All Star | Xamã

Seis

Ponto de Vista de Maria Beatriz

Estava sentada no Nola, um famoso restaurante ali da área com variedades no menu. Nunca tinha ido ali antes. Não era exatamente um lugar onde eu costumava ir. Era como se o Beto estivesse tentando ser como um Jason na minha vida; me dava coisas novas e caras conseguidas com o dinheiro do tráfico, mas eu não estava interessada nos bens materiais.

 Voltei a morar com ele há um mês mais ou menos e ele estava sendo gentil, não chegava em casa bêbado e nem me batia mais. Eu não sei se iria continuar assim ou ele iria mudar novamente, mas tudo estava indo bem na maioria das vezes. 

O restaurante em si era muito bonito e organizado. Me obriguei a me concentrar no menu e não em meu encontro com meu namorado agora se vestindo como um homem de negócios. As sobremesas eram muito caras e tudo deveria ser delicioso, mas eu desejava mesmo era estar sentada na laje comendo algum tira-gosto observando as estrelas. 

Peguei meu celular e entrei nas minhas redes sociais. Como se um imã estivesse me atraindo fortemente não hesitei em digitar o nome do índio e ir em busca de sua conta, inclusive alguns seguidores meus seguiam ele. Haviam fotos dele de todas as maneiras e algumas com a Nicole, então eles tinham realmente reatado o namoro. A conta dela era totalmente organizada em cores diferentes e locais inusitados, mas a última foto me chamou a atenção e talvez tenha acelerado meu coração: Ela com a mão na barriga e a outra segurando um teste de gravidez com a legenda "Todo amor transbordante em um casal gera uma terceira vida". Achei brega. Voltei na conta dele e vi seu último vídeo, era ele em uma banheira cantando a música All Star do Nando Reis. 

— Posso chamar o garçom, minha linda? — indagou Roberto me tirando dos meus devaneios e ligeiramente joguei o celular na mesa com a tela virada. Ele seguiu os movimentos bruscos com o olhar desconfiado, mas não falou nada. Balancei a cabeça concordando. O garçom não estava muito longe e logou chegou. — Um Tartar de Atum com Abacate e Quinoa Crocante e um Risotto de cogumelos com ovo mollet. 

O homem de cabelo loiro e olhos claros saiu da nossa visão e eu olhei Roberto, totalmente admirada com sua elegância ao dizer o nome das comidas, eu mesma não conseguiria dizer. Ele sorriu e arrumou a gola de sua camisa engomadinha. 

— Está gostando? Essa vai ser a nossa nova vida agora, tudo do bom e do melhor. — ele falou e eu sorri fraco. Seu celular tocou e ele levantou, me deixando sozinha.

Voltei a observar o feed do Jason e olhei meu All Star velho e surrado, mas seguia sendo meu xodó. O trecho da música combinava comigo e eu gostava de ouvi-la na voz dele. Olhei algumas outras fotos antes de Beto voltar e sentar-se novamente. 

Quando a comida chegou tentei entender como se comia e delicadamente fingi ser alguém muito educada na hora de jantar.

Por sorte não demoramos muito e logo chegamos em casa, Beto foi direto deitar alegando estar cansado e eu subi até a laje onde me sentei no chão e observei as estrelas. O céu estava lindo, não estava chovendo nos últimos meses e o clima estava bom. Perdi a ideia dos minutos ali, tinha conseguido esvaziar minha mente e deixá-la calma. Era uma ótima sensação. Olhei a rua e fechei meus olhos, ao abri-los vi uma figura masculina subindo o beco do lado direito, o jeito de andar era como o de... Não, não era ele. A luz da rua refletiu em seu rosto e ele me olhou, em sua mão estava sua arma. Ele não deveria estar sóbrio. Jason mirou a arma na sua cabeça e o vi acionar o gatilho. 

Desci os degraus correndo o risco de levar um tombo e corri na rua até chegar nele, derrubei sua arma no chão e observei seus olhos vermelhos. Ele jogou-se sobre mim e o segurei com dificuldade, mas conseguimos nos afastar até o lado do beco onde não tinha visão da minha casa.