Capítulo 2 - Humberto Farina

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Bom dia poderosas!! Sabadou! Vamos conhecer um pouco mais do mocinho?

Gratidão pela leitura! Com seu comentário, curtida e compartilhamento, ajuda no engajamento dessa história!

***

Desci as escadas do avião sentido o calor forte tocar o terno que vestia. Coloquei o óculos de sol, postei-me junto com os outros passageiros no aguardo de um ônibus para nos conduzir a algum lugar de isolamento e me amaldiçoei por ter ficado tempo a mais na reunião, que me fez perder o voo que não causaria tanto transtorno.

Porra!

— Que presente maravilhoso — uma moça ao meu lado resmungou olhando para frente e segurando as alças da mochila que estava nas suas costas. Suas roupas e jeito de se comportar lembrava os típicos hippies que evitava nos voos comerciais, por adotarem um protocolo de higiene diferente do meu.

— Pode me emprestar o álcool gel? — Um homem perguntou para ela, que prontamente pegou o pequeno tubo pendurado na sua mochila e esparramou na mão dele e de quem estava ao seu lado.

Observava tudo de canto de olho, como era possível ela gastar todo o seu suprimento de higiene com estranhos?

— Aceita? — ela estendeu o tubo virado em minha direção. Estava na ponta da língua recusar, mas a minha mão foi mais rápida.

Sorriu como se não tivesse reclamado há alguns segundos, guardou o álcool gel e voltou a encarar a frente como eu estava. Diferente dos europeus, o brasileiro tinha mais generosidade e empatia com estranhos. Não vivemos em guerras tão agressivas, ao ponto de ter que recusar uma boa ação por sobrevivência.

Amava a Itália, meu local de nascença, mas valorizava muito a terra que minha mãe escolheu viver quando eu era ainda criança. No final das contas, era mais brasileiro que italiano.

Peguei o celular, conferi o horário, a quantidade de e-mails que me aguardavam para analisar e outras várias mensagens dos meus diretores. Dono da empresa Massas Farina, vivia entre os dois países para lidar com os negócios alimentícios. Estávamos prestes a enfrentar uma crise sem precedentes por causa do vírus desconhecido que atingia a população mundial e mesmo que me arriscasse, fui até meu país de origem para lidar pessoalmente com alguns assuntos críticos de redução de fabricação antes de fazer o mesmo no Brasil.

Era resistente a tecnologia, vídeos chamados não me satisfaziam, para desgosto da minha mãe, que se preocupava com minhas viagens excessivas. Meu pai era um forte resistente ao Alzheimer, há muito não me reconhecia como filho, mas o irmão que ele tanto odiava e que deixou na Itália. Não o conheci pessoalmente, mas fui visitar sua lápide, pedindo desculpas por algo que nem sabia o motivo.

Odiava brigas.

Queria ir para a minha casa, tomar um banho e aproveitar um pouco dos filmes que marquei para assistir quando retornasse. Deveria seguir para um barzinho, encontrar uma companhia e curtir a noite fazendo bons exercícios com o quadril e a pélvis, mas contato físico estava fora de cogitação, até que esse vírus fosse contido.

— Desacostumei com esse sol. Meu Deus! — a moça do meu lado me trouxe a realidade. Vi-a colocar a mão sobre a testa, olhar para longe e não avistar nenhum ônibus em nossa direção. — Nem precisamos de quarentena, já estamos esterilizados.

Alguém riu baixo do seu comentário, mas não eu. O assunto era sério e teria muito mais por vir com essa onda de restrições.

— Podemos estar trazendo uma doença para o país que ainda não está contaminado. Muita coisa mudará, o assunto é sério — falei categórico. Ela virou na minha direção, ergueu a sobrancelha e me mediu dos pés a cabeça antes de voltar a posição inicial que estava.

Amor em Tempos de Quarentena (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora