A noite era fria e a neve caia livremente. O inverno rígido chegava ao seu ápice.
Uma jovem mulher contraia seu frágil corpo em meio às contrações alucinantes que por vezes faziam com que perdesse as forças e soltasse gemidos contidos de dor. Seu bebê estava chegando e ela não poderia ter seu bebê ali, naquelas condições.
Olhou para o céu e rogou para que Deus ouvisse sua prece e tivesse piedade da pobre criança que viria ao mundo. Suas costas doíam, a capa grossa pesava, suava frio e os intervalos de uma contração a outra se tornavam menores, era preciso correr.
Baixou seu olhar, a sua frente um sinal do céu surgiu, a torre da catedral, Deus afinal havia dado um sinal.
Seu querido amigo e confessor, Padre Francisco, não iria abandoná-la e a ajudaria.
Seguiu a passos arrastados até a catedral, estava trancada por ser tarde da noite, uma contração veio mais forte, estremecendo seu corpo. O frio não fazia diferença a ela naquele momento, só precisava de um lugar seguro para dar a luz. Deu a volta e em uma pequena janela viu a luz de uma lamparina acesa, provavelmente o padre estaria fazendo sua oração,como fazia toda madrugada sem faltar nenhuma.
Bateu à porta, caindo de joelhos por não aguentar mais seu próprio corpo, soltando um gemido estridente de dor, a mulher tentava controlar sua respiração, passava a mão em sua barriga, a hora estava chegando.
Padre Francisco abre a porta se assusta com o que vê.
- Minha filha! - Disse pegando-a pelo braço e ajudando-a se levantar sem demora, colocando-a para dentro da pequena casa e a encaminhando até uma pequena cama próxima a uma lareira que aquecia todo o ambiente.
- Me ajude, por favor meu amigo, me ajude. Meu bebê está para nascer, não chegarei a assentamento a tempo. - disse a mulher suando frio, tendo mais uma forte contração, seu rosto se retorcia, os intervalos eram mais curtos.
- Rubi... Minha filha, estou aqui e vou ajudar-te. - disse segurando a mão da pobre moça, pedindo para que Deus cuidasse dela e do bebê em uma oração silenciosa.No canto da sala um jovem rapaz estava olhando a cena toda espantado, sua presença mal podia ser notada.
-Elias... Venha cá - disse Francisco, acenando com a mão - chame Judith, diga que é urgente! Ela saberá o que fazer e como ajudar. Vá rápido meu filho. -
Sem responder nada, o jovem rapaz acena com a cabeça pega sua capa e sai pela pequena porta rapidamente.Padre Francisco cobre a moça que nesse momento suava frio e estava pálida com o rosto retorcido pela dor.
A passos ligeiros, caminha até o poço, pegando um pouco de água enchendo um pequeno caldeirão, volta para dentro da casa, fechando a porta atrás de si, sem demora pendura o caldeirão que havia logo acima da lareira para aquecer a água.
- Padre ... Preciso que me dê a benção - disse a fraca voz da moça em sua cama
Francisco caminha até ela, pegando o terço que havia sob a pequena mesa e colocando a estola sob seus ombros puxando um banquinho sentou-se ao lado da cama, segurando a mão da jovem tentando ampara-la.
- Eu lhe abençoo minha filha -disse traçando o sinal da cruz em sua testa.
A moça logo lhe puxa pela mão, confessando algo bem baixinho em seu ouvido.
O padre de meia idade se ajeita na pequena cadeira, dando a jovem uma benção que se dá aos enfermos, para que ela encontre a paz que precisava nos braços do Criador.
Um barulho estrondoso invade o espaço, Judith já chega retirando sua capa suja de neve, pendurando em uma cadeira e caminhando a passos rápidos até onde se encontra o padre e a moça.
- Sua benção padre - disse rapidamente- por favor, toalhas limpas e uma água morna, assim que o padre saiu para providenciar o que havia acabado de ser pedido, Judith se posiciona ao pés da cama, averiguando a situação para ajudar aquela pobre mãe a dar a luz.
Judith tinha por volta de seus 35 anos, filha de parteira, aprendeu o ofício desde muito nova. Havia trago muitos pequeninos a vida.
Tinha uma situação financeira até boa, havia se casado bem com um famoso comerciante de tecidos da cidade.****
O parto foi difícil, doloroso. Era uma menina, de cabelos negros, olhar marcante, se parecia muito com sua mãe. O choro da pequena cessou apenas quando encontrou o afago e carinho nos braços da mãe.
Rubi estava pálida, havia perdido muito sangue, levantou seu olhar para Judith, Francisco e Elias com um olhar de pura gratidão.
- Ela se chamara Tessa, minha doce Tessa, disse acariciando o rosto da pequena.
Ergue seu olhar para Judith, entregando-lhe a filha, - por favor cuide dela, como se fosse sua. Não a verei crescer e eu confio em você Judith, sei que tem condições de cuidar de minha pequena, disse com os olhos marejados. Olhou para o Padre que rezava incessantemente enquanto segurava seu terço entre os dedos acompanhado por Elias.
- Cuide dela e atenda meu pedido padrinho.
Seu último suspiro foi dado, a mulher havia padecido. Fechou seus olhos e de uma forma serena encontrou seu descanso.
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Cigana
RomanceO destino não pode ser controlado ou como muitos pensam a sorte de alguém não pode caber apenas na palma da mão. Lados opostos da moeda, realidades, lutas e ideologias diferentes. O que o amor é capaz de fazer na vida de duas pessoas?