Parte Um

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Kageyama ainda mantinha os olhos fechados mesmo após desligar o incômodo despertador, sentindo a coberta conter todo o calor naquele bolinho que se formava acima de seu corpo, protegendo-o do clima frio da manhã. Concentrava-se em seu peito subindo e descendo no que seria provavelmente o momento mais tranquilo de seu dia.

Suspirando por saber que não poderia estender essa paz para sempre, arrastou as cobertas para o lado e sentou-se, espreguiçando-se ao finalmente abrir os olhos. Esquadrinhou o quarto com a vista ainda embaçada, aproveitando para alongar os braços, fixando-se no amontoado de cobertores não muito longe de onde sua própria cama estava.

Hinata boke, não acredito que ele correu para escovar os dentes primeiro que eu.

Tcs.

Não acredito que ele conseguiu escovar os dentes primeiro do que eu em minha própria casa.

Levantou-se finalmente, flexionando os joelhos antes de jogar as costas para trás, estralando-as. Caminhou até seu armário, pegando suas roupas e trocando-se rapidamente ali mesmo, aproveitando que o outro garoto ainda não havia voltado para o quarto. Arrumando o zíper da jaqueta, seus olhos se voltaram para os cadernos jogados no canto, onde estudaram até tarde na noite anterior para as provas que teriam durante a manhã.

A rotina de estudos que estavam tendo já começava a soar mais do que familiar para o moreno: juntavam-se frequentemente para estudarem um na casa do outro, os testes exigiam que se esfoçassem mais, uma vez que a participação nos campeonatos de vôlei dependiam de como eles iam nas provas. Era inadmissível para Kageyama perder uma partida por causa de suas notas, então recolher os livros bagunçados do seu amigo todas as manhãs depois de dormirem juntos parecia um preço pequeno a se pagar.

Tudo bem que isso exigia bem mais de sua paciência do que os usuais encontros na escola que tinham para estudar ou treinar, ou até mesmo das primeiras vezes que estudaram juntos na casa um do outro, mas sem dormirem juntos depois. Hinata não parava quieto um minuto, não se concentrava em exercício nenhum e gritava demais, parecia que mal podia se conter em seu próprio corpo. Não parava de falar até finalmente adormecer, e foi uma surpresa engraçada quando o moreno reparou que o pequeno era estranhamente pacífico durante o sono, mal se mexendo em seu colchonete. Talvez, pensara Kageyama certa vez, toda a animação do dia recaia cobrava seu preço durante a noite, e não lhe restava nada a não ser recuperar todas as forças naquelas horas de descanso.

O garoto deixou o quarto não acreditando que, além do idiota ter corrido para escovar os dentes, Hinata havia corrido para também chegar primeiro para tomar café da manhã. Se perguntou até mesmo se essas competições não estavam saindo muito dos limites.

Chegando à cozinha, já se preparava para encontrar o sorriso contido da mãe, natural de todas as manhãs em que Hinata acordava ali ou de quando ele próprio estava saindo de casa para encontrar o ruivo. Segundo ela, Shou-chan (como ela gostava de chamá-lo) era o primeiro garoto que Kageyama lhe apresentava que ela sentia ser um amigo verdadeiro, e ele simplesmente não sabia lidar com essa sua reação. Não que acordar na casa de Hinata fosse muito melhor: era tudo muito barulhento, sua irmãzinha era muito animada, quase pior que o irmão mais velho, e a mãe deles não se dava ao trabalho de tentar esconder a satisfação de ver a amizade dos dois como sua própria mãe fazia.

O que nenhum dos jovens sabia, porém, era que os sorrisos de manhã não eram apenas de satisfação, mas de humor. Os dois tinham as mais engraçadas discussões durante todo o período em que ficavam juntos, e, por mais estressante e inconveniente que isso pudesse soar durante a noite, era estranhamente engraçado de manhã, quando presenciavam seus gênios contrastando durante o desjejum.

Para a surpresa de Kageyama, Hinata não se encontrava em lugar algum da pequena cozinha. Sua mãe terminava de comer o café-da-manhã solitária, cantarolando uma canção qualquer sem muito ritmo.

"Bom dia meu bebê."

O sorriso da mulher era caloroso, mas o menino franziu a testa e olhou mais uma vez ao redor, esperando por Hinata saltar de qualquer canto zoando-o pelo apelido meloso, como era de praxe em todas as manhãs que ele dormia em sua casa. Para seu maior estranhamento, porém, a cozinha continuava a ser preenchida apenas pelos barulhos que sua mãe fazia.

"Bom dia", grunhiu. "Onde está Hinata boke?"

"Não fale assim de seu amigo!", repreendeu imediatamente, sem deixar de prestar atenção na comida em sua frente. "O pequeno ainda não apareceu por aqui. Alegre-se, bebê! Você ganhou hoje."

Ela ria enquanto dizia aquilo, mas Kageyama não podia ver a graça de suas palavras. Se aquele imbecil não estava na cozinha, e não havia voltado ao quarto até o momento em que estava nele, onde havia se metido? Havia Hinata tido uma crise de ansiedade por causa das provas e tomado conta de seu banheiro?

Esperou que a mãe tivesse terminado seu café e se despedido dele para ir ao trabalho antes de marchar para a porta do banheiro próximo ao seu quarto, socando-a algumas vezes com o punho.

"Hinata boke!" gritou. "Saia logo daí ou nos atrasaremos!"

Esperou com impaciência por alguns segundos, sentindo-se ainda mais confuso por não escutar sequer um lamúrio por detrás da porta. Meio inseguro, girou a maçaneta e abriu a porta lentamente, com medo do que poderia ver ali dentro. Para seu alívio e confusão, não havia nada para encontrar.

"Não é possível que ele tenha corrido para a escola sem mim, sem suas coisas e até mesmo sem falar com minha mãe", murmurou. "E ele com certeza não sairia sem comer."

Voltou para o seu quarto tentando entender o que acontecia, estancando na soleira ao ver uma figura ruiva brincando com uma bola de vôlei em sua cama. Já abria a boca para xingá-lo de imbecil quando notou o tamanho do ser humano em seu quarto. Hesitou.

"Na-Natsu?"

Sua voz soava estranha para seus próprios ouvidos, o cérebro tentando entender o porquê da irmã de seu companheiro de time estar ali. Ela com certeza não tinha aparecido sozinha em seu quarto, e se os pais dos dois ruivos tivessem surgido em sua casa ele com certeza saberia. Teria o sumiço de Hinata algo relacionado com o aparecimento de sua irmã pulando na cama do moreno?

A risada que soou pelo quarto fez os pelos dos braços de Kageyama se arrepiarem, seu estômago congelando.

"Natsu, Tobio?", ria Hinata, olhando travesso para o maior. "Eu não sou uma menina, sabe disso! Sou muito diferente da minha irmã!"

O pulo que o Kageyama deu ao ver a figura ruiva passando do seu lado por pouco não o fez bater a cabeça no teto, o cérebro dando nós enquanto ecos de reclamações de fome ecoavam por toda a casa.

Ecoavam com uma voz infantil.

E quando passou ao seu lado, Hinata não tinha nem metade de sua altura habitual.

Apoiou-se na porta, sentindo o mundo rodar.

Hinata era uma criança.

E, para seu total desespero, não era da forma figurada que costumava chamá-lo.



***

Oioi!

Essa foi a minha primeria fic de Haikyuu, e é engraçado ler ela agora e perceber que foi quase um surto totalemente aleatório meu kkkkkkk

Enfim, dei uma arrumadinha nela (terceira pessoa definitivamente não é meu forte!) e resolvi dividir o que antes era uma one-shot em uma short-fic de cinco partes cuntinhas, ok? Espero que vocês consigam aproveitar o desenrolar dela! 

Little RedheadOnde histórias criam vida. Descubra agora