Capitulo 1

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Poderia ser considerado verão, mas o frio era o dono daquele lugar, a cidade de Campos do Jordão sempre foi conhecida por sua baixa temperatura e estrutura pitoresca, tal que atraía muitos turistas mágicos e juruás. No alto da colina, a escola para jovens bruxos parecia ser ainda mais agraciada com o clima refrescante naquele mês de janeiro, os alunos usavam alegremente suas capas e cachecóis ao perambular pelos terrenos descobertos do castelo,havia acabado as férias e estava começando o ano letivo; para alguns o começo, para outros a continuação, e ainda para aqueles que chegariam ao fim. Veteranos e calouros se misturavam, se encontravam ou se conheciam, era pura alegria ou nostalgia, mas nem todos se esbaldavam de tais sensações. Não importava de que casa você seria pertencente, muito menos se era novo ou velho naquela instituição, todos conheciam os alunos ausentes de qualquer interação ali... Os tatuados. Onde estavam? Muitos sussurravam pelos cantos que pudessem ter fugido, mas se isso fosse real, os noticiários já teriam anunciado, havia também os boatos de que foram presos após a conclusão do sexto ano, e mais uma vez, se isso tivesse mesmo acontecido todo o Bàdiu ficaria sabendo. O rumor mais aceitável era de que Boris Forte, o diretor da Escola de Magia e Bruxaria do Brasil, decidiu que fosse melhor para todos os oito terem aulas particulares, pois suas ilustres presenças poderiam causar desconforto ou distração entre alunos e professores. Mas e a verdade? Bom, a verdade não era nenhuma dessas hipóteses levantadas com base em fofocas. Os tatuados estavam há mais tempo no castelo que qualquer aluno, obviamente não por opção, mas para estes estudantes as regras não era mas mesmas; adolescentes comuns normalmente aprontam,seja por diversão ou até mesmo sem querer, mas no caso dos oito, não poderiam sair da linha nem um centímetro. "Outros alunos podem cometer erros, vocês não." Simples assim.Estariam sendo vigiados praticamente o ano letivo inteiro, não somente pelos superiores, estes seriam professores e o próprio diretor, mas também os estudantes intrometidos que os rondavam. A Casadas Serpentes sempre recebeu muita atenção com olhares, seja de admiração ou desprezo, e claro, era muito falada entre os corredores e salas de aula, oque trazia inúmeras acusações para seus membros.Falsas ou verdadeiras? Ambas, porém, a maioria era mera fantasia ou especulação. Tudo só piorou quando um grupo de amigos foram descobertos com tatuagens pelo corpo, e não uma qualquer como podem imaginar...Para aqueles que já participaram de alguma aula de História Mágica, sabem muito bem do que se trata. Ouroboros. Este símbolo causou grande desconforto dentro da escola, e fora dela também, muitos pais se recusaram a deixar seus filhos frequentarem as aulas enquanto aquele bando de marginais, como foram chamados, ainda estivessem por lá. 2019 já não tinha sido um ano fácil para Boris Forte, e pelo visto 2020 seria pior. Eram muitas as suas preocupações,mas a principal e atual se tratava daqueles aluno salvos de cochichos, mas os próprios também tinham suas angústias...Eram passos de oito que atraíam facetas de indignação de dezenas, ou até mais, estava nítido que quase todo o castelo não os queriam, mas estavam acostumados a não serem bem vindos, repugnância era quase um amigo íntimo dos oito desde alguns meses atrás, tão acostumados que nem mesmo sentiam-se incomodados quando procuravam um canto mais afastados ou trocavam de calçadas nas ruas. E agora,saindo as vistas depois de quase um papiro de regras, buscavam seus horários como todos e se dirigiam aos quartos. Antigamente, era só guardarem as malas e irem se divertir na Sala Comunal geral,esta que unia todas as Casas, isso acontecia até o quarto ano, no quinto as coisas começaram a ficar um pouco diferentes. Porém, naquele primeiro dia tentaram o máximo não levantar suspeitas, não ficaram trancafiados no quarto se comunicando somente entre si como há tempos já faziam,combinaram de se entrosar e misturar com os outros alunos após terem se instalado em seus respectivos aposentos, feito isso, seguiram todos para o cômodo que transbordava as quatro cores da escola, e mesmo não o adentrando em sincronia, ainda foi o bastante para que houvesse um silêncio repentino. O que antes parecia uma festa, se assemelhava mais a um funeral,era como se o ar tivesse peso, aos poucos o local era esvaziado, deixando espaço vago no sofá vermelho próximo à lareira para que coubesse os inseparáveis tatuados; Alexa, Thainá, Orfeu, Bárbara, Otávio,Suzana, Kauê e Catarina. Nomes que podem ser vagos para que não os conhece, mas não há pressa para se contar uma história, não é mesmo? Ainda mais oito!Bom, os poucos que restaram, como migalhas ao final de um café da manhã, eram todos companheiros de casas e uma dupla de esquilos. Amigos que não os julgavam. Mesmo não havendo problemas em serem massacrados em sociedade por não ligarem com a união de terceiros, mesmo assim, era reconfortante ter pessoas que não lhes destratavam ou discriminavam,muito menos questionavam. As conversas foram divertidas e leves, boas para que risos saíssem daquele lugar, que antes só faltava uma marcha fúnebre para completar o enterro invisível, até que o relógio atrapalhou, seis da tarde, horário de reunião na Sala Comunal das Serpentes.O encontro de boas vindas foi como sempre,Héctor Saião, Berlamina Fajardo e Alma Damas davam as boas vindas, claro que cada um do seu jeito, e repassavam avisos e regras que deveriam seguir, a maior atenção era dada para os calouros, enquanto os veteranos apenas relembravam e auxiliavam a sanar as dúvidas, mas outra coisa que faziam era se divertir com os olhos que refletiam puro medo da mulher negra e esbelta que tomava a frente a maior parte do tempo; rígida e ativa, ah... Essa era Alma. Mas sua excentricidade também a fazia ser admirada, até mesmo cobiçada entre os estudantes, de uma forma ou de outra, aquela mulher endiabrada sempre deixava uma marca no interior de cada um, seja positiva ou negativa. Quando o horário se adiantou, todos estavam dispensados para terem um tempo livre antes do jantar, e ao saírem daquela sala, trocaram olhares discretos. Desde que pisaram no castelo não tiveram tempo de conversarem, não sozinhos e como queriam, estavam aguardando o momento exato para isso, afinal se o fizessem logo de início seria óbvio, como também, se optassem por escolher a madrugada e o lugar de sempre seria mais que cristalino. Foram todos para o quarto de Catarina, até mesmo os garotos, que tomaram cuidado o bastante para não serem pegos no dormitório feminino, Alexa e Suzana já eram colegas da jovem há anos e se acomodaram em suas próprias camas da maneira mais relaxada e confortável possível, enquanto os demais,até mesmo sua gêmea, sentavam nas beiradas das camas que lhes eram dada a permissão.— Pronto? — Perguntou Orfeu ao ver Kauê sair de perto da porta após lançar um feitiço que abafava qualquer som vindo de dentro do quarto, assim ninguém ouvira nada do outro lado, tendo sua confirmação respirou aliviado.— Vamos direto ao ponto, se ficarmos sumidos os oito de uma vez e por muito tempo vamos ter algum professor nos caçando. — Sugeriu Bárbara, com certa impaciência, a verdade é que estavam todos irritado se até cansados com tamanha precaução. — Alguém quer desistir?— Não existe desistir, temos um pacto. — Havia uma sombra de tédio naquelas palavras, como se a questão fosse óbvia demais para ser discutida.— Podemos tentar dar um jeito, Alexa, calma. Não vamos obrigar ninguém a continuar com isso se não querem, pode ser pior do que já está sendo. —Catarina advertiu, fazendo a mais nova bufar e se calar a contragosto. Lentamente, seus olhos delineados desviaram-se para os amigos, como se esperasse alguma resposta. — E então?— Vou ser sincera, eu não sei mais... — Todos olharam para a garota de características indígenas, nem precisavam verbalizar, estava estampado o ponto de interrogação em cada rosto. — Vocês não tem dúvidas?! Gente... Quase fomos pegos! Se já viramos pessoas de interesse de investigadores pelo o que houve ano passado, imagina se soubessem de tudo?Thainá fez os amigos refletirem, mas não mudou a ideia de nenhum deles, apenas pensaram e se lembraram de uma das noites que saíram às escondidas por uma das passagens secretas, todos pelas ruas de Campos do Jordão a fim de se misturarem com juruás. O ar quase faltavam-lhe os pulmões, sentiam queimar e doer em um aperto como uma sucuri esmaga sua presa para quebrar os osso antes de devorá-la,corriam sem descanso e no mais puro desespero enquanto sirenes rodeavam os becos escuros. Alguém havia os visto na hora exata da desgraça, e aquilo quase foi o fim, se fizessem uso de magia para se livrarem da encrenca que se meteram seria pior, já estavam chamando atenção pela cidade há meses, mesmo que no anonimato, estavam alerta do que aconteciam por algumas noites; principalmente nas festas. Foi questão de descuido, afinal jovens pecam em muitas coisas, mas às vezes as consequências podem ser severas dependendo do grau do pecado. Não houve tempo para saber quem havia conseguido fugir, se esconder ou ter ficado para trás, foi apenas uma correria sem fim, qualquer buraco cabível servia para despistar os policiais não mágicos, causando alguns estragos nas roupas e até peles dos alunos de sexto e quinto ano,não foi nada fácil, levou cerca de uma hora e meia até os últimos subirem toda a ladeira até a Escola de Magia e Bruxaria do Brasil, quase se jogando ao chão por tão ofegantes e exaustos que estavam, seus irmãos de Casa que chegaram primeiro os esperavam encostados no muro, por sorte ninguém havia sido pego. Muita sorte! Aquele foi o último dia que saíram escondidos,ao menos, do ano de 2019.— O próximo passo com certeza vai ser mais difícil,se quase fomos pegos em algo que estava "fácil",imagina nesse. — Continuou a morena, era claro o desespero, mas sabiam que a maior parte dele era peso na consciência vinda de outra coisa.— Não podemos cometer erros. — Lembrou Suzana, que mesmo não querendo desistir parecia levemente preocupada com a questão arriscada.— Podemos pensar durante essa primeira semana de aula, quem realmente quer continuar e quem quer desistir. — Kauê procurava a solução mais viável,ainda que houvesse apenas a amiga em dúvida, sabia que era algo que o grupo todo deveria pensar com calma e sem impulsos.— De toda forma, se continuarmos todos nessa... —Começou quem estava calada esse tempo todo, Bárbara,ela se levantava e ajeitava a capa no corpo,prontamente estava de saída. — Apenas lembrem do lema das Serpentes que aprendemos no primeiro ano, hm? Após recitarem em uníssono o tal lema, se dispersaram. Alguns para o banho, outros para um cochilo rápido antes do primeiro jantar e houveram aqueles que já foram guardar seus lugares na mesa.Era o início de tudo, aquela noite seria um portal para um novo caos.

As marcas da serpenteOnde histórias criam vida. Descubra agora