O anjo

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Cheguei na faculdade, o que não demorou muito porque o prédio fica a uns duzentos metros de distância.

Era umas sete e meia. Ainda era cedo, até porque a aula só começava oito horas. Mas é sempre bom chegar antes, aí eu consigo pegar um lugar no fundo da sala de aula. Vai que é um professor chato...

Fui até a cantina pegar um cappuccino e depois ir para aula. No caminho, mandei uma mensagem para a Jack, perguntando se ela estava bem. Lógico que ela não iria responder porque estaria dormindo, é claro.

Entrei na sala e avistei o lugar perfeito. Ultima mesa do lado da janela. Obrigada Deus! Me sentei e fiquei esperando a tortura começar...ou a aula, como dizem a maioria.

Não que não goste de assistir às aulas, mas os professores que tenho não despertam muito meu interesse e essa meia hora foram as mais eternas da minha vida, num ciclo de tédio em quanto o resto da turma chegava.

OK! MUDEI DE IDEIA! QUEM É ESSE DEUS GREGO QUE ENTROU AQUI NA SALA? MEU DEUS EU ACHO QUE É O PROFESSOR DE INTERPRETAÇÃO.

Bem que falaram que era lindo e gostoso mesmo... Não consigo parar de olhar para ele. Está com uma camisa branca que marca os braços e o peito definidos, tem os olhos azuis, mas bem azuis mesmo e o cabelo castanho meio bagunçado e... "Olá volume na calça!"

Quando paro de "babar",  percebo que está toda a sala me olhando.

Merda, falei aquilo alto? Aja naturalmente!

Todos já estão olhando para frente, menos o professor, que olha para mim e abre um sorriso enorme, com aquela boca enorme. Retribuo com um sorriso tímido, olhando para baixo e ele vira para a lousa e escreve o seu nome. ‘Professor Marcos’. Ai meu útero! Acho que estou tendo orgasmos múltiplos aqui. JEZUS APAGA A LUZ! Não, não apaga, não sei o que sou capaz de fazer. Ok, chega.

Depois de 7 aulas, finalmente o primeiro dia de aula acaba e estou faminta! Sinto meu celular vibrar. Uma mensagem do Gabriel.
~Hey!  Olha pra frente!~

Quando olho, ele está na minha frente, e é uma das visões mais belas do dia. Depois do ‘Prof. Gostoso’.

Gabriel era o meu melhor amigo, ainda é, mas hoje nos apresentamos como namorados. Ele faz medicina na mesma faculdade, e está no quinto ano do curso O conheci em uma festa da medicina – claro - no primeiro ano e nos tornamos muito amigos. Éramos como os três mosqueteiros, inseparáveis. Sim, a Jack também é amiga dele. Já ficaram, mas é passado. Então, ano passado na festa de fim de ano, alguns minutos antes da virada, todo mundo estava procurando alguém para beijar quando o relógio marcasse meia noite, e ele veio até mim. Perguntei :

"- Não encontrou ninguém para dar uns pega à meia noite? "

" - Já sim e você?"

" - Olha, que garanhão! Eu não, acho bobagem isso. "

" - Garanhão nada! Nem sei se ela quer me beijar... "

" - Não devia estar lá com ela perguntando se ela quer então? Falta um minuto para meia noite"

" - Ela está na minha frente..."

Lembro de ter ficado vermelha, muda e em choque. Ele sorriu e ficou aquele silencio durante aquele minuto, até que a contagem cortou o silencio. Deu meia noite, todos em nossa volta estavam se beijando, e eu não sabia o que fazer, e muito menos demonstrei que queria. Não esbocei sinal de reação alguma, até ele falou feliz ano novo e se virou para ir embora. Chovia muito. Percebi que também gostava dele e iria me arrepender se deixasse ele ir. Fui correndo, desesperada, em sua direção, na chuva e quando o vi na rua, gritei. Ele parou e se virou para mim. Corri até chegar na frente dele e disse :

"- A pessoa que eu quero beijar está na minha frente também, sempre esteve!" O beijei. O beijo foi se intensificando aos poucos. Podem me chamar de vadia, biscate, puta, o que quiserem, mas transamos logo depois do beijo e foi uma noite incrível. Ele sabia o que estava fazendo, e como sabia!

Voltando para o presente, corri em sua direção e pulei em seus braços, lhe dando um beijo.

Ele era forte e eu amava sentir seus músculos, olhar em seus olhos cor de mel, sua boca, e sentir o cheiro de seus cabelos negros. Era bom relembrar que eu tenho um namorado, principalmente depois daquela primeira aula.

- Olá – falei, enquanto ele me colocava no chão.

- Oi - disse sorrindo - Tudo certo pra sexta, né?

- Ai Biel, não estou afim de sair sexta feira.

- Pode parar de frescura, Anna. É seu aniversário e vamos sair para beber e comemorar. Só estou esperando você falar o lugar. - falou bravamente, mas em tom de brincadeira - E o Léo, meu amigo, também vai com a gente. Acho que já está na hora que conhecer ele.

- Léo? - quem diabos é Léo?

- Meu amigo, aquele que mora comigo. Já te falei dele várias vezes, mas como tem essa cabeça de vento, deve ter esquecido né.

- Ah tudo bem então, chuchu! - e dei um beijo na bochecha dele.

- Falando em chuchu, cadê a Jack?

- Não veio hoje. Ela terminou com o Luiz e foi feio. Está lá em casa dormindo. É uma longa historia, depois eu te conto. E nosso almoço terá que ficar para outro dia porque tenho que cuidar da criatura que está em casa - eu e ele sorrimos.

- Ok então, também vou!

- Melhor não, ela precisa de alguém para cuidar dela.

- Hey - me olhou com uma cara de "o que está querendo dizer" - ela também é minha melhor amiga!

- Sim, mas no momento ela precisa de uma amiga mulher que entenda o que ela está passando. É recente ainda. Outro dia, ou mas tarde, da uma passada lá! Agora vou embora, te ligo mais tarde - dei um selinho, um tapinha na bundinha dele e fui.

Cartas de um suicidaWhere stories live. Discover now