Prólogo

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Interior do Ceará, setembro de 1926

O sol já estava se despedindo em um anoitecer forte após um dia escaldante que tocava aquela terra quente com mormaço, segurando o cabo da inchada com as mãos calejadas a guardei no curral junto com os cavalos. Eu olhava para o tamanho daquela terra que quem se dizia dono era Zeca Fagundes, mas o dono mesmo era Deus. O criador, tive de ir correndo segurando a minha saia para não enganxar meus pés enquanto chegava. Devia ser a primeira antes de qualquer um de meus irmãos ou pai chegarem para esquentar a comida nas panelas de barrom ao chegar água do pote era tirado para lavar minhas mãos, água encanada só dentro do casarão da fazenda. Na nossa pequena era colhida de um poço até para tomar banho. Luz? Só de vela. As panelas postas no fogo a lenha para esquentar o feijão e a carne de frango que haviam sido cozidas as cinco e meia da manhã, pois era pra tudo estar pronto. Além de trabalhar arando a terra, eu tinha que cuidar da casa que morava e também trabalhando na limpeza do casarão de seu Zeca. Mas sempre arrumava um tempinho pra mim. Passei para meu quarto e me vi ao espelho. Pele negra radiante e cabelos ondulados iguais a cachos de uvas e tão escuros como o céu na noite de chuva. Meus olhos castanhos combinavam comigo, abri um sorriso e prendi o cabelo com um lenço, para que não caísse na panela. E meu sorriso era largo. Agora de mãos limpas peguei um balde de água enquanto a comida ainda nem frevia me banhar, um banho rápido para tirar a Inhaca, o suor. Painho me bateria se eu estivesse fedendo na hora do almoço, e quando terminei botei um vestido branco simples sem decote nenhum e deixei os cabelos soltos por um tempo. Tempo era coisa que eu não tinha, apenas quando a comida freveu pude tirar um pouco de caldo para mim, pois meus irmãos não deixavam quase nada e muito menos painho. Agora que todos chegavam suados e fedendo, O mais velho era Bento, o segundo era Josias, o terceiro era Daniel. E painho era Joaquim. Todos eram fortes mas eram magros, a comida já servida na mesa alguns foram beliscando mas eu não permitia, tinham que tomar banho se quisessem comer, e de banho já tomado quando voltaram Bento me puxou para o corredor.

- Seu Zeca tá chegando, e painho disse que ele tá de olho em tu.

- Oxe, de olho em mim pra que?

- Parece que chega daqui a pouco, preocupe não que de qualquer jeito eu lhe protejo.

Bento era bom, ele não era ambicioso e me protegia das surras que painho tentava me dar as vezes sem motivo algum. Ele que me zelou quando virei moça, e me deu carinho nas horas mais difíceis. Eu sabia que seu Zeca era alguém bruto, ele nunca disfarçou seus olhares em mim desde meus onze anos, agora que eu tinha dezoito eu temia o que ele quisesse fazer comigo e painho permitisse. E não demorou muito para o som de seu automóvel chamar a atenção de todos que moravam pelas bandas da terra dele, e tivemos que ir vê-lo para cumprimentar e assim fiquei de cabeça baixa, já que não aguentava olhar pra cara dele. Era um homem gordo de cabelos brancos e olhos amendoados, ele andava com dois jagunços para sua segurança e quando viu meu pai o chamou para uma conversa. Conversa qual fiquei assustada. Eles entraram dentro da casa e fiquei apenas a curiar com meus irmãos o que poderia ser, Bento se mantinha em silêncio. A voz de painho me chamou para dentro da casa e eu fui, com medo e quase tremendo sem saber o que dizer, o que fazer. Apenas entrei agora pela porta da frente daquela casa bem iluminada com detalhes em azul e verde. Painho estava em pé e seu Zeca com uma bengala sentado em uma poltrona.

- Quer dizer que a menina é virgem? - Pergunta ele. Estava falando de mim?

- Sim senhor, nunca nem beijou, ou chegou perto de outro homem além de mim ou dos irmão. - Dizia meu pai. Ele estava falando como se eu não estivesse ali.

- Oxe que foi ? - Pergunto.

- Pois eu digo, casar num caso com preta não. Mas, quero uma aqui pra eu me aliviar quando chegar. Lhe dou a terra que tu quer, assinado no cartório e registrado, ninguém lhe toma Joaquim. O que me diz, vai querer ou vai largar?

- Vou querer sim.

- Avi painho o sinho tá me vendendo?- Pergunto sentindo meus olhos arderem, minha visão estava se nublando e não acreditava no que estava acontecendo.

Minha fala faltou e senti algo travando minha garganta, mãos ficaram meus braços e me arrancaram daquela sala me levando para um corredor, e quando chegará era jogada dentro de um quarto escuro e caindo de joelhos. Passando muito tempo sem acreditar o que havia me acontecido, na verdade a realidade ainda não havia me tocado.

Querida Juliana Livro na DREAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora