i don't judge people on their worst mistakes

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003

A claridade faz Noah resmungar. Sua cabeça latejava como nunca e sentia que explodiria a qualquer momento. Tateia a cômoda ao lado da cama, em busca de algum comprimido para enxaqueca e pragueja ao lembrar que teria que se levantar para buscar um copo d'água.

Tinha perdido a noção do tempo. Não fazia ideia de que horas eram, e muito menos em qual dia da semana estava. Havia sido uma noite longa, era uma pena que não se lembrava de absolutamente nada.

A conversa que tivera com os sete lhe causou tanto desconforto, que depois que foram embora misturou todas as bebidas que encontrou e as bebeu assim como se bebe um suco. Não tem noção do que aconteceu depois disso, mas as sequelas estavam presentes em cada parte do seu corpo. Parecia que um caminhão havia passado por cima dele.

- Noah? - alguém diz do outro lado da porta. O garoto revira os olhos e pressiona o travesseiro na cabeça, abafando o som. Não iria se levantar agora.

Duas batidas na porta. Parecia que martelavam em sua cabeça. Sussurros e palavras indecifráveis eram ditas do outro lado da porta.

- Tá tudo bem? - outra voz diz. - Te trouxemos água.

Noah franze as sombrancelhas. Como sabiam que ele precisava de água? O celular apita alertando uma nova notificação de mensagem e ele ignora, não as leria agora. 'Vamos embora!', a primeira voz diz em um tom irritado. Noah senta-se na cama e passa as mãos no cabelo tentando ajeita-los e parecer mais apresentável. Não o deixariam em paz nunca?

- Uau. - Bailey diz assim que Noah abre a porta. - Você está horrível.

Poderia lhe dirigir inúmeros xingamentos mas estava cansado demais para isso. E por mais que odiasse admitir, Bailey estava certo.

- A Mãe Diná aqui teve uma visão e me obrigou a vir com ela. - Bailey diz revirando os olhos e Sabina lhe dá um tapa na nuca.

- Eu não queria incomodar mas fiquei preocupada, era tudo muito turvo. - diz e fecha os olhos tentando se lembrar. - Primeiro você misturava diversas bebidas alcoólicas, depois saía pela janela do seu quarto e entrava no carro parando em um bar de estrada. Chegando lá, você bebeu mais e depois saiu dali entrando no carro novamente e dirigindo até um local com algumas pessoas. - sente uma leve pontada e nega com a cabeça. - Na verdade, não tinha ninguém. Você vai até esse local, sai do carro e coloca fogo nele. - Noah corre até a janela e se surpreende ao ver que seu carro não estava mais ali, não se lembrava de nada daquilo. - Depois disso, não consigo ver mais nada, então vim para checar se você estava bem.

- Obrigado. - é tudo que Noah diz. Era inacreditável. Essa maldição havia lhe tirado algo que estava com ele há anos, que por mais que fosse um bem material, sentia carinho. E se não fosse o carro? Poderia ser alguém que amava, ou pior, alguém que não conhecia. Era incontrolável e ele teria que se manter o mais sóbrio possível para que não machucasse ninguém. Não aguentaria viver com o peso de prejudicar alguém que tinha uma vida inteira pela frente, por algo que estava em sua responsabilidade.

004

Termina de se vestir e sorri ao ouvir a buzina do Jeep de Sabina pela terceira vez naquela manhã. A mexicana estava entediada, esperava por Noah faziam vinte minutos. Não que estivesse surpresa, já que uma visão lhe avisara que isso iria acontecer; só não parecia tão chato quanto estava sendo naquele momento.

Haviam combinado da garota buscá-lo pela manhã. Os que tinham carro iriam revezando até que ele conseguisse comprar outro automóvel. Sua família não desconfiava de nada. Bailey havia os manipulado para que não se lembrassem que Noah tivera um carro algum dia. Por mais que ele fosse contra, sabia que era o melhor a se fazer.

Trancou a casa e caminhou até a caminhonete que range quando ele abre a porta do carona. Sabina acelera e a brisa bagunça os cabelos da garota, o que faz Noah sorrir. Estava feliz em saber que se importavam com ele. Os poucos amigos que teve, não eram tão pacientes quanto esses estavam sendo, talvez porque soubessem o que é ser diferente e se sentir rejeitado.

- O que foi? - Sabina pergunta assim que entram na escola. O estômago de Noah embrulha ao ver todas aquelas pessoas juntas no mesmo lugar, destestava aglomerações. - Tá caladão desde quando saiu de casa.

- Nada. - engole seco tentando controlar a náusea. - Estava pensando sobre vocês se importarem tanto comigo. É diferente pra mim.

- Eu não julgo as pessoas pelos seus piores erros.* - Sabina dá de ombros.

O garoto apenas assente, pegando seus livros no armário. O enjoo ainda não havia passado e Noah sentia que se abrisse a boca mais uma vez, vomitaria ali mesmo.

- Nenhum de nós somos isentos de defeitos. Ou você acha que nascemos sabendo tudo? - ela pergunta retoricamente. - Há dois anos atrás éramos iguais, ou até piores que você. - Noah fica em silêncio. - Vem, vou te mostrar uma coisa.

Em fração de segundos, Sabina pega nas mãos de Noah para que ele a siga. A ação assusta o garoto, fazendo com que ele derrube um de seus livros pelo caminho.

- Obrigado. Achei que fosse vomitar com aquela multidão lá embaixo. - Noah diz em um tom ofegante assim que chegam no terraço e encosta na parede tentando recuperar o fôlego.

- Pra um super-herói você tá bem sedentário. - a garota brinca. - Eu tive uma visão, há uma semana atrás. - diz, agora em um tom sério. - Antes de você voltar pra escola. Nós estávamos aqui e você conseguiu controlar o fogo. - Noah se levanta. - Acho que você só precisa de prática.

A mexicana vai até ele e pega em uma de suas mãos, o levando até o meio do terraço.

- Ali. - ela aponta para um poste antigo. - Tenta acender aquela lâmpada.

Noah fecha os olhos apreensivo, precisava se concentrar ou tudo daria errado. Uma faísca acende em seu dedo indicador, mas logo se apaga. Ele bufa decepcionado.

- Você precisa de prática e calma também. - Sabina diz em um tom mais alto, agora um pouco mais afastada do garoto.

O garoto fecha os olhos tentando concentrar-se novamente. Abre-os e direciona o fogo à lâmpada no poste. Algumas faíscas são soltas até que a luz nasce. Sabina solta gritos histéricos e corre para abraçar Noah que estava paralisado, desacreditado de que havia feito algo dar certo.

Noah não era destruição, ele era luz. Mas não seria fácil provar isso para todos.

LIGHT | noah urreaOnde histórias criam vida. Descubra agora