Capítulo 10

6 0 0
                                    

A FÍSICA QUÂNTICA DO DINHEIRO

Os mesmos R$ 50,00 podem estar em dois lugares ao mesmo tempo, e as pessoas atrás de você na fila do caixa pagam a sua conta. Sem essas bizarrices, por sinal, a economia não funciona. Com vocês, o realismo fantástico do universo financeiro.

DA PRÓXIMA VEZ QUE PAGAR ALGUMA COISA NA PADARIA COM O CARTÃO DE CRÉDITO, DÊ UMA OLHADA EM QUEM ESTÁ ATRÁS DE VOCÊ NA FILA. NO MOTORISTA DO ÔNIBUS, NO CASAL ENTRELAÇADO, NA MOÇA DE MINISSAIA LÁ ATRÁS COM UM SORVETE... E TENHA EM MENTE: SÃO ELES QUE ESTÃO PAGANDO A SUA CONTA.

O dinheiro deles está diluído no sistema bancário. E é a grana desse sistema que você pega emprestado na hora em que faz uma compra no cartão. Todo o resto da população que tem conta em Banco é seu credor. Isso não é uma licença poética. Mas uma lei da física de partículas do dinheiro.

Não que exista uma física de partículas do dinheiro (os físicos estão preocupados com coisas mais relevantes), mas, se existisse, ela mostraria nitidamente: o motorista do ônibus, o casal entrelaçado e a moça do sorvete estão pagando, sim, uma fração da sua conta. Alguns bilionésimos de centavos saíram direto do bolso deles.

Para entender isso de verdade, é só pensar no básico: o que é um Banco? A princípio, não passa de um intermediário entre pessoas comuns com algum dinheiro sobrando e pessoas comuns com algum dinheiro faltando. Se você mora num apartamento financiado, deve dinheiro não exatamente ao Banco, mas às milhares de pessoas que, sem saber, o ajudaram com uma fração do salário delas. O Banco só faz o meio de campo nessa transação e cobra pelo serviço. É chato pagar, mas a alternativa a usar um Banco na hora de comprar um apartamento de R$ 300 mil para a média das pessoas seria ir até a catraca do metrô e pedir microempréstimos de R$ 3,00 para 100 mil cidadãos. Você não faria isso. Mas o Banco faz –eles montam agência em qualquer rincão justamente para isso.

Desnecessário dizer que o seu dinheiro também está nessa roda de microempréstimos. Tudo o que você mesmo tem na conta-corrente não está exatamente lá. Já foi emprestado. Virou crédito. Alguém já trocou de carro, ou comprou uma casa, ou pagou a conta da padaria com o seu dinheiro. Mas não fica nisso.

A grande função dos Bancos é maior do que fazer essa coleta de dinheiro e cobrar juros. O que eles fazem é uma mágica. Os Bancos multiplicam dinheiro: R$ 300,00 se transformam em R$ 600,00, que se tornam R$ 1.200,00... Tudo isso sem entrar dinheiro novo nenhum na jogada. 

Como funciona: digamos que você vai acertar o financiamento daquele apartamento de R$300 mil. Quando você fecha o financiamento, o Banco vai lá e dá a grana toda à vista para a construtora. Aí é aquela história: esse dinheiro saiu dos depósitos que milhares de outros clientes fizeram nas contas deles.

Mas acaba aí? Se o dono da construtora converter o cheque dele em moedas e colocar tudo numa caixa-forte para ficar nadando nelas, que nem o Tio Patinhas, acaba.

Mas provavelmente ele vai preferir colocar os R$ 300 mil numa conta de Banco. Só que o dinheiro não vai ficar parado. Isso não existe. Os R$ 300 mil vão ficar disponíveis para o outro Banco emprestar. (Nota: não fica o dinheiro todo, porque existem certas regras, e vamos falar delas depois, mas por enquanto fique com os R$ 300 mil em mente.)

Bom, aí o dono da padaria – aquela lá do motorista, do casal e da moça – foi pedir um empréstimo nesse Banco: R$ 300 mil, para financiar a compra de fornos novos. Vamos imaginar que o Banco pegou os mesmíssimos R$ 300 mil que a construtora depositou lá e repassou como empréstimo, para o dono da padaria. Nisso, ele vai comprar os fornos com um dinheiro que tinha sido emprestado para você comprar um apartamento – um dinheiro que você ainda não pagou, mas que já está girando na economia.

CrashOnde histórias criam vida. Descubra agora