Todos amam jogos

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O jantar foi servido com uma dose extra de tensão, claro que, só para Dimitry e seu pai, afinal, o ápice da noite ainda nem começará. Morgana estava sentada na ponta da mesa falando sobre o dia corrido no Coven, reclamando pela milésima vez da falta de atenção de Adelaide ao aprovar processos sem revisa-los.

Quem a visse no pijama de bolinhas com pantufas de dragão jamais reconheceria a mulher com saltos altíssimos e maquiagem impecável, roupas elegantes e sempre inabalável. Bruxa da classe mais alta, do tipo que cria os próprios encantamentos com a facilidade de quem faz um bordado a décadas.

Mas, ali, o fim do dia, era a mãe faminta e sonolenta de Dimitry, ansiosa para comer logo e ir jogar seu MMORPG on-line.

— Queria que tudo fosse tão fácil quanto no WizzardCraft, só invocar um dragão de classe S e pronto, nada de longas discussões ou processos burocráticos... — Apesar da fala nada politicamente correta, Morgana é uma das maiores defensoras da legislação da magia e dos pactos em nações. Mas quando estava irritada, parecia que o lado gamer competitivo dominava sua mente.

Não era uma boa noite para estar irritada, definitivamente.

A cabeça de Dimitry estava a mil. Não, estava a cem mil! Pois, para cada  mil argumentos possíveis de sua mãe, teria preparado cem mil contra-argumentos a altura. Estava pronto, armado até os dentes. Sem brechas, sem possibilidade de falha.

— Não seria uma estratégia muito boa, meu bem. Invocações como essa consomem quase todo o MP, deixando o invocador muito vulnerável a ataques diretos... — Arquimedes estava colocando os pratos a mesa, ainda vestindo o avental. As mesmas mãos que preparavam os venenos mais mortais, cozinhavam pratos de matar... Não literalmente, claro. — Precisaria de um bom suporte para te dar cobertura.

— Eu já tenho, o melhor de todos os reinos. — Ela piscou para ele, fazendo uma arminha com os dedos e atirando. Ele encenou ser atingido, morrendo por ela. Ambos riram. Dimitry permaneceu tenso. — Dimmy, querido, algo errado?

A graça acabou. O olhar preocupado de Morgana era fatal. As íris prateadas atentas a cada movimento da face do filho, lendo-o como se suas intenções estampassem sua testa. Arquimedes não precisou mais que isso para escapar para a cozinha, fingindo ter sentido cheiro da berinjela queimando.

— hum...Mãe...

— Não.

— O que? — O garoto se espantou com a resposta, observando-a arrumar a imensidão de fios negros do cabelo em um coque. Ela sempre fazia isso antes de iniciar uma discussão. Ele franziu o cenho, já começando a ficar mais irritado. — Você está lendo minha mente de novo?

— Claro que não! — Parecia profundamente ofendida com aquela acusação. — eu não faço mais isso, é que era um jeito mais fácil de saber o que você queria quando não sabia expressar em palavras ainda.

— Então "não" o que? — Questionou, ainda desconfiado que fosse um caso de invasão de pensamentos.

— Você não fica nervoso com coisas banais, sempre chega com propostas claras e objetivas, quando quer  ir a uma festa prepara um cronograma e uma apresentação... Então, quer o que seja, parece grave, então, não. — Morgana servia a própria taça de vinho, enchendo-a mais do que de costume. Ao beber o primeiro gole, revirou os olhos, respirando fundo. — Meu vinho favorito, minha comida favorita, você na mesa de jantar no horário certo. Certo, é algo grande. A resposta é: Não.

— Papai conseguiu um estágio pra mim! — Na cozinha, algo havia caído no chão. Dimitry rezou para que não fosse o arroz de couve-flor, qualquer a menos agrado seria crucial na decisão dela.

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⏰ Última atualização: May 18, 2020 ⏰

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A última fada madrinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora