Prólogo

101 5 0
                                    

O suor que escorria parecia descer como uma
chama dançante pela testa, sentia-se febril, mas não
estava doente, era apenas uma das inúmeras reações
aos pesadelos da madrugada, estes que chegavam tão
sorrateiramente como lembranças sutis da Escola de
Magia e Bruxaria do Brasil, sonhos repletos de
saudade, que lentamente, tornavam-se cheios de
horror; sorrisos eram substituídos por carrancas, ou
até mesmo feições de choro, risos se rasgavam em
gritos, e tudo o que foi bom... Agora é ruim. Foi
com um estrondo alto o bastante para ser
ensurdecedor que despertou, as mãos apoiadas contra
o colchão velho e surrado de forma a sustentar o
corpo que se erguía por súbito, sentando-se enquanto
buscava normalizar a respiração, ofegava tão
pesadamente que sentia socos nos pulmões a cada vez
que o ar entrava e saía. Era sempre assim, quando
suas poções acabavam não conseguia ter uma noite de
sono normal, há uma semana não tinha mais do que
frascos vazios espalhados pelo quarto, então todas
as noites quando se entregava ao cansaço sua mente
se revirava em terror.
De frente para o espelho, o reflexo mostrava
um rosto feminino exausto, com olheiras visíveis
abaixo dos olhos, pele pálida e marcada à esquerda
com uma cicatriz que se estendia em um corte
vertical do maxilar até acima da bochecha, na maçã
do rosto. Lavava a face foragida com a água gélida
da pia para espantar qualquer resquício de sono, não
queria dormir novamente, e mesmo se tentasse não
iria ter sucesso. A princípio, esperaria até o
amanhecer para partir, nunca ficava mais de um mês
no mesmo lugar, era perigoso demais, priores poderiam estar na sua cola em qualquer região do
Bàdiu, e como já estava desperta resolveu sumir de
uma vez naquela mesma madrugada conturbada, ainda
mais pelo fato de ter um compromisso em Austral do
qual não deveria faltar… Afinal, havia jurado estar
lá.
Juramos.

As marcas da serpenteOnde histórias criam vida. Descubra agora