scarlet memories

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O lápis passava calmamente pelo papel, formando um esboço de um rosto feminino. Quanto mais traços ela fazia, mais uma imagem ficava clara na mente dela. Seus sentimentos guardados se transformando em arte, a mais pura forma de expressão. Nunca sabia ao certo no que seus desenhos se tornariam, deixava sua inspiração levá-la aos cantos mais profundos do seu coração, cantos que antes estavam trancados e esquecidos. Cinco portas com laços vermelhos amarrados nelas, traumas que ela conseguiu superar e aceitar como parte sua vida, memórias de luta que a fizeram ser quem é. A arte havia a ajudado a lidar com tudo, porém ainda tinha uma porta, maior que todas as outras, com um grande cadeado vermelho no fundo do seu corredor mental. A memória mais sofrida e guardada de todas, uma que estava ela se esforçando para liberar, para substituir o último cadeado escarlate por uma fita de mesma coloração.

Não sabia quando os laços vermelhos começaram a significar tanto a ela, mas ela os associava com força, perseverança e perdão, o que mais precisou durante o início de sua adolescência. Ela havia passado por muitas coisas que uma adolescente de 16 anos não deveria ter tido que lidar com, mas continuou positiva e olhando o mundo e situações pelo lado otimista, mesmo quando parecia impossível. Fortalecida pela simbologia que a fita significava a ela, usava uma todo dia no cabelo loiro, como uma marca externa de todas as cicatrizes no seu coração. Ela esperava que o motivo por tamanho significado estivesse atrás da porta trancada e que, quando conseguisse derrubar esse muro, tudo ficasse mais claro.

Nem percebeu quando terminou o desenho, ainda em grafite. Uma jovem vulnerável com os olhos fechados e cabelos ondulados soltos ao vento. No meio de sua testa havia uma fechadura profunda. Ela estava com a mão sobre o coração e vestia um vestido branco simples. Tinha um sorriso esboçado no rosto, mas várias lágrimas caiam pelo seu rosto como diamantes. Uma fita voava, contornando-a e, mais atrás dela, uma figura masculina segurava uma chave em suas mãos, com a fita se enrolando em seu pulso como uma pulseira. O jovem não tinha detalhes, era somente o seu contorno, como uma grande sombra, mas dentro dela tinha um menino de costas com uma outra fita amarrada no seu cabelo curto. O seu produto final fora esse, o que causou um calafrio percorrer a espinha dela. Ela havia se desenhado pela primeira vez em anos. Uma dor se alastrou pela sua cabeça, fazendo-a colocar a mão suja de grafite na testa. Era assim que ela se via, como seu subconsciente se reconhecia. E quem era o vulto com a chave para seus pensamentos bloqueados? Teria sido ele antigamente aquele garotinho? Qual seria a pista que ela havia dado a si mesma?

A dor de cabeça só aumentava, latejando e fazendo os olhos dela arderem. A enxaqueca causada pela tentativa de desbloquear traumas. Aquele menino tinha ligação ao último trauma e ela havia tentado resgatar a lembrança inconscientemente. A menina loira respirou fundo e fechou o caderno, colocando o desenho feito em uma folha avulsa dentro de alguma das várias páginas. Mais uma vez ela havia tentando abrir aquela fechadura, falhando miseravelmente.

— Yukki-chan! – ouviu uma voz doce a chamando e olhou para o lado. Dois olhos amendoados a encaravam complementados por um belo sorriso. – Vamos, eu já troquei de roupa. - Yachi esticou uma mão para ajudar a outra a se levantar.

Miyazaki Yumiko e Yachi Hitoka eram amigas há dois anos. Conheceram-se pois suas mães trabalham juntas e desde então são inseparáveis. A mais baixa sabia da condição com as memórias da menina e sempre estava lá para ajudá-la e apoiá-la. Yumiko estava tendo muitas enxaquecas naquele mês por conta do último trauma, por isso começou a ir para a casa da amiga depois da aula, para impedir mais dores e, caso chegue ao extremo, ter alguém para levá-la ao hospital. Essa era a primeira semana que estavam testando isso e as dores de cabeça haviam diminuído drasticamente. Como não tinha muito tempo sozinha com suas fitas vermelhas e memórias trancadas, a porta maciça estava mais calma. Naquela quarta feira, porém, a maior não tinha nenhuma atividade do clube de arte ou aula extra, portanto acompanharia Yachi e ficaria no clube de vôlei até dar o horário de irem para casa.

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