Capítulo 8

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Capítulo 8

A campainha do castelo tocou e parecia retumbar com alguma novidade que ali chegava. Desci correndo as escadas na esperança de ter alguma notícia de minha família. Ainda era cedo para Arkadius ter voltado, mas nada parecia impossível. Ele se mostra sagaz em tudo que faz, determinado com suas causas.

Segurava a barra do vestido rodado, enquanto meus pés se esbarravam um ao outro enquanto descia a imensa escadaria. Vi quando o Mestre recebeu das mãos do criado, uma correspondência. Seu semblante demonstrou preocupação, e meus olhos estavam fixos nele. De longe, sem querer ousar a ler a correspondência, reconheci a letra do meu amado Senhor.

Era uma carta breve, logo que terminou de ler, o Mestre se virou para mim, e meu coração então disparou.

─ Sir?!

─ Uma correspondência de Tirel. Creio que é o momento de você fazer suas malas e seguir ao meu lado.

Eu não queria me parecer estúpida, mas teria que contrariar a sugestão do Mestre, mesmo que isso soasse estranho. Não poderia sair dali enquanto não tivesse alguma resposta sobre o desaparecimento dos meus pais. Então neste momento voltei a realidade, e mais friamente, eu o questionei:

─ O que houve, Mestre?

Minha voz parecia um pouco travada e pesada, eu tentei conter a emoção que me abatia.

─ O torneio foi transferido para Paris. Seu Senhor pede sua presença, quer que você me acompanhe.

Um turbilhão de sensações agora se faziam presentes. Meu lábio tremeu, e eu o apertei entre os dentes, tentando disfarçar a estupidez.

─ Sir... Eu sinto muito, mas... Eu não posso...

─ Eu entendo seus motivos, mas seu marido pede sua presença. Não poderei deixá-la aqui sozinha.

─ Eu o entendo, mas não poderei atender o chamado de meu Senhor. Eu preciso descobrir o que aconteceu com meus pais. Eu adiei a vinda para cá, e deixei que tudo chegasse a este ponto... Sinto muito, Sir., meu Senhor há de entender.

─ Charlote! – ele ia dizer algo, mas ao invés disso, mexeu em sua barba. ─ Você tem certeza disso?

─ Sim Senhor. Mas... Para não constrangê-lo, eu posso me hospedar em alguma pousada da região. São muito importantes para mim, as notícias que hão de chegar. Espero que o Sir possa compreender. Terei que negar o pedido do meu marido por uma causa justa.

─ Sendo assim... – ele fez um gesto com as mãos, abrindo-as para os lados. ─ Eu nada poderei fazer, mas... Deve saber que para cada escolha há uma consequência, nem que seja a mínima possível.

─ Eu sei sim, Mestre, e assumo os riscos. Meus pais são caros para mim. Não se preocupe, meu Senhor entenderá minha situação, eu creio nisso.

─ Deixarei Apsel e minhas meninas a sua disposição para o que precisar. No castelo, tenho mensageiros para qualquer momento do dia, basta usá-los, caso necessite.

─ Gratidão, Mestre.

No final do dia, o Mestre deixou o castelo. Meu peito apertou, mas era preciso terminar o que vim fazer aqui. Era a primeira vez que não acatava o pedido de Tirel. Na verdade, eu não sei como ele irá receber esta decisão, pois nem mesmo sei quantos dias já se passaram desde que cheguei em Siv.

Esperei que o Mestre saísse de minha presença, e me pus no peitoral da janela, olhando a paisagem enquanto meus pensamentos se perdiam em uma imensidão de sensações. Eu sentia a falta de Aragorne, mas algo dentro de mim me pedia para não ir... Passei a vida toda em sua função, e é chegado o momento de pensar um pouco em minha família. Eu não me perdoaria se chegar uma notícia ruim, e eu não estiver ali para ao menos enterrar meus pais. Não percebi, mas uma lágrima sorrateira desceu pelo meu rosto, seguida de um soluço contido.

Senhor Aragorne TirelOnde histórias criam vida. Descubra agora