I - Não Me Culpe

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- Eu me lembro do dia em que eu o conheci, estava frio e com certeza era de madrugada, ele sorriu e eu sorri de volta. Era uma noite fria e escura de setembro, eu devia estar bêbada, mas eu ainda me lembro de muitos detalhes. Ele se aproximou de mim enquanto eu estava tomando um drink no bar depois da festa de formatura da faculdade, e suas palavras foram exatamente essas: “O próximo drink eu pago”, eu lembro que me encantei logo de cara, ele era perfeito, pensei, e as luzes refletiam o seu cabelo ruivo e me deixavam enjoada, eu só respondi: “Só se você tomar comigo.” Ele sorriu largo, e naquela noite eu soube que você era o amor da minha vida. Então sim, Archie Andrews, eu aceito me casar com você. 

- Sendo assim eu vos declaro marido e mulher. 

- Eu te amo, Elisabeth Andrews. 

Todos sorriam, eu nunca havia estado em um casamento tão lindo, nós nos beijamos e tudo estava perfeito. A nossa lua de mel foi em uma ilha paradisíaca no caribe pago pelos pais do Archie, eles eram milionários e donos da maior empresa de tecnologia de NY. E Archie um dia seria herdeiro disso tudo, por isso me fizeram assinar um acordo para que pudesse me casar, um casamento com separação de bens, para que um dia caso nos separássemos, eu não teria direito a nada, o que pra mim não importava, eu me casei com ele porque o amava e nada disso importa. 

Nossa vida sempre foi um livro de romance do Nicholas Sparks, ele me trazia flores, me levava café na cama nos tomávamos banho juntos na banheira do nosso enorme banheiro, na nossa enorme casa. E eu era feliz. Ele também aparentava ser, até não aparentar mais. Acho que isso foi culpa da rotina, um dia ele parou de trazer flores, parou de levar café na cama e eu nem lembro a última vez em que tomamos banho juntos, eu me sentia um estorvo para ele, como se ele estivesse cansado de mim, e realmente ele estava. Meu pesadelo começou em uma quinta feira, dois anos após o nosso casamento. A ingênua da Betty, como minhas amigas costumavam de chamar no ensino médio, resolver fazer uma surpresa para Archie na empresa, para almoçarmos juntos, e lá estava ele, sentado na cadeira com uma vagabunda entre suas pernas, eu nunca me senti tão humilhada na vida, eu corri dali cega, sem saber pra onde ir, chorando muito. 

Eu o perdoei é claro, nós ainda estamos juntos, mas algo em mim me diz para fugir o mais rápido do que eu posso. Depois de tudo isso nos não conversamos mais sobre o assunto, mas nada mais voltou a ser como era antes. Ele me usava para mostrar aos pais que era um bom homem responsável e de família, enquanto eu o usava para conseguir as coisas que eu queria, eu sabia no fundo que ele ainda me traia, mas como eu poderia o deixar? Sem ter pra onde ir. Eu estava presa, e se o deixasse eu perderia tudo. Talvez eu esteja sendo burra, sendo feita de idiota, mas na minha posição o que você faria? Eu mudei, eu não sou mais a mesma mulher que eu era a dois anos atrás, quando nos casamos, a conveniência e a falta de sentir aquele frio na barriga me transformou, me transformou em uma mulher superficial e interesseira, depois disso tudo, na minha cabeça eu tinha direito ao que era dele. 

Tudo mudou, quando no mês passado o impensável aconteceu, os pais de Archie sofreram um acidente de carro e não resistiram. Ele estava muito abalado e eu também, o ambiente estava pesado e nada do que eu fazia o reanimava. Eu sinto que no fundo eu ainda o amo, e ele faz parecer que muitas coisas são culpa minha, mas ele não estava pensando direito, eu o apoiei, como uma esposa deveria fazer. Desde então o que estava ruim piorou, não éramos mais um casal, não aquele com paixão, éramos apenas duas pessoas que estavam juntas, já não nos beijávamos, não dormíamos mais juntos, não tínhamos mais diálogos e não fazíamos mais sexo, nem sequer nos olhávamos. Éramos dois estranhos vivendo na mesma casa. 

Meus dias eram entediantes, eu já não tinha mais com o que gastar, eu sentia falta de algo na minha vida, era monótona, vazia e completamente superficial, eu repudiava isso. Eu me tornei o que eu sempre critiquei, aquelas mulheres que estavam com alguém por dinheiro, Archie me dava tudo que eu queria, mas não me dava o mais importante. Amor. 

Então não me culpe quando eu o traí, isso mesmo. A desculpa que eu posso dar no momento é “eu fui fraca” a mesma desculpa esfarrapada que ele me deu no dia em que o peguei me traindo. Não me culpe por querer me sentir viva novamente, por querer que algo na minha vida faça sentido. Não me culpe por te trair inúmeras vezes, Archie. Eu culpo você.  

É nessa parte que a antiga Betty retorna, quando o frio na barriga pairou novamente sobre mim. Ele surgiu para me libertar dessa prisão, e eu me apaixonei novamente. O que me faz pensar, será que é possível se apaixonar mais de uma vez, ou o que eu senti na primeira vez não era paixão, eu era ingênua é claro, mas será que eu soube amar, será que eu sabia o que era estar apaixonada, ou os filmes e livros de romance me fizeram acreditar que eu era uma cinderela em perigo e que o Archie poderia me salvar com seu cavalo branco? Bom se isso realmente aconteceu, agora era tarde demais. Eu conheci Jughead Jones em uma boate, ele era o típico Bad boy, ferrado, sem dinheiro e lindo de morrer. Foi com ele que meu coração começou a bater mais forte, ele parecia ser de uma gangue e procurado pela polícia, mas nada disso me importava, ele era como se fosse uma droga que eu poderia usar pelo resto da minha vida. 

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