Kim Jongin é cheio da grana, já Kyungsoo ㅡ cujo sobrenome não é tão importante ㅡ é só um universitário quebrado com problemas no encanamento. Enquanto um sai para fazer compras e renovar toda a decoração da casa semanalmente, o outro busca por meios...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Jongin passeava pela página online da sua loja de decoração favorita como se analisasse o cardápio de um restaurante meia-boca. Em dias normais, teria saído de casa propriamente arrumado, com o cartão sem limite no bolso, cheio de fúria e ideias de cores e texturas. Contudo, naquele dia, não tinha a mínima vontade de desgrudar a bunda do sofá. Is that any way for a man to carry on?, Donny Hathaway cantava em seu ouvido, como se o provocasse. Desligou a música antes que enlouquecesse.
Era pouco mais de seis da manhã e Jongin esperava Kyungsoo acordar e sair pela porta. Queria estar lá quando o Ex-Amigo de Aluguel Atual Namorado de Mentira fosse embora; queria poder dizer adeus, ou apenas tentar convencê-lo a ficar.
Mas, perguntava-se, vale mesmo a pena? Valeria a pena fazê-lo ficar, inventar alguma desculpa; até mesmo colocar a sua reputação acima do bem-estar dos dois outra vez?
Deixou cair o telefone, fechou os olhos.
As coisas precisam simplesmente acontecer, às vezes.
(...)
Kyungsoo tinha quase se esquecido do frio.
Depois de tantos dias indo e vindo por entre os ricos, frequentando restaurantes de grã-finos com o aquecedor ligado no doze, foi quase surpreendente lembrar-se de que o inverno estava chegando. Sempre parecia mais frio no subúrbio, onde o advento do capital era mais fábula que rotina.
Precisou andar algumas quadras depois de ter saltado do metrô diretamente para o seu bairro. Respirou fundo o ar gelado e sentiu-se, subitamente, revitalizado. Sentia que estava no lugar certo.
Subiu rapidamente pela escadaria conhecida, galgando de dois em dois nos primeiros seis e depois desistindo, tendo em vista seu preparo físico inexistente. Fazia muito tempo desde a última vez em que se vira em situação semelhante.
Tirou do bolso as chaves e procurou por aquela que abria a porta. Tentou encaixar e não conseguiu; voltou a procurar. Testou todas as chaves do seu molho, até que uma sensação estranha escalou pela sua espinha e se aninhou na sua garganta. Só para ter certeza, tentou outra vez. Então ouviu o pigarro.
— Troquei a fechadura — o dono do pigarro barulhento acrescentou logo em seguida. Kyungsoo não precisava se virar para saber que falava com o senhorio, o maldito dono do prédio de dois andares. Mesmo assim o fez e o fitou nos olhos.
— Desculpe?
— Troquei a fechadura. Você está despejado.
— O quê?!
Kyungsoo quase vomitou as próprias tripas.
O senhorio era um homem relativamente baixinho, tinha os braços roliços e uma barba sebosa que sempre continha alguma reserva de comida para situações emergenciais. Quase sempre usava a mesma peça de roupa ou, pelo menos — Kyungsoo esperava —, roupas incrivelmente iguais. Nunca, nunquinha, estava de bom humor: era o homem velho mais chato que o assalariado já tinha visto na vida. E olha que ele já viu muita gente velha.