Maitê
A mente confusa provoca certa sobreposição de pensamentos e sensações. O medo me atormenta profundamente. Um formigamento toma meus membros inferiores, aterroriza-me a ideia de ficar paralisada. Lágrimas umedecem os meus olhos. Diante de mim, delineia-se a imagem feroz do médico arrogante e machão que me salva pela segunda vez, em menos de duas semanas. Carlinha iria achar que isso é coisa do destino, mas não consigo escapar do horror pelo que estar por acontecer.
Estamos no fundo de uma picape, em direção à Brejo Negro. Eu, doutor Otto, Ademir e Luquinhas, moradores da Beirada, que, com afinco, seguram a madeira em que estou presa, para que não escorregue no assoalho do veículo. Agradeço por estar viva. Fecho os olhos. Lágrimas escorregam pelos cantos e outra onda de fraqueza e frio toma o meu corpo. Tremo.
— Não sinto as minhas pernas...
— Hein, calma, Maria Teresa. Vamos lutar para que fique tudo bem. — Otto tenta animar-se e sua voz sai cadenciada, num timbre grave. Com a ponta do dedo, ele apara uma de minhas lágrimas. —Vou te dar algumas medicações, te estabilizar e levar para o hospital de Mundo Verde, para fazermos exames de imagens. Não se precipite em suas conclusões. Não torne sua mente a sua inimiga. Os seus pensamentos precisam ser o seu aliado nessa hora.
Balanço a cabeça de forma positiva, mas desabo.
— Estou com medo... — confesso com a voz embargada.
Otto suspira. Fita o horizonte, em busca de nossa localização. O carro segue devagar. Em seguida, ele orienta os rapazes para serem mais firmes no ofício de não deixar a maca improvisada escapulir, ficando de pé. Com destreza, dá alguns passos no sentido da dianteira da carroceria, bate no teto da cabine, chamando atenção do motorista.
— Vá um pouco mais rápido, mas evite buracos — ele orienta e pede o seu aparelho celular.
Seus movimentos seguros, tom de voz firme e aparência de touro em arena fazem meu cérebro fervilhar, como água em ebulição. Como esse homem surgiu em minha vida, em momentos tão cruciais? Não tenho respostas e nem as quero. O que desejo é voltar a ter uma vida normal. Otto liga para o hospital de Brejo Negro e passa instruções, demonstrando ser um cara duro em suas determinações.
Estou encharcada e suja de lama. O sono me convida para um mergulho onírico em sua vasta e confortável imensidão. Mas Otto me pediu para não dormir. Confesso que senti o odor da morte tentando atravessar as minhas narinas. Era como se navalhas também travassem a minha garganta quando despertei ali, parcialmente presa pela lama, com pingos da chuva a bater na minha face.
Por fração de segundos, imaginei estar dentro de um sonho. Só que logo a pele arranhada nos braços e rosto começou a arder, levando-me para a realidade do deslizamento. Até tentei escapar da chuva, mas foi quando me dei conta que não conseguia me mexer da cintura para baixo. Olhava para os lados, sem encontrar alternativa até que escutei a voz de Otto, o que me acalmou.
Enfim, tanto a morte como a paralisia não eram questões que transpassavam o meu cérebro há algumas horas, então, essas possibilidades me aterrorizam. Respiro fundo e o coração comprime o peito. Tento ser otimista, mas não consigo. Minhas pernas não se mexem mesmo que ordene, ainda que tente fazê-las se movimentar, nada acontece. Não sinto dor e nem os toques do médico.
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RomantizmO médico Otto Rangel é um homem forjado pelo ódio e pela brutalidade da vida. Otto perdeu Milena, a esposa grávida, há 8 anos. O médico tem um ódio mortal do deputado João Guerra Cruz, e essa é uma situação envolta por obscuridades e segredos. Otto...