Indecisões

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A cada dia, o cerco estava se fechando. Não sabia mais o que fazer, esse meu plano de namorar com Nove se passando por outra pessoa, era totalmente maluco. Só agora conseguia ver isso. Meu maior medo era estragar tudo, mas, no fundo, lá na minha consciência, sabia que o risco era enorme.

Todos os dias pensava na melhor forma de manter esse plano vivo, mas não encontrava nada que me assegurasse. Eu sabia que uma hora ela descobriria, e mesmo que ficasse magoada, a minha esperança era que estivesse apaixonada a ponta de me perdoar.

Dois dias depois de nossa conversa, mandei mensagem para Nove marcando um encontro na escola.

- E aí, o que decidiu?

Olhei para ela, admirando sua beleza e tentei não gaguejar, pois o nervosismo estava quase me controlando.

- Eu aceito.

- Ah, sério?!

- Sim. Só preciso saber como vou fazer isso?

- Você só precisa se aproximar dele.

- E como faço isso? - perguntei.

- Ué, achei que vocês já se conheciam. Ele não está morando na casa que você morava?

Por alguns segundos havia esquecido dessa mentira.

- Sim. Mas apenas foi uma conversa formal.

- Já é um bom início, basta você perguntar se ele está gostando da casa. Você tem o número dele? Se não tiver te passo.

Ao mostrar seu celular, vi que ela tinha um carinho enorme por minha outra personalidade. No papel de parede, tinha ela e eu, juntos, abraçados. No nome do contato que pertencia a mim, estava "Amorzinho".

Era injusto o que estava fazendo com ela, não podia continuar a enganá-la, mas estava tão apaixonado, que não conseguiria terminar tudo e sumir assim, como se nada estivesse acontecido.

- Está bem, amanhã eu falo com ele.

- Ok. Me deixe por dentro de tudo.

- Pode deixar.

Ao chegar em casa, fiquei perdido nos pensamentos, minha mãe que me estranhava a cada dia, veio até meu quarto, com a intenção de me chamar para jantar.

- Filho, o que está acontecendo?

- Como assim mãe?

- Você está estranho. Não parece mais o Stefen de antes.

- Estou normal, mãe. Deve ser impressão sua.

- Não, não é. Você está apaixonado?

- Apaixonado? - devolvi a pergunta, com as bochechas coradas.

- Sim. Se estiver, fique tranquilo, estou do seu lado.

- Não estou apaixonado, mãe. Só estou crescendo.

Minha mãe me olhava declarando em seus olhos que não acreditava em minhas palavras, porém, não insistiu mais nas perguntas.

- Está bem, filho. Venha jantar.

Era difícil confessar o que estava fazendo. Acho que se minha mãe soubesse, ela me daria uma surra e me xingaria muito. Não queria tomar uma surra, até porque essa parte, Nove faria quando descobrisse minhas mentiras.

Já fazia alguns dias que Nove e Fred não se encontravam, quando mandava mensagem pra ela, me respondia friamente, então marquei um encontro, novamente em sua casa.

Fazia tempo que não falava com seu irmão, com certeza Pablo estava nervoso comigo. Ele que queria descobrir a causa do trauma de sua irmã, estava contando com minha ajuda, e meu desaparecimento deve ter o atrasado.

Naquele dia, não fui a escola, não por opção minha, mas uma chuva forte tinha se iniciado e a cidade inteira alagou, impedindo que os professores conseguissem chegar até a escola.

Aproveitei a deixa para ir até a casa de Nove. Chegando lá, fui recebido por seu irmão que ficou surpreso em me ver.

- Cara, você sumiu.

- Sim. Me desculpa, esses dias foram meio que enrolados.

- Beleza, mas não esquece da nossa missão, hein? - disse em um tom de voz baixo, apertando minha mão em seguida.

Entrei na casa e então deparei com o pai de Nove. Apesar de lhe dar boa noite, ele não me respondeu, virou as costas e voltou para sala. Envergonhado com o comportamento de seu pai, Pablo deu dois tapinhas em minhas costas, como sinal de conforto, e me levou até o quarto de sua irmã.

Nove estava usando o notebook, sentada em sua cama. Ao me ver, se levantou, e me abraçou, dando um beijo em seguida.

- Está fazendo o que, amor?

- Alguns trabalhos, mas não se preocupe, você não atrapalha.

Era difícil olhar para Nove, vê-la de vestido e não poder ter uma relação mais íntima. Suspeitando de minha pessoa, Nove começou a me fazer perguntas estranhas.

- Amor, você seria capaz de mentir pra mim?

- Mentir? Que tipo de mentira? - perguntei, assustado.

- Qualquer tipo de mentira. Toda mentira, que seja pequena, tem um grande impacto no final.

- Eu não costumo mentir para ninguém.

- Mas para mim, você mente?

Aquela pressão estava me deixando desconfortável.

- É claro que não!

Antes que ela continuasse, Pablo bateu na porta, nos interrompendo.

- Desculpa o casal aí, o pai está pedindo pra você emprestar seu namorado um pouquinho, mana.

Se olhamos entre si e então Nove se levantou.

- O que meu pai quer com Fred?!

- Disse que é coisa de pai para genro.

- Meu Deus. - ficou em choque, Nove.

- Não se preocupe, bebê. - disse, beijando sua testa.

Ao passar pela porta, Pablo me levou até o homem que na minha imaginação, já estava me esperando com um fuzil na mão.

- Qualquer coisa você me chama.

- Ok. - confirmei, fingindo não estar com medo.

O homem estava sentado em uma cadeira, olhando para alguns quadros na parede. Parecia ser seu quarto, pois além da cama, tinha seu porta retrato.

- Quer sentar?

Sua pergunta parecia ser uma provocação, pois não tinha nenhum assento além de sua cama, e era bem lógico que não sentaria em sua cama.

- Vou ser bem rápido. - sem ter tempo para pensar no que faria, o homem se levantou da cadeira, tirou da gaveta de um criado, uma faca, e quando percebi, a lâmina já estava prestes a cortar meu pescoço.

- Você tem apenas dois dias para terminar esse namoro com minha filha. Caso não faça isso, serei obrigado a ir até sua casa e te matar com essa faca. Não duvide, porque eu tenho coragem, sim! Estamos entendidos!
- Si... sim.

- Sim Senhor!

- Sim, senhor. - confirmei, com os olhos arregalados.

Sem pensar duas vezes, sai do quarto e sem se despedir de Nove, sai da casa, apressadamente. Pablo veio atrás de mim, perguntando o que havia acontecido, mas não conseguia falar e fazer nada além de querer sair daquele local.

(todos os direitos autoriais reservados ao autor Stefen Moonwalker)

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As mensagens que não tive coragem de te enviar.Where stories live. Discover now