Acordei, tomei café, uma rotina compacta para uma pessoa comum.
Minha mãe já tinha saído a muito tempo, voltar tão tarde para casa me fez ficar mais acordado que o de costume.
Coloquei meus fones e subi na minha moto, eu sabia pilotar só não tinha idade, mas como essa cidade é totalmente tranquila demais, não tinha problema naquela época.
Andando normal pelos corredores, algumas pessoas conversavam baixo e outras choravam um pouco."Atenção alunos, todos no auditório por favor!"
A aglomeração começou logo na entrada onde apenas observava de longe todo mundo se espremer na porta morrendo de ansiedade.
Sentei em um dos bancos e do meu lado o garoto do suéter mas agora ele era de uma tonalidade rosa pastel e não coincidia com seu tamanho, novamente.
"Por que todos estam nesse alvoroço?"
"É a Millie, encontraram o corpo dela..." Jack tinha dificuldade de falar por está ansioso demais.
Ah é, eu esqueci que tirei a vida daquela menina.
Minha feição era calma e paciente mas o pequeno não conseguia se controlar e muitas vezes pasmava sobre uma emoção só.
"P-preciso...eu..."
Jack entrelaçou sua mão em meu braço e se aproximou tentando se acalmar.
"Minha bombinha" O sussurro e depois as lágrimas se formando.
"O que? Você tem asma?"
A única força que ele tinha naquele momento era de apertar meu braço o mais forte possível e se apoiar enquanto o levava para algum lugar que ele pudesse ficar calmo.
O vestiário masculino foi a primeira porta que apareceu e a mais rápida.
Ele se jogou em um dos bancos e apontou pro bolso da mochila. Peguei a bombinha rápido e dei para ele.
Depois de vários minutos sentados ali no escuro e sozinhos iluminados por uma janelinha, ele conseguiu respirar fundo e se recuperar.
"Não lido muito bem com mortes"
cabisbaixo e girando os anéis metálicos de seus dedos, ele respirava fundo e fechava os olhos.
"Melhor ir para casa, hoje o dia aqui no colégio vai ser apenas sobre esse assunto, não é saudável que fique"
"Você não me parece abalado"
O olhar dele encontrou meus olhos compreensíveis e dessa vez eu os desviei passando minha mão sobre o topo de seus cachinhos.
"Perder pessoas faz parte, é um ciclo, a todo momento você vai perder alguém e vai sofrer com isso e aí a sua hora chega e outras pessoas sofrem com isso. Eu só entendo.
"Dói muito, principalmente quando é muito cedo..o meu avô faleceu dormindo e eu senti tanta falta que agora quando outras pessoas se vão eu consigo sentir a dor dos outros..eu.."
"Vamos para casa"
O segurei firme até a saída, esperei que ele voltasse a ficar bem de novo e subi na moto.
"Eu tenho medo, n-n-não vou andar nisso" Ele se afastava como se a moto fosse um monstro ou seu pior trauma.
"Fecha os olhos e segura firme em mim, eu não vou rápido"
Ele parou para pensar um pouco mas viu que o único jeito de fugir daquele lugar era agarrado a um estranho que foi gentil com ele.