Parte 1 - Reencontros
“(...)
Por onde andei?
Enquanto você me procurava
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava...(...)”
(Por onde andei, Nando Reis)
CAPÍTULO 1
16 de outubro de 2014
MICAH CRUZ FALCÃO
Eu estava com muita raiva.
Jurei a mim mesmo que nunca mais voltaria à Florada e lá estava eu. Pior, pisando na Fazenda Falcão Vermelho. O local onde fui criado, mas ao qual não pertencia. Afinal, eu era um Falcão só no nome, na certidão. Na realidade, eu era um filho bastardo.
Pisei o chão gramado e olhei para o casarão fincado na terra, com seu telhado perfeito, cercado pelos jardins de minha mãe e recortado contra o céu cinzento daquele dia cheio de nuvens carregadas. O ar parecia parado e tudo era silencioso.
Não havia vento nem canto dos pássaros. As folhas das plantas eram imóveis.
Senti um mau augúrio quando subi os degraus da varanda que nem ao menos rangeram. Tive uma sensação de irrealidade, de artificialidade. Era estranho, tudo parecia como quinze anos atrás, mas ao mesmo tempo era diferente. Não havia vida ali. Sem som, sem cheiro, sem barulho, apenas a casa e as terras em volta, imortalizadas no tempo.
Agarrei a maçaneta de bronze da porta da frente e a girei, abrindo-a, entrando. Sempre havia algum movimento por ali, dos empregados, de Tia ou dos meus irmãos, mas naquele dia tudo era sepulcral. Observei a escada, a sala, os móveis, tudo igual a quando eu morava naquela casa. Pensei em dar meia volta e sair, afinal não era mais meu lar. Mas algo me impulsionou a entrar ainda mais.
Tentei lembrar o que eu fazia ali, por que voltei. Eu mentiria se dissesse que não senti falta dali por todos aqueles anos. Senti muita. Mas segui em frente, passei por momentos difíceis, mas também por outros de vitória, acabei me fazendo sozinho. Então, por que voltei?
Algo me avisava para sair, mas me vi seguindo em frente, como se uma força mais forte me puxasse. Não subi as escadas. Atravessei o corredor no andar térreo, meus coturnos fazendo barulho em contato com as tábuas corridas do chão. Segui até o fim e só parei ao dar com a porta de madeira maciça do escritório, fechada.
Aquele silêncio e o ar pesado continuavam me cercando. Mas não recuei. Empurrei a porta e, decidido, entrei.
Havia um cheiro estranho ali, meio metálico, que pareceu deixar minha língua estranha. Franzi o cenho, um alerta soando em minha mente, como se meu subconsciente gritasse que ali não era lugar para mim. Mas eu tinha que saber, ver, conferir. Era mais forte e intenso do que eu, então adentrei o escritório e parei de supetão com a primeira coisa que vi. Sangue. Muito sangue no chão, que escorria pela tábua corrida e manchava o tapete creme entre os estofados.
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Seduzida(Livro 3 da Série Segredos)
RomanceMicael Cruz Falcão, mais conhecido como Micah, desde os nove anos foi tratado diferente pelo pai em sua família. Recebia de Mario Falcão apenas frieza, crítica e muitas vezes violência. Nunca conseguiu entender e chegou ao ponto de se revoltar, vira...