A atmosfera que eu criei para Júpiter é semelhante a uma pintura do Van Gogh.
Sob o controle dos Re Gardios, o povo Jiparts não possuía mais autonomia. Dromo, o regente de Saturno destruiu Centrir e levantou uma base planetária logo em seguida. Com tudo que um Re Gardios necessitava para sobreviver a atmosfera perigosa de Júpiter. Por mais que sejamos irmãos de massa seus gases não são capazes de se manterem presos a densidade do meio por muito tempo.
Fomos expulsos de nossa região e mandados para a zona mais perigosa de Júpiter. O olho do pai. Não para morrer, mas para ficarmos presos e recebermos ordens quando for conveniente. O Plano de Dromo era possuir todos os planetas rochosos do sistema solar. E suas armas seriam nós. Sua fascinação pela matéria era doentia. Mas minha intuição dizia que sua ambição escondia algo mais.
— Todos na barca, rápido — Dizia um soldado de sua cápsula vital.
Seríamos enviados ao Olho do pai através de uma barca que atravessaria o mar de mercúrio, o grande Yoza. Seria uma longa e perigosa viagem. Ost Tol, tão fraco, assim como todos os soldados de Gasis, adentravam acorrentados a algo que chamavam de rocha. Foram tomadas nossas Filis e jogadas ao mar. Nada importava já que nossa honra fora roubada e jogada ao quatro raios.
Todos posicionados na barca preparados para partir. Meus átomos doíam ao serem esticados para dentro da rocha. Não podia me movimentar direito. A embarcação se deslocou e já sentíamos a natureza de Yoza. Estávamos sendo arremessados para lá e para cá. Um balanço contínuo e persistente. Não conseguíamos evitar a vertigem.
Quando finalmente nos acostumamos com o balançar desastroso eu matava meu tempo observando os seres viventes do mar. Catos, ser esguio e gosmento passeava calmamente pelo casco da barca. Fiorinhas pulavam para fora e explodiam, logo retornavam ao mar como pequenos átomos e se reagrupavam se tornando uma só novamente.
Não conseguíamos desligar os átomos sem nossas Filis para adentrarmos então toda nossa combustão estava indo para o além e ficávamos cada vez mais fracos. De tanto cansaço jurava ter visto o próprio pássaro de fogo entre as nuvens densas no céu.
Depois que as luas se inclinaram três vezes a Barca parou ligeiramente. O tempo passara rápido e mal sentia minhas caldas. Todos enfileirados foram saindo pouco a pouco da barca. O Olho do pai era um lugar hostil pra qualquer um. Ventos cortantes e tempestades de gás dominavam o lugar.
Guardas Re Gardios desceram da barca e tomaram seus postos. Iríamos ficar com nossas rochas rolantes por tempo indeterminado.
Um guarda Re Gardios tomou a frente.
— Eu sou Dardo, cuidarei de vocês. Silêncio asnos! Trouxemos apenas uma Filis, para que descansem. Terão que revezar e não adianta ligarem. Está desconectada da matéria explosiva.
Nos organizamos de forma que os mais fortes ficariam por último. Não sabíamos o que seria dali em diante. O futuro era incerto. Tudo o que éramos e tínhamos foi destruído. Eu decidi ficar por último para a Filis e dar espaço para os mais novos que possuíam átomos frágeis. Mal conseguia me sustentar flutuando. Seria esse o fim do grande Júpiter?
Ao chegar minha vez já quase evaporava aos ares. Tudo o que eu queria era me abrenhar a Filis e ficar por anos a fio. Dentro da Filis era desconfortável. Não era a minha. A que eu conquistei no ritual de nascença. Não conhecia ela e ela não me conhecia. Tentava me conectar mas era quase impossível. Não sentia o planeta já que estava desligada pra combate. Mas no fim fazia o mesmo trabalho. Descansava a minha mente. Me desliguei.
Enquanto eu estava em um descanso profundo os níveis de átomos estavam se comportando de formas estranhas. Minha consciência se ligou rápido e o medo veio em seguida. Fui expulsa da Filis. Ela girou descontroladamente e atingiu os soldados Re Gardios.
As rochas foram desprendidas de nossas caldas. Os Jiparts saíram todos flutuando. Não compreendia o que estava acontecendo.
Ost Tol vendo aquilo enxergou a possibilidade de uma ascensão e ordenou que todos voltassem para a barca.
— Levem a Filis junto, ela será necessária! — Gritava.
Eu não confiava nessa mudança repentina. Deveria ter uma explicação.
Mouzar chegara ao planeta. Eram nossos aliados. Mas como se desprenderam das garras dos Re Gardios não sabíamos. Começaram a se comunicar pelas nuvens do céu já que sua forma de dialogar era diferente das nossas. Eles emitiam as palavras que eram convertidas pelas nuvens e compartilhadas com as nossas consciências.
" Amigos Jiparts, não nos temam, somos uma pequena quantidade que não se renderam ao domínio Re Gardios, estamos fracos e viemos para ajudar como pudermos."
Isso todos entenderam mas na minha consciência uma outra voz se protagonizou. Ost Tol também ouvia.
— Sou o comandante, trago a notícia que recebemos sinais Adrakis vindo de um planeta azul.
— Como vocês encontram e não recebemos nada? — Questionou Ost.
— Eles ainda não nasceram no tempo Jiparts, isso é tudo.
Ele se desligou.
— Isso muda tudo. Eles não são nascidos em nosso tempo mas para Mouzar já existem. Como iremos dobrar o tempo e ir até o planeta azul? — Disse.
— Yzara, corra para a Filis — disse Ost Tol cansado.
Eu entendia seu plano mas temia a minha sobrevivência. A última vez que comprimimos uma Filis o Jiparts explodiu em várias nuvens.
— Não posso fazer isso Ost — Minhas palavras saíam amendrontradas — Não posso te deixar aqui.
— Eu cuidarei de todos, Yzara, sempre soubemos que na busca dos Adrakis teriam sacrifícios, nossos irmãos o encontraram, mas não podem ir até lá por hora, nós com nossas Filis conseguimos, por favor, vá na frente. Faça o seu dever.
Meu ser se encheu de algo que não sabia explicar. Não possuía nome. Não conhecia esse sentimento. Eu o olhei pela última vez. Entrei na Filis. Cada átomo meu, cada gás, foi brutalmente comprimido. Eu sabia que aquilo era necessário. Ost confiava em mim. Eu diminui. Sumi. Virei um buraco. Estava correndo tão rápido, sendo esticada tão rápido que mal conseguia me enxergar. Eu apenas mentalizei o planeta azul e lá estava ele. Vivi em sua órbita desde a pré história. Vi aquele pequeno planeta se desenvolver. Em questão de minutos. Eu sentia o Adraki. Ele nasceu. Eu vi ele.
Bati nele na verdade.
Estava sem forças. A atmosfera da terra era horrível. Estava me dissipando. Até que olhei um ser duro e palpável correndo na direção do Adraki. Não sei como mas me tornei ele.
Olhei para o Adraki e na tentativa de me comunicar saiu um barulho sem sentido. Tentei mais uma vez e por um buraco estranho saiu tudo o que pensei.
— Por favor — barulho estranho — Venha comigo.
— V-você não é minha tia...
O que era tia? Certamente não era eu.
— Não... eu sou Yzara.
Curiosidade: Os capítulos da Yzara são os que mais me deixam cansadas e empolgadas ao mesmo tempo. Não é fácil criar um mundo totalmente diferente.
Isso é tudo. Curta, comenta, e compartilha galera, ajuda muito no engajamento. Tô tentando melhorar a cada dia, tchau❤️
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Adrakis, filhos solitários
AventuraEnquanto o caos na terra estava apenas começando, a rebelião entre os mundos já denunciava uma guerra. Olum logo iria manifestar uma forma física, prestes a quebrar as dimensões. A promessa da chegada dos Adrakis já não confortava o seres interestel...