Como costume de todo sábado, acordei após no terceiro toque do alarme, fiz minha higiene matinal e no mesmo pijama velho que estava, eu desci. Apenas ouvi a voz familiar de um homem e minha mãe se despedindo no andar de baixo. Bom, pelo menos dessa vez não haveria cueca alguma no balcão.
— Bom dia, sol da manhã! Como foi o jantar ontem? – Diz Catherine enquanto fecha a porta e vem em minha direção, apoiando seus braços no mármore do balcão.
Me virei de frente para ela enquanto abria o pote de geleia de morango e passava em minha torrada, eu mal conseguia enxergar se estava passando nos lugares certos pois meus olhos estavam levemente embaçados de sono.
— Foi tudo bem, como sempre fomos os últimos a sair de lá pois conversamos demais sobre qualquer coisa. A propósito, os Kheers que você me pediu estão no microondas. – Enfio a torrada na boca e encho meu copo de suco enquanto ouço seu mini gritinho de felicidade — Quem era o homem que saiu dessa vez? Acho que já o vi aqui antes.
— É o John, lembra dele? Aquele que dá aulas de francês onde você estudava. – A casualidade de suas palavras quase me fez cuspir meu suco.
— Ai, que nojo, você está saindo com o meu ex-professor de francês?! – Eu disse, indignada.
— Não não, ele não dava aula para a sua turma, ele só trabalhava lá. E mesmo se fosse, você já tem vinte e um anos, Flora, não é como se você tivesse dez.
— Aaah é claro, isso muda muito as coisas, Catherine. – A esse ponto eu já sabia que esse assunto não iria levar a lugar algum já que ela tinha razão e eu era orgulhosa. Ela sempre tinha.
Subi para o meu quarto novamente tentando não imaginar a cena dos dois e sentei-me a minha mesa de estudos. Planejava fazer uma rápida saída hoje a tarde para trazer alguns livros da enorme biblioteca que havia perto da faculdade, então decidi olhar os planejamentos para as provas e grifar os que seriam necessários.
Um dos livros se tratava de Críticas de Arte e outros de Serviços Museológicos. Muitos acreditam que História da Arte se resumia a avaliar quadros e estudar suas técnicas e autores durante todo o tempo, mas era muito mais profundo e complexo que isso. Apesar de todo o trabalho, eu sabia que estava seguindo pelo caminho certo quando ia a exposições, sentava em rodas de debate e o assunto abordado era de meu domínio, eu entrava em estado de êxtase.
É claro que dentro de minha área eu poderia migrar para várias outras, mas eu detinha a vantagem de poder escolher algo que eu realmente gostasse, que eram as pinturas e esculturas de mármore. Feitas à mão, pincel ou qualquer material, seja realismo, barroco, pinturas medievais ou renascentistas, desde Van Gogh à Rafaello, eu amava a arte das telas e o poder das mãos dos homens e mulheres que esculpiam dos pés a cabeça algo que perduraria por séculos. Nada como a junção de cores e sentimentos em uma tela. Nada como observar as expressões dos seres retratados ali em diferentes eras do mundo e pensar quais seriam as inspirações de quem pousou suas mãos naquele tecido.
Para mim arte era como poder provar todos os pratos diferentes de um restaurante a cada vez que o visitasse.
Apesar de amar pinturas, eu infelizmente não era muito boa nessa atividade, muito menos em esculturas de mármore. Eu sei que para ser um artista não é necessário talento, mas eu gostava mais da parte observadora e técnica, a prática ainda me deixava muito insegura.
Retomando meus planos para a biblioteca, decidi que iria pela tarde pois o funcionário do local que era meu amigo fazia esse turno e há algum tempo que não o via. O funcionário em questão era Alex, um cara que conheci quando cheguei na Universidade e precisava de ajuda com as bibliografias, pouco tempo depois o menino simpático de pele negra e lindos cachos começou a se mostrar interessado por mim, então todas as vezes que ia ao trabalho dele acabava ganhando descontos "especiais", mesmo eu sempre reclamando, já que eu tinha condições para pagar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Singular - Kwon Jiyong
FanfictionFlora nunca havia se sentido tão intrigada por alguém até pousar seus olhos sobre o homem que entrou naquele restaurante. A partir deste dia, o destino - se você for um dos que acredita nele - uniu estes dois indivíduos tão diferentes através de um...