PARTE III

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YOU KEEP A KNOCKIN'(BUT YOU CAN'T COME IN)

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YOU KEEP A KNOCKIN'
(BUT YOU CAN'T COME IN)

Era verdade que a fortuna dos Park tinha partido da base.

Vindo de uma cidade pequena, a ideia de começar um grande negócio no ramo alimentício era, no mínimo, desafiadora. "É difícil para todos", a senhora Park dizia todas as vezes em que citavam suas raízes. Realmente, é estressante trabalhar com comida — requer um tipo de atenção e dedicação especialmente fatigante. A fadiga, contudo, não os impediu de atingir um belo patamar.

Riqueza tornara-se um eufemismo ao falar sobre os Park, o segundo clã mais influente da Coreia do Sul — ficando atrás apenas dos Kim, donos da Kim Group: construtora, imobiliária, rede de hotelaria, tendo também subsidiárias que atuavam nos ramos da decoração, beleza e costura.

O segundo filho, Park Chanyeol, era um importante socialite e, como se diz atualmente, digital influencer. Seu trabalho era, basicamente, ser rico. Ele comprava coisas, ia em festas, fazia fotos, livestreams, então ganhava por isso — patrocínios, propostas de aparição em diversos tipos de propagandas, além do bom e velho prestígio. O ciclo eterno do dinheiro: quanto mais você tem, mais você quer — e, por alguma razão, mais você ganha.

Jongin se lembrava de assistir alguns stories de Park Chanyeol no Instagram. Se lembrava dele ter uma irmã, Park Yoora, âncora do jornal do horário nobre, também dele mencionando a família, mas não se lembrava de nada sobre ter um irmão.

Deve ter lido em algum lugar, em tempos remotos de tão antigos, sobre um irmão. Ele não recordava com clareza, mas, com uma simples pesquisa na internet, conseguiu achar o nome que procurava. Park Kyungsoo aparecia nos sites sempre como um adicional — ou era citado como o filho mais novo do casal Park, ou como o irmão de Chanyeol e Yoora. Não havia matérias exclusivamente sobre ele, e Jongin não conseguiu uma foto sequer do rapaz no Google. Ele rezou para que fosse tudo um mal-entendido, uma história mal contada; rezou para que aquele tal Park Kyungsoo fosse uma pessoa completamente diferente do Kyungsoo que era seu amigo (de aluguel, mas ainda assim, amigo). Não sabe se quer vê-lo hoje, não sabe se quer descobrir a verdade, qualquer que seja.

Num momento, Jongin simplesmente desligou a tela do celular e olhou para as paredes do quarto. Passava tempo demais ali, era a conclusão a que tinha chegado. Não queria descer — havia dado ordens a Sehun para que, caso Kyungsoo chegasse, não o procurasse. Precisava de tempo. Pensar que talvez o objeto de suas divagações estava apenas a uma escadaria de distância o dava náuseas. Podia esclarecer tudo naquele minuto, mas o que preferiu fazer foi remoer a história internamente. Péssima decisão.

Chuck Palahniuk dissera: nunca deixe um personagem sozinho por muito tempo. Quando isso acontece, eles começam a pensar — e isso é péssimo para a sua narração. Mas a vida de Jongin não era um livro, ele não era um autor (e mesmo que fosse, deixaria seus personagens sozinhos pelas horas que quisesse; dias, até. Os faria pensar, usaria todos os verbos empobrecedores de narrativa, porque não havia outra alternativa para ele senão isso: pensar, e matutar tudo mais de uma vez até que seu desespero se torne maior do que pode aguentar).

HOBBIE$, kaisooOnde histórias criam vida. Descubra agora