Garoto mau

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Se tem uma coisa que eu detesto, é me atrasar para a escola. Não por mesquice e nem nada do tipo, é mais por conta do meu pai. O mais velho odiava atrasos, principalmente quando eles "colocavam meu futuro em risco" como ele costuma dizer.

Mas nessa manhã, acabou sendo inevitável eu não me atrasar. Fiquei a madrugada toda procurando notícias de gatinhos perdidos na internet, e quando me dei conta já eram quatro da manhã.

E agora, cá estou eu; acordei com o terceiro toque do meu despertador, e de quebra não encontro o meu sapato em lugar algum.

— Mas que...onde está essa porcaria? — Murmurei, vasculhando cada canto do meu quarto.

— Anda logo aí em cima! — Joseph gritou lá de baixo. — Mais uns minutinhos aí, e você vai chegar bem atrasada. - alertou.

— Já vou.

Sem mais um pingo de paciência para procurar, suspirei frustada jogando-me no tapete felpudo que ficava no canto do meu quarto. E foi dali mesmo que eu consegui enxergar meu sapato debaixo da cama. Não esperei nem mais um minuto, e o peguei correndo depressa para o andar de baixo.

Ainda nos degraus da escada, eu tentava me equilibrar na tentativa de pôr um dos meus sapatos no pé.

— Atrasada. — Joseph caminhou até mim, oferecendo seu ombro para que eu pudesse me equilibrar.

— Eu sei. — Apoiei em seu ombro, e terminei de colocar meu sapato. — E vou logo avisando que vou demorar mais um pouquinho. — Tirei a escova de cabelo da mochila.

— Hum, e o que pensa que vai fazer com isso?

— Pentear meu cabelo, drr! — Respondi, irônica. — E bom dia para você também, em.

— Bom dia! — Sorriu. — E você faz isso no carro. — Tomou a escova de cabelo da minha mão. — Agora vai logo tomar seu café da manhã, que o seu pai não 'tá de bom humor hoje.

— Acho que a pergunta é: quando é que ele está de bom humor? — Eu ri, recebendo um olhar de reprovação do mais velho, que negou inúmeras vezes com a cabeça, e apontou para a cozinha. — Hum, eu já vou. — Revirei os olhos, frustada.

Em passos largos e desanimados, fui até a cozinha, onde meus pais já estavam tomando seu café. Meu pai estava lendo seu jornal da manhã, enquanto beliscava um pequeno biscoito, como de costume. E minha mãe estava apenas na xícara de café hoje.

— Bom dia. — Murmurei ao ver meu pai me fitando com os olhos.

— Você dormiu demais, ou só enrolou para me provocar? — Ele perguntou num tom grosso, estragando todo o clima da manhã. — Porque não é possível que consiga se atrasar tanto assim num dia normal de aula!

Eu sabia que tinha me atrasado, mas isso não é motivo para um escândalo já de manhã! E conhecendo ele do jeito que conheço, retrucar seria pior ainda, então apenas continuei calada.

— E vê se não se atrasa mais, ok? — Ele continuou. — Poxa, é seu último ano letivo e você vai se desencaminhar desse jeito? Por favor né, se esforce mais!

E depois de desnecessários e longos cinco minutos de broncas, ele finalmente se calou, e voltou a ler o seu precioso jornal. Será que ele não percebe que quanto mais me dá essas broncas, mais eu me atraso?

BAD BOYOnde histórias criam vida. Descubra agora