Capítulo 2

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EM ROMA, FAÇA COMO OS BRASILEIROS. 

Os romanos vivem a primeira hiperinflação da história. Os alemães batem a marca de 1.000% ao mês. Os húngaros, a de 1.000.000%. Mesmo assim, só existe um Pelé no mundo da inflação: o Brasil. 

A ECONOMIA É BURRA. OU, PELO MENOS, MAIS SIMPLES DO QUE PARECE. TÃO SIMPLES QUANTO UM AQUÁRIO DE UM PEIXE SÓ. SE VOCÊ JOGAR RAÇÃO DE MENOS ALI, O BICHINHO MORRE DE FOME; SEDER DE MAIS, A RAÇÃO ROUBA OXIGÊNIO DA ÁGUA, E O PEIXE SUFOCA. 

O dinheiro é a ração da economia. Se o governo imprimir de menos, ela morre de fome –ninguém produz mais nada, porque ninguém vai ter dinheiro para comprar mais nada. Só que, se você dá de mais, ela afoga de tanta moeda. A inflação sufoca a economia. 

Na Grécia Antiga, souberam manter o peixinho da economia saudável. Na hora em que a economia deu sinais de fome, eles aumentaram a quantidade de dinheiro. O Estado cortou um pouco a quantidade de prata em cada moeda para ter como produzir mais moeda. 

Se exagerassem na dose, o remédio seria tão ruim quanto a doença. Mas souberam seguraras pontas. Em Roma, porém, a história foi diferente. Quando tentaram a mesma solução por lá,o peixe da economia acabou sufocado, e a consequência desse assassinato foi trágica: um período de estagnação econômica que você conhece como Idade Média. 

E tudo tinha começado tão bem... Roma nasceu no século VIII a.C. como uma aldeiazinha. Em 500 a.C. já era uma república, com senado e tudo. Mas ainda não usavam moedas por lá. O dinheiro ainda eram barras de cobre, sacas de trigo, pepitas de sal grosso. A ideia decunhar discos de metal só chegaria por volta de 300 a.C. Foi mais uma coisa que eles copiaram dos gregos, além do Panteão divino e da ideia de ter um governo mais ou menos democrático. Era natural: cidades bem próximas de Roma, como Nápoles e outras do sul da Península Itálica, eram gregas antes de serem anexadas pelos romanos. Então já usavam dracmas, a moeda helênica. Como ideia boa pega, não deu outra: Roma começou a cunhar seu próprio dinheiro.

Foi a melhor atitude que poderiam ter tomado. A introdução do dinheiro serviu de combustível para a expansão das fronteiras do futuro império mais importante da história. Você vai ver por quê.

A primeira moeda romana foi o "ás", um disco de bronze meio disforme feito à imagem e semelhança das moedas gregas de Nápoles. Hoje não dá para saber exatamente o que era possível comprar com 1 ás – mas, se ele valia o quanto pesava, devia ser bastante coisa: o ás era um moedão de 350 gramas.

Mas, se você leu o capítulo anterior, sabe que a graça do dinheiro é justamente não valer o que pesa, mas aquilo que as pessoas acham que ele vale. Afinal, dá para diminuir a quantidade de metal precioso que existe ali e cunhar mais moedas – o milagre da desvalorização forçada. Com mais dinheiro na praça, as pessoas se animam a produzir mais, o comércio vibra, e aí é aquela história toda.

Roma, porém, nasceu com sangue nos olhos. Sua vocação não era o comércio. Não era dar e receber. Era ir lá e pegar. Anexar territórios e, com eles, o ouro, a comida e as mulheres que o lugar produzisse. Roma vivia para a guerra.

E logo descobriu que a ideia da desvalorização era uma mão na roda para as atividades bélicas. Coisa de 20 anos depois da introdução do ás, Roma entrou na maior de suas guerras até então: a Primeira Guerra Púnica, contra Cartago, uma cidade-Estado ao norte da Tunísia de hoje, não muito longe da Sicília. Cartago era a sede de um império diferente. Um impériodo avesso. Olhando no mapa, ele não tinha uma grande extensão territorial. O negócio deles era o mar. O Império Cartaginês dominava boa parte das bordas do Mediterrâneo – o norte da África quase inteiro, o sul da Península Ibérica, as ilhas da Córsega e da Sardenha, mais um pedaço da Sicília. Isso significava um monopólio. Cartago controlava o fluxo do comércio no Mediterrâneo, algo tão interessante na época quanto ser dono de todas as linhas aéreas que passam por cima do Atlântico hoje. Bom, nem todo o Mediterrâneo era deles. No século IIIa.C., o litoral da bota italiana já estava todo dominado por Roma. Cedo ou tarde, Cartago invadiria a praia dos romanos. Ia dar briga de cachorro grande...

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