Capitulo 5

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Elizabeth.

Estava enrolando meu marido a uma semana, não queria ter relações e ele não achou o teste então está bem nervoso, ultimamente ele vem mostrando uma personalidade que não conhecia, um pouco agressivo e controlador, no começo da semana ele chegou a erguer a mão para mim, tentei conversar com ele e acho que mudou. Hoje é Shabat então fiquei mais tranquila pois ele não iria tentar nada, fomos para casa de sua família e optei por ficar com as crianças na sala, ir para a cozinha não era uma opção, todas as mulheres estavam lá, apenas esquentando tudo o que fizeram um dia antes pois hoje não podia cozinhar, o Rabino veio almoçar conosco, talvez isso mantesse Freida calma na mesa, me levantei chamando as crianças para ir comer e me sentei perto de Baruch olhando para o Rabino que começou a contar uma história, hoje a oração ia ser longa.

Todos já haviam comido então comecei a ajudar e levar os pratos para a cozinha para por na lava louças, eu observava o olhar da Freida, se segurando para não falar algo de mim, mas dessa vez não tinha motivos, eu estava fazendo tudo certo.
Quando estava terminando, um copo escorregou de minha mão e caiu no chão, quando me abaixei para pegar os cacos o lenço que escondia meu cabelo, caiu também, me apressei para pegar e amarrar meu cabelo para colocar novamente, parece que esse tipo de coisa só acontece comigo.

"Tinha que ser você. Não seguiu os mandamentos como devia e por isso está passando por isso." - Freida falou sorrindo enquanto olhava para mim e me levantei com os cacos na mão.

"Eu tinha essa opção e usei ela, seria muito doloroso pra mim ter que raspar meu cabelo, vocês viram." - Eu ia sair mas ela continuou e não ia abaixar a cabeça para ela.

"Doloroso pra você? Só pra você? Eu também passei por isso, todas mulheres passam. Tudo é sempre tão difícil pra você!"

"Dessa vez vou ter que concordar, você é uma esposa muito descuidada" - Dessa vez foi a senhora Kapfer que continuou, eu não tinha o que dizer e nem como, as crianças foram saindo uma por uma para se prepararem para dormir e eu fui jogar os cacos fora, enquanto lavava as mãos via o sangue escorrendo junto com a água, acabei me cortando com o vidro, mas isso não era nada perto da vergonha que estava de sair daquela cozinha, quando sai Freida e sua família já tinham ido embora, a casa dela era ao lado. Me despedi dos meus sogros e sai com meu marido para irmos para casa, ele estava quieto demais e isso só me deixava com mais medo de falar alguma coisa errada, mesmo que eu sempre batesse de frente com ele, agora eu não tinha o que dizer.

Entrei em casa e tirei o lenço de meus cabelos, quando ia ir para o quarto Baruch segurou em meu braço me puxando para perto dele.

"Amanhã você vai raspar entendeu? Eu cansei disso Elizabeth, você está sempre fazendo alguma besteira diferente, eu só quero que você seja normal, eu tô cansado de ter uma esposa maluca!"

"Eu não vou raspar e não sou maluca! Sua irmã que é maluca, ela fala tanto de Deus mas esquece de tentar ser boa como ele, minha família não era assim!" - Senti o tapa em meu rosto e me afastei dele sentindo as lágrimas descerem por meu rosto, ainda não estava acreditando que ele teve a coragem de me bater.

"Olha você não fala da minha família assim! Você é mesmo uma péssima esposa, eu não queria ter feito isso mas não podia ter deixado você continuar falando."

"Você nunca mais vai tocar a mão em mim." - Falei em voz alta e sai rápido dali, entrei em meu quarto e peguei meu celular entrando no banheiro e me trancando para ligar para tia Emy, não estava aguentando mais.

"Tia Emy? Preciso da sua ajuda, compra uma passagem para Londres para amanhã, o primeiro voo, eu não aguento mais e agora piorou, o Baruch me bateu. Mas amanhã de manhã eu explico melhor isso, ele vai acompanhar a mãe dele para algum lugar e eu vou aproveitar para sair. Não vou levar nada, só uma bolsa, todo mundo me conhece nesse bairro. Tchau tia, fiquem tranquilas ok? Eu estou bem, só percebi que não preciso mais passar por isso, não queria ter que fazer isso por causa da minha devoção a Deus, mas ele esperou demais de mim."

...

Acordei cedo e me levantei vendo que Baruch já tinha saído, me apressei para me arrumar e peguei os documentos mais importantes, colocando todos numa bolsa, deixei o resto em baixo do colchão e sai da casa para ir para casa de tia Emy às pressas.

Quando cheguei Carly me abraçou, acho que sua mãe lhe contou tudo, foi difícil de explicar ontem mas Baruch não desconfiou de nada, pelo menos eu acho.

"Como você está? Nossa não imaginava que Baruch fosse assim..." - Disse Carly.

"Estou bem, eu também nunca imaginei ele assim, sempre foi tão tranquilo comigo, mas o problema não é só ele, a família, principalmente a irmã. Não quero abandonar minha religião, todo mundo diz e é verdade, não sou uma boa esposa, nem sei o que eu sou e estou saindo daqui para descobrir isso."

"Entendi, eu tenho certeza que você vai conseguir descobrir, é uma garota forte e não tem que ser uma boa esposa, você acabou de fazer 18 anos Eliza. Nós vamos sentir sua falta e você sabe que qualquer coisa é só ligar que estamos aqui, como você pediu o primeiro voo, eu comprei passagem para o das nove horas e já pedi seu táxi, melhor se apressar." - Quando ela terminou de falar a abracei, e peguei o dinheiro em minha bolsa a entregando.

"Obrigado tia Emy e Carly, por tudo, eu nunca vou esquecer disso, vou tentar manter contato com vocês."

"Já ia me esquecendo! Separei uma mochila com umas roupas da Carly pra você, mas são no estilo dela sabe, acho que vao servir mas vão ficar um pouco largas." - Ela deu risada com a mochila em mãos e peguei, tirei o lenço soltando meu cabelo e o amarrei, colocando uma blusa com capuz em seguida, antes de colocar a mochila nas costas, aproveitei para por as coisas da bolsa ali dentro, deixando-a em cima do sofá, não seria mais necessária.

"Mãe, o táxi chegou!" - Falou Carly perto do interfone e me apressei em descer com elas, as abraçando novamente.

"Eu vou sentir muito a falta de vocês..." - Disse antes de entrar no táxi e pedi para que ele fosse rapido, as pessoas do bairro me conheciam então era melhor eu ficar abaixada.

...

Já havia embarcado, com um pouco de medo já que era minha primeira vez em um avião, a parte mais difícil viria agora, ter que falar com minha mãe, ter que depender dela é péssimo mas isso não iria acontecer por muito tempo, assim que eu arranjasse um emprego iria começar a me virar sozinha, sem ela, seria difícil achar pois nunca trabalhei e não sei fazer nada, eu danço ballet desde pequena, mas sempre foi as escondidas, minha religião vê isso como forma de sedução.
Disquei o número de minha mãe que logo atendeu, pra minha sorte.

"Oi, aconteceram umas coisas por aqui e estou dentro de um avião agora, indo para Londres, preciso falar rápido porque logo vai decolar e vou ter que desligar o celular. Depois respondo todas suas perguntas, eu nunca te pedi nada então espero que me ajude agora, pode me esperar no aeroporto? Não conheço nada."

"Filha? Meu Deus, claro que vou te ajudar eu esperei tanto por isso, estou no trabalho agora mas vou pedir para o motorista do senhor Styles, meu patrão, ir te buscar, o motorista é meu amigo e com certeza vai ir, vou mostrar uma foto sua para ele e ele te acha tudo bem? Eu te amo filha, tenha uma boa viagem, estou preocupada e curiosa para saber o que aconteceu."

"Tudo bem, eu vou te explicar quando chegar, tenho que desligar, o avião vai decolar." - Falei rápido e desliguei a ligação, fazendo o mesmo com o celular, quando o avião começou a decolar parecia que meu coração ia sair pela boca mas tentei me conter pois as pessoas ao meu lado já me olhavam de forma estranha.

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