Capítulo 2

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Corre um dia normal, com muito trabalho para fazer, quando noto uma certa agitação histérica na enfermaria.

De relance, pelo canto do olho, vou captando um burburinho de excitação de enfermeiras que aparecem no corredor aos pares – algumas nem sequer pertencem à enfermaria de neurocirurgia. Perambulam todas pelo corredor, fingindo que estão fazendo não sei o quê, e depois vão embora, rindo como umas tolas.

Como eu já vi esse tipo de reação algumas vezes, reconheço os sintomas e desconfio do que se trata: de um homem.

— Em que quarto é que ele está? — pergunta a enfermeira Penny Jones à enfermeira Jessica Williams, enquanto as duas passam por mim no corredor.

— Não sei. Vou perguntar à Kate.

— Vou com você.

É claro que eu preferia não ter ouvido nada.

Continuo a empurrar o carrinho de refeições na direção do quarto N11 e o imobilizo perto da porta de entrada. Além de ser a hora das visitas dos pacientes, é também a hora do jantar.

Retiro a bandeja da cama vinte e um, que voltara a estar ocupada por outro paciente, e começo a levá-la.

Entrando no quarto, ergo os olhos e, estupidamente, quase piso o chão em falso, surpreendendo-me ao deparar-me com um homem vestido de terno escuro e gravata azul sentado na cadeira ao lado da cama vinte e um.

Ele não pertencia ali, claramente.

Ele era...

Desvio o olhar e tento manter-me desinteressada e indiferente, mas não consigo. Por dentro, sinto-me como se tivessem acabado de revirar minhas emoções e minhas convicções. Sinto tudo distorcido e ao contrário. E, enquanto me aproximo cada vez mais da cama vinte e um, é como se tivesse uma corda puxando-me, deixando-me bastante consciente daquilo a que eu tento ser indiferente.

Por Deus, eu estou completamente estarrecida com minha reação a um homem que nem sequer vi bem.

Não parece nada normal.

— Boa noite — ouço minha voz a cumprimentá-lo, firme e profissional, e quase respiro de alívio.

Nem quero imaginar se minha voz tivesse refletido a forma caótica como eu me sinto por dentro.

Na verdade, ouvir minha própria voz me fez voltar à realidade, captando as cores neutras e os sons contínuos e característicos do ambiente ao meu redor.

Pouso a bandeja na mesinha deslocável e me viro para o único paciente, que tem uma tala num braço, falando para ele educadamente:

— Está aqui o seu jantar.

Volto a virar-me, pretendendo distribuir as restantes bandejas.

Com que então ele não me respondeu.

Tudo bem.

Não me importo.

Simplesmente, ignoro.

Por outro lado, já estou acostumada a este tipo de situações e sei que por vezes as pessoas simplesmente não ouvem.

Dou míseros dois passos quando, de repente, o grave ribombar de uma voz profunda ricocheteia por todo o meu corpo:

— Não vai ajudar o paciente a comer? — Um silêncio sepulcral se abate na atmosfera já por si só pesada. — Não está à espera que eu faça o seu trabalho, certamente.

Sinto-me completamente indignada. Meu sangue acelera e corre furiosamente nas minhas veias. Quem é este estúpido?

Reprimo a vontade de fechar as mãos em dois punhos e me viro devagar, encarando o homem sentado na cadeira. Observá-lo de tão perto é um choque tremendo. Perco o fôlego e arregalo os olhos. O rosto dele me deixa boquiaberta e atordoada. Eu tinha sido pega numa armadilha. E sua pele... Meu Deus, sua pele lisa e bem cuidada me atrai de uma forma que jamais pensei ser possível. Nunca me tinha passado pela cabeça sentir-me atraída por um homem que não tivesse a mais pequena sombra de barba. A par disso, a linha do seu maxilar é bem visível, mostrando-se definida, e os seus lábios são tensos e sensuais. Os seus olhos estão erguidos para mim e brilham sob frios tons azuis-claros. Eu quase me esqueço que...

Paixão Avassaladora - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora