Capítulo Único

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As monstruosas ondas agitavam-se no oceano ao som de trovões retumbantes. A chuva caía em torrentes, espancando sem piedade o pequeno bote que se revolvia nas águas agitadas, ora com o casco para cima, ora para baixo. Seu único tripulante, um habilidoso carpinteiro naval já idoso, esforçava-se para manter-se seguro à corda presa na proa. Segurava-a com força inimaginável enquanto era jogado violentamente de um lado para o outro pela força daqueles paredões negros e gélidos. A água salgada preenchia suas vias respiratórias, queimando-o por dentro. O homem então começou a pensar que talvez fosse chegada a sua hora.

O medo e desespero tomaram-lhe por completo. Pior que morrer seria morrer sem cumprir sua promessa – promessa de muitos anos passados, tantos que perdera a conta. Seus cabelos ainda eram castanhos e nenhuma ruga aparecia ao sorrir. Seu corpo saudável tinha muita força para puxar redes lotadas de peixes barco adentro; isso enchia seu pai de orgulho. O oceano não o atemorizava, e corajosamente aventurava-se a caçar sozinho os seus próprios cardumes.

Então, numa tarde os céus se iluminaram com riscos dourados, a água minguou e os peixes se debatiam na areia da praia. O mar mostrou sua força ao cobrir a enseada em uma onda marrom escuro, destruindo por alguns metros tudo o que encontrava. Semanas se passaram até que os moradores locais puderam reconstruir suas casas e vidas. No meio do empenho coletivo em encontrar materiais perdidos, localizaram uma moça desconhecida, e ninguém, nem ela mesma, soube dizer de onde vinha.

Da mesma forma como a Terra atrai corpos celestes ao seu redor, ambos jovens sentiram-se impulsionados por uma força invisível logo no primeiro olhar. Palavras e sorrisos eram trocados, as conversas, aprofundadas em crepúsculos alaranjados, ao som de ondas mansas e do canto agudo das gaivotas-do-rabo-de-andorinha. Brincavam de buscar estrelas-do-mar perto dos coloridos corais, e à noite, de contar estrelas brilhantes ao longo da Via Láctea. Ele a ensinou a diversidade da fauna marinha, e ela, a percorrer caminhos tendo unicamente os astros como guia. Pouco a pouco, passaram a orbitar em torno um do outro, tão ligados quanto o sistema de uma galáxia.

Fugas na madrugada, juras de amor à luz da lua cheia, suas almas envolvidas em uma melodia única – um dueto apaixonado em perfeita sincronia. Ainda estavam a se abraçar sobre a areia cálida quando ele sussurrou com extremo desvelo:

— Meu amor por você é maior que minha própria vida! Mesmo se vier a morte, irei até os confins do mundo para trazê-la de volta!

Assim, a aliança entre eles tornou-se um símbolo concreto, fixado onde a veia trilha um caminho junto ao coração. No ventre, o fruto deste amor crescia, juntamente com a felicidade do abençoado casal. Juntos andavam com pés nus pela praia; cantavam cantigas antigas ao som de arpejos de uma flauta amadeirada; embalavam-se em uma rede de cordas, observando o sol se pôr sobre as águas salgadas. Algumas vezes se desentendiam. Mas não importava, estavam apaixonados e sempre perdoavam um ao outro.

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