Os dias de licença se passaram, e nada de diferente aconteceu, como penalidades pelo mau uso do capacete. O médico supervisor decidiu que Vifrith usaria o objeto por mais alguns dias para que não tivesse dúvidas sobre sua recuperação, mas que já poderia trabalhar normalmente. Em sua residência pôde ver pelo painel os indicadores que mostravam uma boa recuperação, e nenhuma manifestação do tumor. Depois de encerrar o contato com o médico, terminou seu desjejum e se arrumou para ir ao trabalho.
Abriu o carro, jogou a bolsa no banco ao lado e acessou pelo móvel a ignição. O carro não ligou como deveria, e Vifrith tentou ativar novamente por 3 vezes a ignição, sem sucesso. Revirou os olhos, e sem muita paciência e tempo para verificar o que havia de errado, voltou para sua casa para buscar a chave. Selecionou o modo manual, ligando o carro no mesmo instante. Ela já não se lembrava mais como dirigir um carro no modo manual, pois só precisou do carro assim, para fazer o treinamento de aprendizagem de condução. Cuidadosamente deixou a marcha no D e pisou no acelerador com mais força que deveria. O som do carro acelerado a assustou, e só não saiu da garagem porque o freio de mão estava acionado. Aos poucos foi pegando o jeito, até conseguir sair da garagem em segurança.
Vifrith achou que poderia ser fácil, mas o cuidado era redobrado com o modo manual, pois era obrigatório manter uma distância de cada carro na via. Quando extrapolava o limite, o painel do carro avisava da proximidade e possibilidade de penalidade. A rota para o trabalho indicava um percurso tranquilo e fluído, com velocidade média para chegar antes do início do expediente. Outdoors sonoros começaram a aparecer no meio do para-brisa, com propagandas. Uma era de um plano funerário que prevenia de um possível acontecimento inesperado.
Certo que Vifrith estranhou a propaganda, ela tinha uma boa expectativa de vida e um plano funerário familiar modesto. De repente o móvel começou a tocar junto com o alto falante do carro. Deu um leve toque no botão do volante e falou enquanto dirigia:
— Oi, mãe.
— Liguei para saber se você está bem.
— Estou melhor, cada dia o progresso é maior. Mãe, você pode me ligar daqui a exatamente... - olha para o painel e lê o tempo restante para chegar no destino - ...8 minutos? É que estou dirigindo o carro.
— Como assim dirigindo?
— Longa história, mãe. Já te conto. Programa aí.
O painel avisou novamente da proximidade com o carro que estava à sua frente, e isso irritou Vifrith. Dirigiu por mais 8 minutos, até chegar à sede do seu trabalho, a Memcorpore. Estacionou com dificuldade, e depois caminhou até a área do elevador, onde tinha algumas pessoas também aguardando. Subiu até o décimo quarto andar, passou pelo scanner corporal a laser, que sinalizou no visor uma perda de 2kg. Continuou caminhando e seguiu para o vestiário, para trocar de roupa. Vestiu o uniforme e ajustou os óculos com um pouco mais de esforço, por conta do capacete.
Seguiu em direção à sala de encontro dos profissionais daquele andar. Ali Vifrith podia checar sua rotina diária e os agendados para os próximos dias. Raramente uma pessoa era incluída na rotina diária, significava urgência no pedido. Emery se aproximou de Vifrith, oferecendo um café.
— Vi que está tudo em ordem contigo. Fiquei até mais tranquila!
— Nem tudo em ordem... passei pelo sensor e perdi 2kg...
— Não se preocupe com isso, e sim com o que está na sua cabeça monitorando a recuperação.
— Você está acompanhando?
— Estou. Acesso seu perfil com frequência.
— Não deveria gastar tanto tempo com isso...
— Tempo nós temos de sobra, e não custa nada saber de você.
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Imperium
Science FictionUm problema de saúde faz com que Vifrith seja incluída em uma lista especial de cidadãos, com tratamento explicitamente desigual em uma sociedade moderadamente igualitária. Com a ajuda de outras pessoas, ela luta para que a lista seja eliminada, ant...