terceiro

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            Uma semana tinha se passado desde o ocorrido, e a vida de Minho tinha virado de cabeça para baixo. Não só Changbin, mas todos os seus amigos da Sonserina tinham lhe virado as costas. Estavam decepcionados com o garoto por ter jogado tão sujo, e Minho sentia como se tivesse desapontado seus pais, uma culpa pesada demais para levar no peito. Hyunjin estava lá para apoiá-lo, trazendo Felix a tiracolo, e os dois se esforçavam para animar o corvino. Mas nem os treinos de quadribol pareciam o colocar pra cima.

Falando em quadribol, Minho mal reconhecia Jisung em campo. Antes, o sonserino parecia zombar de seus adversários, mas nos jogos recentes ele encarava a todos com amargura, sequer ria debochado quando seu time tomava a liderança, principalmente nos jogos contra a Corvinal.

Quando a casa azul e prata entrava em campo contra a Sonserina, a raiva de Jisung parecia aumentar. O garoto mirava todos os balaços no apanhador, que por pouco não se machucava seriamente, não que ele não merecesse. O Han mal o olhava, mas concentrava toda a sua força em jogar a bola contra Minho, e quando ele escapava, Jisung voltava a mirar nele. E não era como se o Lee não tentasse falar com o mais novo, porque ele tentava e muito. Quando saíram as notas dos NOMs o garoto queria contar ao sonserino que conseguira um 'excede expectativas', queria acompanha-lo em seus estudos e apostar algumas cervejas amanteigadas que o garoto iria bem em seus testes.

Depois de mais de um mês desde a discussão, o último jogo daquele ano letivo chegou. A final seria, surpreendentemente, Corvinal, que ganhara da Grifinória, e Sonserina, que vencera a Lufa-Lufa. Ambos os times entraram em campo embaixo de uma chuva pesada, mas que não desanimara os torcedores. Hyunjin estava na arquibanca junto de seu namorado e Seungmim, todos com os rostos pintados de azul e branco. Changbin também estava na arquibancada, mas era o único ali torcendo para a Sonserina.

Os jogadores se posicionaram em suas vassouras, e com o apito da professora Hooch e as bolas sendo liberadas na quadra, a partida do ano havia começado. O artilheiro da Sonserina levava a goles, sendo seguido pelos corvinos e os batedores de seu próprio time. Minho, assim como Sana, buscavam o pomo de ouro pelo campo. O Lee, quase ao mesmo tempo que a apanhadora sonserina, localizou a pequena bola, e lançou sua vassoura para o alto afim de alcança-la. Nesse meio tempo o jogo já tinha virado 20 contra 40 para a Corvinal, e os alunos iam a loucura nas arquibancadas. Cachecóis azuis eram balançados no alto, contrastando com os verdes.

O jogo ia passando, gols sendo feitos por ambos o time, apesar de Sonserina ter virado o placar e levando a dianteira. Minho continuava em busca do pomo, vez ou outra tendo que esquivar de um balaço jogado nele, com a raiva característica de Jisung. O sonserino estava lindo com o uniforme de quadribol e a expressão de concentração, mas o Lee tentava não pensar demais nisso. O placar já chegava nos 200 pontos e nenhum dos apanhadores parecia perto de alcançar o pomo.

Até que Minho viu um pequeno ponto dourado a poucos metros de distância, e foi voando em direção a ele, sendo seguido por Sana, que não chegava perto da vantagem que o corvino tinha na velocidade e proximidade da do pomo. O garoto o estava quase alcançando quando viu, pela visão periférica, um balaço indo na direção de Jisung, que não parecia ter notado a bola. Por alguns instantes, o cérebro de Minho deu um pane.

"Se o balaço pegar nele, nessa velocidade, ele pode se machucar feio. Mas eu estou tão perto de pegar o pomo e ganhar a taça das casas. Mas você partiu o coração dele por causa dessa taça. O coração dele já está partido, vai pra cima do maldito pomo"

Nem Minho parecia acreditar em sua própria escolha, mas ele bruscamente mudou a direção de sua vassoura e foi para cima de Jisung, que com o susto se afastou e, consequentemente, saiu da mira do balaço. Infelizmente o corvino não teve a mesma velocidade e foi atingido pela bola com tamanha força que caiu de sua vassoura, indo direto para o chão. Poucas vezes Minho tinha chorado, mas seu braço doía tanto que foi impossível conter as lágrimas doidas que lhe escorriam dos olhos. Ao mesmo tempo que o garoto se chocava com o chão Sana alcançava o pomo, levando a vitória para a Sonserina. E com o término do jogo, Madame Hooch e seus companheiros de time o levaram para a enfermaria, mas Minho pode ver Jisung descendo de sua vassoura e se juntando ao outros alunos preocupados que tentavam seguir os corvinos e ver o que havia de errado com o apanhador.

No fim, Minho tinha ganhado um belo braço quebrado, que não poderia ser consertado com um simples Braquium Remendo. E assim Minho passou o resto da semana, deitado num dos leitos da enfermaria e sendo paparicado por seus amigos. Jeongin fizera questão de mimá-lo com doces, enquanto Hyunjin fez o favor de fazê-lo companhia e roubar os doces que o Lee ganhara de presente. Changbin também acompanhava os dois, dizendo que perdoava o corvino somente porque ele tinha feito sua casa campeã daquele ano, mas todos sabiam que não era só isso. Uma amizade feita no vagão do trem é pra ser levada para a vida toda.

Mas a visita que Minho mais esperava não tinha vindo. Chan tinha passado por lá para agradecê-lo pela vitória final em seu último ano. Felix também tinha dado as caras por ali, mas jurava de pé junto que não era por causa de Hyunjin. Seungmin, seus colegas de casa, todos tinha ido visita-lo, menos Jisung. Porém ele tinha mandado pequenos bolos de caldeirão, o que Minho levou como um bom sinal. E no dia do baile de formatura, o Lee foi levado da enfermaria por seus dois melhores amigos direto para a Sala Precisa, que o grupo tinha transformado em um salão de beleza improvisado para se arrumarem para o baile. E, algumas horas depois, os garotos saíram de lá arrumados e perfumados, prontos para o baile. Quer dizer, Minho ainda tinha um gesso para dar o toque final em seu visual, mas ainda assim estava elegante.

O Salão Principal tinha sido completamente rearranjado, dando espaço para uma pista de dança repleta de alunos dançando com seus pares. Hyunjin não demorou a tirar Felix para uma dança, e Changbin também não levou muito tempo para ir atrás da comida, deixando Minho meio desajustado. Muitos colegas o paravam para perguntar do braço e desejar melhoras, alguns amigos o infiltravam na conversa, mas seus olhos não paravam de varrer o lugar, procurando uma pessoa em especial.

E Jisung apareceu na base da escada, vestindo um terno verde-escuro que lhe caia como uma luva e os cabelos num tom de loiro diferente do castanho usual. E ele nunca esteve tão lindo para Minho. Ele andava pelo salão como um anjo caminharia sobre as nuvens, e o corvino sentia que estava chapado pela bela visão que o mais novo era. Por isso que foi surpreendente quando, além de surgir na sua frente, Jisung lhe tirou para uma dança.

-M-mas, o meu braço...

-Você tem dois exatamente pra não usar essa desculpa.- e o sonserino sorriu, daquele jeito que o deixava com os olhos fechados, e ali Minho soube que estava tudo bem.

E Jisung o levou para o centro da pista de dança, segurou sua cintura e os dois balançaram no ritmo da música que tocava. Hongjoon sorriu para ele enquanto girava sua parceira, e Changbin fez um sinal de positivo a distância.

-Sabe Minho, não é qualquer um que leva um balaço por você. E eu aprecio isso.

-Pfft, eu não levei um balaço por você. Alguém azarou a minha vassoura e me jogou pra cima de você, eu não entregaria o jogo na sua mão.

-Claro que não, a não ser...- rodopiou o garoto e o puxou para mais perto.- Que você esteja caidinho por mim.

-Não seja bobo, eu não estou caidinho por você...

-Uma pena Minho, porque eu estou.

-Caidinho por mim?

-Claro, ninguém se dispôs a me ensinar um feitiço tão bem como você. Sejamos sinceros, o Chan não tem uma didática tão boa assim.

E os dois riram, mas Minho não perdeu tempo em beijar o sonserino, que retribuiu na mesma hora e intensidade que o corvino. O gesso atrapalhava os dois em colarem seus corpos, mas isso não pode os interromper. E os dois sorriram e continuaram dançando até a música acabar, e se amararam até a noite acabar, e ficaram juntos por uma vida inteira. E sempre que Minho lembrava da escola, lembrava daqueles bons tempos que passou. O quadribol, os feitiços, cada lugar daquela escola que ele explorou e cada pedaço de Jisung que ele conheceu e amou. E em seu último ano Minho gabaritou seus NOMs, tirou um 'excede expectativas' nos NIEMs e ganhou a taça das casas. Mas claro que isso não tinha nada haver com Jisung o ajudando a estudar, ou o fato de ele ter "sem querer" jogado um balaço muito perto da apanhadora do seu time, a distraindo e dando vantagem para a Corvinal.

E, lembrando dos tempos de escola deitado com Jisung, na casa que os dois dividiam com seus gatos e samambaias, Minho tinha certeza de que o amor de Han Jisung valia muito mais do que mil pomos de ouro.

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