Sabe quando você sente que está caindo em um enorme poço de tristeza, mágoa, solidão, escuridão, e só deseja que o fundo chegue logo? Essa é a hora de perceber que as vezes o chão nunca chegará, e você vai apenas cair mais fundo encontrando seus maiores e mais terríveis medos
Agosto de 2020
O dia amanhece melancólico assim como Gabriel que levantou da cama tonto por causa do sono turbulento que ele teve. Seu corpo branco e nu passeia pelo quarto sombrio e escuro indo até o banheiro onde um espelho grande o esperava escorado na parede. Refletido no espelho, suas tatuagem estranhas se tornaram visíveis aos seus olhos, um dragão no seu ombro, um pentagrama no lado esquerdo do pescoço, uma cruz inversa no seu calcanhar direito e a um pequeno par de asas em seu ante braço esquerdo. Acredite se quiser, mas aquelas asas eram uma marca de nascença que o deixava intrigado desde quando se entedia por gente. Seu cabelo loiro e bagunçado caia pela testa quase cobrindo os olhos castanhos do homem que encarava suas olheiras fundas.
Após tomar uma ducha quente ele volta ao quarto encarando a mulher nua que acabara de espreguiçar na cama que se localizava no meio do quarto. Ela tinha longos cabelos negros e pele morena, lábios rosados e carnudos. Não se lembrando quem era aquela mulher ou por que ela estava ali, ele simplesmente a ignora esperando que a mulher faça o mesmo vestindo suas roupas e indo em bora da sua casa, mas, para seu desgosto, ela se enrola no cobertor e se aproxima do mesmo acariciando seus ombros e beijando seu pescoço.
_Bom dia, Matheus. _ Gabriel demora um tempo para entender quem era Matheus, mas logo se lembra que se tratava do nome fictício que ele provavelmente deveria ter usado noite passada.
_Bom dia. _ ele diz friamente tirando as mão da garota de seu corpo e se afastando, vestindo a calça e uma túnica vermelha.
_Bem, vou preparar um café da manhã para você_ a mulher diz indo em direção a saída do quarto. O homem simplesmente suspira e continua a se arrumar, pondo o crucifixo no pescoço e calçando os sapatos.
Após isso ele abre as cortinas deixando a mostra seu quarto cheio de pinturas, figuras e símbolos que muitos os julgariam estranhos. Era possível observar sal espalhado pelo chão (principalmente uma linha branca de sal na porta do quarto), uma cadeira de rodas encostada numa parede, cruzes e pentagramas espalhados pelas paredes mal pintadas do quarto. Elliot pega o celular e vê uma mensagem do bispo Francisco, que dizia de forma desesperada para que o homem fosse logo para a paróquia. Gabriel pega seu livro de orações de exorcismo e se dirige à sala do apartamento.
A garota já vestida sorri ao ver o homem e se senta na mesa preparando seu pão com manteiga, que era a única coisa que havia para comer. O rapaz, por sua vez, pega um pão e morde sem dizer nada._Você está com pressa Matheus? Esperava que pudéssemos passar mais um tempo juntos depois desse café. _ ela diz sorrindo enquanto come um pedaço de pão.
_Estou... Estou muito apressado inclusive se você puder ir embora seria um favor pra mim. _ o homem morde o pão e vira de costas para a garota olhando o celular vendo as outras mensagens de outros padres implorando ajuda.
_Ah, claro. Eu já vou. _ ela se levanta e pega a bolsa indo em direção a porta mas então olha para ele. _Queria te ver outra vez, seria possível?
_Claro, eu te ligo! _ Gabriel diz indo até a menina, pega o seu braço levando-a até a porta.
_Mas você não tem meu número ainda.... _ela diz mas Gabriel fecha a porta na cara dela e se senta numa cadeira da mesa fechando os olhos e respirando fundo. Gabriel era um homem sério e desligado de emoções, ele só amara uma pessoa na vida e essa havia partido de forma muito traumática, o que havia feito com que mesmo ficasse ainda mais amargo do que era antes. As vezes ele se pega pensando no passado, em como era sua vida quando o mesmo ainda cursava direito, antes da sombra ter simplismente desaparecido dos seus olhos e mostrado para ele a verdadeira realidade.
Mais um dia de trabalho o esperava. Feliz não estava, mas conformado já que desde os acontecimentos do ano retrasado se preparava para lidar com as criaturas que o esperavam na paróquia. Durante um ano dedicou-se a estudar demonologia e ocultismo chegando até a observar alguns cultos satânicos, sem participar é claro. Tudo que ele menos queria era chamar a atenção de alguma entidade do outro lado da sombra. Sombra era um enorme véu espiritual que impedia os humanos de ver criaturas sobrenaturais. A verdade era que a cada ano que se passava mais seres sobrenaturais atravessavam o véu e passeavam pelo mundo humano, não só demônios como vampiros, lobisomens, magos e anjos. Gabriel, porém, decidiu se meter apenas com os demônios como forma de se vingar, sua vida agora se baseava em vingança.
Depois de algum tempo Gabriel sai do apartamento se dirigindo a paróquia do bispo Francisco que o recebe na porta. Um idoso gordo de dentes amarelados com uma túnica roxa e um crucifixo no pescoço se aproxima do jovem com pressa.
_ Desculpe incomoda-lo senhor, mas tentamos de tudo. O poder do desgraçado era muito forte, nem nosso sal mais bendito segurou sua telepatia senhor. O demônio só se acalmou ao ouvir seu nome!_ ele diz abrindo espaço para que Gabriel entrasse na igreja. Era uma paróquia normal, cheia de vitral com imagens de anjos. O teto da paróquia era um grande vidro que neles estavam a grande pintura de Bruegel "A queda dos anjos rebeldes", os bancos para os fiéis eram distribuídos em duas fileiras separadas com um corredor entre elas que dava direto ao altar, onde era colocado enormes estatuas de Santos e de jesus Cristo na Cruz. No fundo do altar havia uma porta que dava direto a um corredor cheio de portas. _Acho que ele não vai sobreviver a mais uma seção. _ diz o bispo ficando pálido cada vez que se aproximavam mais da porta de onde saião gritos de agonia.
Sem medo, Gabriel abre a porta e se depara com um quarto iluminado porém macabro, paredes de pedra sem muito acabamento e uma cama no centro. Em cima da mesma estava um homem de cabelo loiro que se debatia na cama. Seus pés e mãos estavam amarrados por cordas o que fazia o homem ficar ainda mais inquieto, a pele estava arranhada, pálida e com machucados expostos. O suor que saia de seus poros manchava o lençol e a camisola hospitalar que o mesmo usava. Depois de observar bastante a figura que sofria amarrada ele percebe que seus olhos estavam diferentes, não dá forma normal de quando alguém estava possuído (olhos pretos ou completamente brancos), seus olhos estavam totalmente verdes, um verde claro que o fez lembrar de um passado não muito distante, mas, para que não perdesse a concentração, ele decide esquecer.
Gabriel se aproxima da cama e quanto mais ele de aproximava mais o homem se debatia. Era possível ouvir os ossos do homem quebrando a cada movimento não humano que o mesmo fazia. "Ele com certeza já está morto", pensava Gabriel enquanto abria o livro de demonologia e tentava descobrir que tipo de demônio era aquele e que tipo de exorcismo era o mais adequado, porém em nenhuma das páginas do seu livro ele pode descobrir que tipo de demônio se apresentava com olhos esverdeados. Nesse contexto, ele decide que deve tentar inúmeras formas de exorcismo até achar o mais eficaz, já que a sobrevivência do hospedeiro não era mais uma prioridade, pois o mesmo já devia estar morto.
Palavras em latim eram expelidas pela boca do exorcista enquanto os outros padres que estavam no cômodo fazia suas orações. Gabriel, com imensa coragem, se aproxima no possuído pondo a mão na cabeça do mesmo fechando os olhos e ouvindo os gemidos de agonia que saiam da boca do homem. Depois de algum tempo para sua surpresa ele ouve uma risada vinda da pessoa na qual sua mão estava depositada. Ele olha para ela de forma fria e vê o homem olhando para ele parado numa posição pouco confortável e com um sorriso enorme no rosto. Um sorriso tão aberto que dava a impressão que suas bochechas rasgariam aumentando ainda mais o sorriso.
_Poxa Gabriel, você não acha que essa oraçãozinha vai me deter não é mesmo? Esperava mais de você. _ Uma voz doce sai da boca do possuído e ecoa pela sala enquanto alguns dos padres desmaiam e outros se aproximam das paredes respirando fundo. Gabriel por sua vez apenas encara o homem surpreso. Ele conhecia aquela voz, era a mesma que o acalmava a anos atrás. A mesma que sussurrava ao seu ouvido na hora de dormir dizendo: "Boa noite, Gabriel". E ali naquele momento ele reconheceu aquele tom de verde que tanto o intrigou.
_Você? _ Disse Gabriel
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na Sombra do Seu Olhar
Mistério / SuspenseNum mundo sombrio onde humanos e criaturas sobrenaturais eram separados por uma antiga magia chamada sombra, anjos e demônios disputavam pela alma de um único jovem humano que tenta a todo custo não se envolver nas guerras travadas pelos que estão d...