Capítulo 3

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Paira sobre Londres um frio de rachar, um inverno nada gentil que se aproxima. O outono está indo-se embora e deixa para trás um rastro de folhas secas sem fim. São redemoinhos delas, esvoaçando pelo chão do parque de estacionamento do hospital e aterrissando em poças de água.

— Bem... — Maggie olha para mim enquanto caminhamos debaixo do seu guarda-chuva verde-musgo. Seus olhos se arregalam com espanto e interesse. — Que história excitante.

— Não brinque — repreendo, afastando um punhado de cabelos do meu rosto congelado.

— Não estou brincando.

— Você devia estar defendendo-me.

— E estou defendendo-a. Nesta história, eu estou do seu lado.

— Lá está você com essa idiotice de "história". — Paramos ao lado do meu carro. Enquanto eu abro a porta, Maggie muda o ângulo do guarda-chuva e continua a abrigar-nos às duas, embora entre água no meu carro. — Não há qualquer história.

— Você está em fase de negação, eu compreendo.

— Impressionante... Você tem sempre uma desculpa para mim. — Abano a cabeça, estupefata, e entro no meu carro, atirando minha bolsa e minha mochila sobre o outro assento. — Você é demais.

— Isto não é sobre mim. É sobre você. E onde há fumaça, há fogo. Você quer aquele homem.

Mas a garota tinha enlouquecido, só pode.

— Maggie, está chovendo pra caramba, já reparou? Tem água entrando no meu carro!

— Está bem. Desta vez, você escapa. Mas, amanhã, vou torturá-la até você confessar a verdade.

— Não há nenhuma verdade a ser dita.

— Claro que há.

De repente, sua determinação férrea faz-me rir. Eu nunca tinha conhecido alguém tão perseverante quanto Maggie. Ela é um osso duro de roer.

— Você é horrível. Vá-se embora.

Ela encolhe os ombros e recua.

Fecho a porta, dizendo-lhe adeus com a mão, e estendo um braço para enfiar a chave na ignição. Ainda tenho de esperar que o motor aqueça e vou demorar séculos a chegar a casa.

Suspiro resignadamente e, após uns minutos, arranco.

Quase uma hora depois, consigo um lugar para estacionar próximo da porta de entrada do meu prédio. Ativo o alarme do meu carro e atravesso a rua correndo. Paro debaixo do toldo estragado – sim, estragado – e procuro minhas chaves. O edifício onde eu moro é antigo, com a tinta marrom das paredes exteriores a descascar.

Abro a porta, empurrando-a, e entro no átrio, escapando da chuva. Vermelhos-escuros e com ferrugem, os elevadores surgem à minha frente. Apesar de eu morar no último andar, eu subo sempre pelas escadas. São só três andares, de qualquer modo.

Subindo, ouço algumas famílias discutindo. As suas vozes trespassam as paredes finas. Ou ocas. Chego ao meu andar e entro no meu apartamento. Este possui apenas quarenta metros quadrados, mas eu gosto dele assim, pequeno. Esse detalhe o torna aconchegante e acolhedor. Com os meus vinte e quatro anos de idade, já é bom que eu possa pagar a mensalidade de um apartamento sem ficar com o saldo da conta bancária negativo.

Preparo-me para tomar um banho, e o dia que tive volta a ensombrar-me. Meus pensamentos giram à volta daquele homem, lembrando-me das suas atitudes ruins e pretensiosas, do seu olhar frio e cortante. Recordar-me dos seus olhos azuis-claros deixa-me desconcertada, incomodada. O tipo é insuportável.

Paixão Avassaladora - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora