Teatro

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Fazia alguns meses que eu não o encontrava pelos eventos da vida, podia imaginar o quão feliz ele estava com essa nova fase, afinal foi tudo que ele sempre quis, formar uma família. E finalmente tinha encontrado alguém que caminhasse junto dele nessa trajetória.

Para falar a verdade eu não estava nem um pouco confortável em estar indo até aquele teatro para ver nada mais e nada menos do que um dos maiores êxitos de sua carreira, me sentia uma intrusa, como se não fosse meu direito viver esse momento com ele.

Maaaaas, quando Paco chegou com o convite, animado, falando que o primo esperava nossa visita ao espetáculo, eu não tinha porque e nem como negar - pelo menos foi isso que pensei racionalmente -, afinal ele não podia fazer tanto efeito em mim como das últimas vezes, dessa vez eu também teria una pareja para mostrar que a minha vida seguiu, não dá forma mais espetacular do mundo, mas havia seguido.

Fui todo o caminho até o teatro tentando livrar meus pensamentos do turbilhão de memórias que vinham a tona junto da certeza de que eu não saberia o que me esperava naquele teatro.

Bom, a primeira coisa que fiz ao chegar, foi ver se existia algum rastro da família dele por lá, pois era tudo que eu queria evitar, não tinha estômago para lidar com todos os encontros de uma só vez, já estava sendo difícil demais tentar não demonstrar nenhum incômodo pra Paco, afinal, não existiria explicação pro meu nervosismo, estávamos ali pelo primo dele e Poncho era apenas mais um ator da peça, era essa afirmação que eu repetia feito mantra em minha cabeça.

Enquanto a peça não começava, eu tentava me concentrar em qualquer outro pensamento que pudesse surgir, mas para minha infelicidade, o único que veio foi o da última vez que eu havia visto uma peça dele, aquela vez em que fui escondida, pois estávamos evitando ser vistos juntos, para que nossa relação pudesse se manter bem e sem interferências.

Flashback - nadando con tiburones -

Estava sentada na última fileira do teatro, não era a melhor vista, mas pelo menos ali seria mais difícil de alguém descobrir a minha existência.

Ele sabia que eu estaria ali e disse que me faria uma surpresa durante a peça, eu sorria boba, ansiosa por saber o que ele tinha aprontado. Vivíamos uma de nossas melhores épocas, o nosso ápice, algo que não voltei a viver com nenhum outro homem que apareceu pela minha vida.

As luzes se acenderam e ele finalmente passou a tomar conta daquele palco, mostrando de verdade e provando para todos que a atuação era seu lugar e ninguém tiraria isso dele, uma determinação digna de virginiano! Como era incrível e surrealmente inacreditável estar ali presenciando su estreno, a felicidade era clara em seu olhar, seu corpo e mente completamente entregues aquele personagem - como eu o admirava-, enquanto o via em cena, só pensava no quanto eu era feliz por ter ele em minha vida, na minha história e na minha alma.

Ali eu vi, o quanto minha alma saltitava quando encontrava a dele, o quão forte era nossa ligação, e como eu tinha sorte em ter encontrado minha verdadeira alma gêmea no meio desse mundo tão intenso e louco.

Enquanto eu viajava presenciando seus movimentos no palco, ele sacou do bolso da calça nossa pulseira vermelha, aquela que ele disse ter posto fogo quando terminamos pela primeira vez, isso mesmo, assim que agradeceu a presença da plateia, ele buscou meu olhar e colocou novamente aquele símbolo de aliança em seu braço.

Eu ria contida observando aquela cena de poucos segundos, que provavelmente ninguém estava prestando atenção, mas que para mim foi o melhor presente que ele poderia ter dado, eu transbordava uma felicidade que me dava calafrios por todo corpo.

A peça acabou e o vi piscar pra mim ao sair do palco, me mantive escondida de tudo e todos, aguardando que o teatro esvaziasse para que eu pudesse encontrá-lo nos bastidores.

Assim que todos haviam saído, o produtor da peça veio me chamar, quem convivia com a gente e sabia das condições em que estávamos vivendo nosso relacionamento sempre tentava dar um suporte maior.

O encontrei tirando a maquiagem, já sem a camisa e com um sorriso que só aumentou ao me ver através do espelho. Fui até onde estava sentado, dei um beijo em seu ombro e lhe disse um "eu te amo", que só fez com que seus olhos brilhassem ainda mais, penetrando minha alma.

FIM Flashback - nadando con tiburones -

Foi nesse momento, lembrando de seu olhar, que me toquei que estava viajando pelo meu inconsciente e aquilo era apenas uma memória.

Ao cair na realidade novamente, suspirei tentando manter a calma e recuperar minha paz naquele teatro que só conseguia me deixar cada vez mais angustiada. Ali, com o amargo na boca, sabia que aquele lugar não era pra mim, porque por mais que eu fale e esbraveje ao mundo que nem me lembro da voz do Poncho, no fundo, eu sabia que com um sorriso ele faria meu mundo desmoronar na minha frente.

A peça começou, mirei a Paco, esbocei um sorriso trêmulo, tentava mentalizar que ele não estava ali, que eu o estava confundindo com outro ator, que aquela rouquidão na voz era de outro Poncho, daquele que não me pertencia mais, do que tinha seguido em frente, do que havia me dado um adeus definitivo e não temblaria em me ver ali.

Ao mesmo tempo, meu peito inflava de felicidade ao vê-lo tão feliz naquele palco, tão maduro, tão talentoso, tão concentrado e claro os flash passaram a ir e voltar como um gif na minha cabeça , me perturbando ainda mais. A inércia foi tomando conta de mim, naquela poltrona só existia meu corpo, pois minha alma havia saído para evitar maiores dores e perturbações.

Fui desperta pelo coro de palmas, que sinalizava o encerramento da peça. Não sei se ele havia notado a minha presença ali, apesar de estar nas primeiras fileiras, nossos olhares não se cruzaram por nenhum minuto e eu me sentia mais confortável desse jeito.

- Amor, vamos! - Paco me estendeu a mão e eu só a segurei, entendendo que iríamos embora, mas não.

- Para onde estamos indo? - falei já começando a ficar ainda mais nervosa em perceber que o caminho que fazíamos era o do camarim.

- Fomos convidados a conversar com os atores, você não viu o produtor nos chamando? - ele me encarou sem entender

- Produtor? Não, não vi. - tentei desconversar o nervoso que tomava conta de mim.

- CONTINUA -

Olá, voltei! Fiz essa fic bem rapidinha, porque queria poder repensar esse momento de uma forma mais trendy. Espero que gostem!

mi único adiósOnde histórias criam vida. Descubra agora