Unhappy Meal

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   O médico ajeitou o jaleco, se mostrou desconfortável com a resposta mórbida de Violette. Não gostava de ser portador de más notícias e não queria magoar ninguém, principalmente Mavi.

  — Eu sinto muito, minha jovem. Fizemos algumas cirurgias nos seus olhos, mas nada que fosse capaz de te fazer voltar a enxergar. — colocou a prancheta debaixo do braço — foi um dano severo.

    Mavi continuou ajoelhada ao lado da cama, e apertou a mão de Violette com força, em negação às palavras do médico. Lavender mais uma vez revirou os olhos, e foi em direção ao doutor.

— Um tanto quanto incompetente, eu diria. Pagamos tão caro neste hospital para o tratamento da minha querida Violette, e não é nem capaz de tirar alguns caquinhos de vidro do olho dela? — questinou Lavender.

    Gumuz tomou aquela frase pessoalmente. Não se atreveu a ficar em silêncio.

— Devo alertá-la, senhora Lavender, que essa é uma opinião perigosa para se ter. - ele se virou, deixando evidente sua face corada de raiva. — Não deixe que sua estúpida ignorância te impeça de se ater ao estado da sua sobrinha com cuidado.

     Lavender não considerou ser retrucada, e ficou alguns segundos parada e analisando a colocação do médico, disfarçada de insulto.
" Estúpida? Ignorância?? SENHORA???" Pensava agitada.

— POIS OUÇA BEM! — ela exclamou alterada, porém ainda sem gritar. — NÃO ADMITO QUE---

    Os sons das vozes de Lavender e de Dr. Gumuz estiveram cada vez mais abafados cabeça de Violette. Ela deu suspiros lentos e baixos, já não suportando mais. Era tanta dor. Dor essa pelos seus olhos que abandonaram para sempre sua habilidade mais preciosa. Dor pela sua mãe, que por toda sua vida sempre sentiu tudo o que ela sentia em dobro. Dor também por seu pai. Seu querido pai, que sempre lhe amou e cuidou. Era uma conexão tão forte e sincera, que parecia nunca ter fim.
     Mas teve. Um fim tão impiedoso, que fez parecer que o próprio Destino se enfureceu com suas vidas felizes e resolveu arruinar tal felicidade. Violette chorou outra vez. Sua mente era sua pior inimiga.

    Mavi reparou que sua filha chorava. Ela presumiu ser a discussão sem cabimento entre Gumuz e Lavender, e se intrometeu bruscamente.

— Me desculpe a falta de educação e me meter na conversa, mas minha filha sofre. Quero saber se ela já pode sair daqui, se o tratamento pode continuar na nossa casa.

    Gumuz ficou aliviado pela interrupção bruta de Mavi, e retornou a falar sobre Violette.

— Mais uns três dias em observação, eu recomendo. Os ossos estão quase cicatrizando... — ele fez uma pausa e olhou para Mavi - se quiser, posso atender à domicilio para retirar o gesso.

     Ela acenou que sim, e olhou de canto para a jovem, e se aproximou.

— Querida... ouça. Vou voltar pra casa, e organizar tudo para sua volta. — o celular de Mavi tocou, e ela se apressou em atender. Antes de sair da sala, ela deu um beijo na testa de Violette. — Te amo. Estou feliz que esteja melhor.

   Lavender nunca gostou de perder uma discussão, e tentou retomar. Mavi a pegou pelo braço, com raiva, e a levou para fora. Gumuz sorriu e aproveitou a brecha.
— Eu volto depois, srta. Castile. Repouse, por enquanto.
Violette ficou em silêncio, e Gumuz saiu da sala.

                               [...]

     Rose dormia tranquilamente em seu quarto, e no momento em que seu relógio marcou cinco e meia da manhã, sua irmãzinha chutou a porta e pulou em sua cama.

— ROSIE!!! ROSIE!!! ACORDA É O SEU ANIVERSÁRIO!! VAMOS, ACORDA EU TENHO UM PRESENTE PRA VOCÊ!!!

Rose resmungou, com raiva por ter sido acordada antes da hora.

— Uh... Pembe... Eu ainda tenho trinta minutos de sono... — ela virou para o lado, fazendo sua irmã cair no chão - me deixe aproveitar, sim?

   Pembe levantou, emburrada. Não se daria por vencida. Pegou o celular que estava em cima da escrivaninha e fingiu estar ligando para alguém.

— Bom... então eu vou usar esses trinta minutos lindos pra ligar pro teu chefe te "disespensar" por hoje, porque hoje é o aniversário da minha irmãzona e eu quero ela só pra mim!! — ela deu uma risada maléfica, igual aos desenhos que ela via na televisão da vizinha. — Que tal???

     Rose se levantou rapidamente. Pembe tinha um longo histórico de sequestrar telefones celulares para ficar tirando fotos constrangedoras e mandar para contatos estranhos.

— Pestinha, me devolve!!

— Não devolvo nã-ão — Pembe saiu correndo para a cozinha, esperando que Rose a seguisse.

     Rose a perseguiu até a cozinha, onde encontrou Esmeralda, sua vizinha, segurando um bolo. Ela já era uma senhora de idade, daquelas que tinham os cabelos grisalhos, presos num coque, um xale vermelho preso nas costas, e um agradável e largo sorriso.

Esmeralda estendeu as mãos enquanto segurava o bolo.

— Feliz aniversário, minha menina! O bolo é bem simples, mas eu coloquei uma caldinha de chocolate pra ter gostinho — ela riu — vamos, apague as velinhas.

— FAZ UM PEDIDO! FAZ UM PEDIDO! — dizia Pembe, saltitando.

    Rose se emocionou. Ela chegou mais perto, fechou os olhos e fez um pedido. Depois que assoprou as velas, Esmeralda e Pembe comemoraram.

— O que você pediu?? Um pônei?? Eu quero rosa!! — disse a menininha, animada.
— Eu pedi.... — Rose fez uma pausa dramática — Pra que nossas vidas mudem!

     Pembe franziu as sobrancelhas e cruzou os braços.

— Isso não é um pônei!!

   Rose e Esmeralda deram risada e começaram a cortar o bolo, e assim as três conversaram pelos próximos quarenta minutos, até Rose se dar conta de que estava atrasada. Começou a correr pela casa desesperadamente, procurando por seus sapatos, por sua roupa e bolsa. Quando finalmente terminou de se arrumar, percebeu que estava mais atrasada do que deveria, e antes de sair pela porta, Pembe segurou sua mão.

— Rose, será que quando você voltar, você poderia me levar pra comer um McLanche Feliz? — Pembe esbugalhou seus olhos e fez beicinho — É seu "níver"....

     Rose sabia que não poderia fazer isso por ela, já que o dinheiro que ganhava trabalhando não dava conta nem de comprar feijão, quem dirá um lanche de fast-food que vem com brinquedo.

— Hãã... Não sei Pembe... veremos...
Rose fechou a porta e saiu correndo.

— Do jeito que tá é mais fácil eu ganhar um McLanche Infeliz.... — reclamou ela, enquanto voltava pra terminar seu pedaço de bolo.

     Após Rose pegar dois ônibus e andar sete quarteirões, ela chegou em seu trabalho, uma cafeteria chique da parte rica da cidade. Porém apesar de ter chegado muito atrasada, o lugar estava vazio.
      E isso era suspeito, pois era para lá que as pessoas ricas iam pra tomar algo depois de suas corridas matinais. Rose correu em direção a cozinha para começar a trabalhar, e lá não tinha nenhum funcionário além dela. Ela escutou passos pesados vindo direto do outro lado da cafeteria e abriu a porta quando Brunnei, seu chefe, apareceu.

— Ah Rose... — ele bufou — tinha esquecido de você.

     Ela olhou para os lados, esperando que ele pudesse explicar o que estava acontecendo.

— Bru, eu cheguei muito tarde ou os clientes que se atrasaram? — perguntou.

     Brunnei esfregou a nuca, sem jeito. Parecia estar atrasando o inevitável.

— Rosie... eu não sei como dizer mas... - ele pressiona o cenho — abrimos falência, e... Você tá demitida.

See In Me What I Can't Onde histórias criam vida. Descubra agora