mãos agora que confirmam que vocês de fato me abandonaram sem pensar em mim. Eu sou filho de vocês, como conseguem ser tão insensíveis?

Bom, ao menos eu me formei na escola, mas diferente de meu amigo eu não tenho um trabalho ou emprego, agora sou apenas um garoto formado. Ah, eu não contei pra vocês, depois de 19 anos eu finalmente fiz um amigo, mas... Eu vou o abandonar, me sinto extremamente egoísta por isso mas eu não aguento mais.

Eu não aguento mais, 19 anos sem amor, sem atenção, sem carinho, sem palavras de apoio, fui criado para ser um artista e sempre conseguir fingir perfeitamente que estou bem, finjo tão bem que nem meu amigo notou. Espero que não o faça sofrer, afinal eu me importo mais com ele do que vocês se preocuparam comigo por 19 ANOS!

- Lee DongMin
Ou como eu prefiro, para não me lembrar de vocês
Cha EunWoo

Cha EunWoo... Era isso, aquela letra era de seu precioso EunWoo. Em desespero colocou a mão de baixo da cama novamente e puxou aquele amontoado de papeis e pegou um aleatório para ler. Era a carta que trocava com ele. Todas eram as cartas que MoonBin trocava com EunWoo.

LighthouseOnde histórias criam vida. Descubra agora