— Era para ser um artefato, não... uma coisa.
Foram as primeira palavras ouvidas, bem abafadas, os olhos enxergavam o chão e o corpo formigava desde os pés até a cabeça. Ainda ouvia as vozes mas ainda não as compreendia. Sentiu os braços vacilarem ao tentar se erguer, mas não caiu, permaneceu em quatro apoios, com mãos e joelhos ao solo. Sentiu algo cobrindo o seu dorso, alguém gentil que cobriu a criatura humanoide nua, que a primeira vista era como um ser humano, o primeiro impacto visual era seu tom de pele levemente roxo, os cabelos longos em um tom de preto quase que absoluto tocavam o chão, ao levantar pouco mais a cabeça percebeu-se olhos um pouco maiores e um tom roseado nas pupilas. Mãos e pés semelhantes aos humanos, cinco dedos em cada, o que diferenciava eram as unhas num tom de roxo mais escuro que a pele. Se tratava aparentemente de uma versão feminina da espécie, por possuir curvas delicadas, um rosto e corpo feminino. Como a cobertura estava no dorso quem olhava de frente ainda podia ver seus pequenos seios e na distancia seu púbis não apresentava saliência ou falo.
— Sabe falar? — Perguntou o jovem que havia cobrido a criatura com uma capa leve e de tom cinza — Consegue entender? Tem um nome? — Insistiu em perguntas querendo algum sinal de compreensão.
— Não era para você ter se aproximado, jovem — Disse em tom arrogante o dono da primeira voz que a criatura havia ouvido. Ao direcionar a visão para o dono da voz rouca e seca, a apurpurada viu um homem velho, com cabelo curto e grisalho com barba por fazer. A troca de olhares foi intensa, ela não desviou o olhar e nem piscou, o que intensificou o olhar mais desdenhoso do homem velho.
— Mestre Icarenus, perdão. Ela está nua, talvez constrangida. Pensei em...
— Você não veio conosco para pensar e sim para ajudar. APENAS no que for solicitado. — interveio o velho Icarenus. Que nem em meio a breve discussão deixou de ter o confronto visual com a criatura que ainda permanecia em quatro apoios. O Velho fez um sinal com apenas dois dedos chamando o jovem de volta ao grupo. Grupo formado por cinco pessoas, a apurpurada enfim desviou o olhar para investigar ao redor, a nova informação era o grupo a sua frente, quatro pessoas, o mais velho já associado ao nome Icarenus, velho e arrogante, com vestimenta negra e poucos detalhes de desgaste, fazia parte também do conjunto uma capa com capuz acinzentada, tal qual a que o jovem cobriu o corpo nu da criatura. O mais baixo do grupo, ao lado do velho, fazia uso de uma capa semelhante porem suas roupas eram cinza escuro, uma camisa larga para dentro da calça e calçados marrom que iam até o meio da canela, bem desgastados. Logo atrás da dupla um em cada lado, homens cobertos por uma armadura que pareciam ser de couro, em tonalidades mescladas entre marrom e vermelho no da esquerda, marrom e verde no soldado da direita, esse último um pouco mais a frente e próximo ao Icarenus. O que chamava a atenção nesse soldado em particular eram seus olhos em um verde quase cintilante e um tom de pele claro, quase cadavérico. Apesar de sereno passava seriedade. O quinto membro do grupo, o jovem que caminhava de volta ao grupo, por razão nobre estava sem a capa acinzentada, então apresentava somente a vestimenta cinza, em um conjunto bem monocromático em cinza escuro. Mais uma rápida olhada e viu que ambos os jovens eram carecas e caucasianos. Como os soldados pareciam usar elmos não se podia ver cabelos ou ausência deles.
A sensação de formigamento enfim foi deixando o corpo da jovem, ela acariciou levemente seus cabelos que tocavam o chão ao lado esquerdo, lentamente subiu sua mão esquerda ao ombro direito e segurou a capa que cobria seu corpo, lentamente foi puxando o tecido para se unir ao lado esquerdo e enfim se cobrir apropriadamente. Foi se levantando e aproximando a coxa uma a outra e ao ter apoio suficiente com os membros inferiores com a mão direita segurou a base da capa e cobriu a virilha.
— Sim, ela parece estar constrangida. — Disse o soldado a direita com uma voz extremamente grave. — Jovem, sua túnica.
Brevemente assustada com o timbre do soldado, ela fitou com olhos arregalados, enquanto o brutamontes estendia a mão ao jovem baixote, que não vacilou em tira-la e entregar ao soldado. O velho Icarenus, olhou com desdém porém não contestou. Ao pegar a túnica cinza, o soldado caminhou em direção a humanoide, a cada passo ela percebia as dimensões extravagantes do soldado e se surpreendeu ainda mais quando notou que a armadura de couro na verdade eram saliências do próprio corpo do soldado, inclusive o que a pouco se pensava ser um elmo.
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Contos de Qua'Sar - Thaynael e a estrela perdida
FantasíaThaynael é um anjo sem memória que vive em Celtrock, uma cidade flutuante, que serve tanto para refugio quanto para escola de magos. Os dias monótonos de aprendizagem e raras escapadas ficarão mais interessantes com a chegada de um "artefato" que pe...