Capítulo 1 - Giovanna Calvário

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olá poderosas!!! Vamos começar? Como vocês acham que eles irão se cruzar?

Uma ótima sexta-feira e aproveitem o lançamento Amazon: O CEO Tatuado (link nos comentários)!

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Tiro o caderno de dentro da minha mochila, abaixo a mesinha em frente a minha poltrona, quase não me deixando respirar e sorrio para as recordações que estão aqui. Depois de quase dois meses passeando pela Europa, conhecendo pessoas e não tendo um local fixo para me encontrar, estava retornando para casa em um avião muito apertado.

Obrigada, overbooking. Ao invés de me darem uma poltrona na primeira classe, me alocaram em um avião menor, de dois lugares de um lado e três do outro.

Olhei pelo corredor e fiz uma careta, percebendo que mesmo sendo pequeno, ainda tinha separação de primeira e terceira classe. Voltei minha atenção para o caderno e alisei a primeira foto. Assim que pisei em solo estrangeiro, peguei o celular e registrei meu rosto emocionado. Foram anos juntando dinheiro, comprando euro e pagando parcelado a passagem. Estadia? Seria em qualquer lugar, desde hostel até o sofá de alguma conhecida do momento.

Todos os lugares e nenhum, estava em busca de me sentir pertencente a algum canto, mas percebi que voltava mais perdida do que antes. Filha de uma mãe que não saia de casa e vivia cuidando da vida da rua, queria sair daquele buraco e deixar de trabalhar para a loja de roupas do shopping.

Tranquei a faculdade de administração, porque meu sonho era cursar direito. Tentei três vezes e nunca obtive nota suficiente, o que me deixava frustrada e contribuiu para que desse mais valor para esse mochilão. Só dependia de mim e dinheiro para executá-lo e não uma prova filha da puta, que me deixava nervosa e esquecia tudo o que tinha estudado.

Passei as páginas, lembrando de bons momentos e lendo trechos que escrevi para complementar a folha. Esse caderno foi preenchido na última semana, quando o surto de corona vírus chegou à cidade da Itália que estava. Mesmo que ainda não existisse alardes preocupantes, optei por ficar no hostel e criar um caderno de memórias.

Foleei e sorri ao ver a foto junto com um rapaz bonito, com cabelos bagunçados e olhar safado. Ele não tinha sido a primeira língua estrangeira que beijei, mas foi aquele que perdi a vergonha e me entreguei de corpo. Estávamos deitados no chão, tínhamos acabado de acordar e foi ele que me deu a ideia de registrar com fotos com aqueles que me envolvi.

Foi bom, mas não aqueceu meu coração. A tensão não me deixou relaxar, passei uma semana pensando que estaria grávida, mesmo tendo usado camisinha. Revirei os olhos passando de página, se isso realmente acontecesse, minha mãe finalmente conseguiria esfregar na minha cara o "bem feito, eu disse".

Dona Rosana achava que eu dava todas as vezes que saia para ir a uma balada, o que não era verdade. Também não desmentia, havia algo forte na minha mãe, que a tornava aquela típica dona de casa em um ser psicótico com limpeza. Depois do almoço, ela se sentava na varanda em sua cadeira de fio e observava o movimento de todas as casas.

Sabe a vizinha chata que não perde a oportunidade de ficar em silêncio? Pois é, minha mãe.

Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo um aperto de saudade no peito. Por mais defeitos que eu elencava da minha mãe, também tinha as melhores qualidades para expor, como sendo guerreira. Criou-me sozinha, fazendo faxina e vivendo da pensão do meu pai.

Eu era filha única por parte de mãe, mas do outro lado, havia perdido as contas de quantos irmãos eu tinha e nem conhecia. Seu José Calvário tinha nome de santo, mas a última coisa que ele era tinha a ver com santidade. Mulherengo e fértil, tinha várias mulheres no seu encalço e filhos para pagar pensão.

A última vez que tinha falado com ele, meu irmão mais novo tinha feito três anos, enquanto eu faria vinte e seis anos daqui uma semana. Era para estar comemorando em uma festa, cheios de desconhecidos, enquanto celebrava essa conquista. Mas tive medo, por conta da doença desconhecida que parecia se alastrar pelo país.

O Brasil estava ameaçando fechar os aeroportos e, o que era para ser diversão, viver cada dia em um canto, tornou-se meu pesadelo. Mudei a data da minha passagem, fiquei de resguardo por uma semana, saindo apenas para revelar as fotos e comer.

Queria estar viva para celebrar mais um ano de vida. Juntaria dinheiro novamente e faria o contrário, minha festa seria o primeiro evento da viagem, não o último.

A mulher que estava na janela observou disfarçadamente para o meu caderno e não me importei. Eram memórias, quem sabe eu mostraria para minha filha no futuro, com a intenção de incentivá-lo a ir atrás dos seus sonhos.

Eu estava realizada.

Eram muitas fotos e descrições para passar o tempo. O piloto anunciou que o avião iria pousar no meu país e sorri aliviada que eu precisaria apenas de ônibus para chegar em casa sã e salva. Para minha mãe barraqueira, que faz o melhor arroz, feijão e bife do mundo.

Guardei meu caderno, empurrei a mochila para o chão à frente dos meus pés e recolhi a mesinha. Fechei os olhos enquanto o avião descia, o frio na barriga era muito semelhante as sensações de quando me apaixonava por um dia.

Estava perita em amar com prazo determinado.

Apenas Hector, um espanhol quente e gostoso, que conseguiu tocar muito mais do que minha pele. Ficamos uma semana juntos, como recém casados e nos separamos quando ele voltou para sua cidade e eu, bem, continuei com minha peregrinação. Para ele, reservei três páginas no meu caderno de recordações. Todas as palavras em espanhol aprendi com ele.

O avião pousou, iniciou o taxiamento e me preparei para me levantar. Diziam que os brasileiros eram os mais ansiosos para sair do avião, na minha experiência, percebi que era característica do ser humano. Em todo lugar tinha os que mal esperavam o avião parar, já se levantavam e tiravam a mala do compartimento acima da cabeça.

Soltei o cinto, peguei minha mochila e coloquei nas costas enquanto outros faziam o mesmo. A saudade da minha mãe parecia aumentar a cada segundo, ainda mais quando lembrava que não conversei com ela na minha viagem. Dona Rosana repudiava o smartphone e só conseguia mandar notícias pelo meu pai, que repassava para a minha mãe quando lhe era conveniente. Não julgava, porque toda ligação de José Calvário era um fenômeno da natureza de tão catastrófico.

De pé, esperando liberarem a passagem da terceira classe, escutei murmurinhos de reclamações. Peguei o celular, conferi o horário e percebi que já passava de bons vinte minutos na mesma posição.

Senhores passageiros, solicito a atenção de todos e, se possível, retornem aos seus assentos para maiores informações.

Um eco de reclamação soou, a mulher que estava ao meu lado voltou para o seu banco, eu fiquei na poltrona do corredor, mas com a cabeça para frente. Deixei a mochila no meu colo e tentei não surtar, já que tudo de ruim começou a passar na minha cabeça por conta do tal vírus. Será que vão nos levar de volta? Não deixarão que desembarquemos?

O comissário de bordo anunciou que um passageiro da aeronave estava com sintomas de resfriado e com febre. As autoridades foram acionadas e precisaríamos esperar, porque há um vírus desconhecido no ar e não poderíamos ser aqueles que o trariam para o Brasil.

A parte em que seriam oferecidas comidas e outros esclarecimentos foi abafado, porque todos começaram a protestar. Pior que que contrair a doença, era passar para alguém e esse morrer. Peguei o álcool gel que tinha preso na minha mochila, lambrequei minha mão e olhei para a moça do meu lado, que parecia pedir de forma silenciosa.

Passei na mão dela, nós duas esfregamos nossas mãos e suspiramos.

— Pelo jeito, nossa viagem ainda não terminou — comentei tentando soas divertida.

— Se bem conheço os procedimentos da saúde, poderemos ficar quinze dias isolados antes de podermos voltar para casa.

Voltei minha atenção para o corredor e lembrei do meu aniversário. Se celebrar no Brasil era pior que no exterior, fazer isso sozinha, de quarentena, com certeza entrou no topo da lista dos fiascos.

Amor em Tempos de Quarentena (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora