#191970
Ouvi a porta se fechar abruptamente e o barulho se espalhou pela casa em um segundo doloroso.
Eu sempre era o lado frio da história.
Dessa vez não seria diferente.
Passavam das duas da manhã quando girei a chave na porta, a empurrei com certa dificuldade e me arrastei para dentro de casa. Na entrada, descansei as bolsas com os materiais de pintura e a mochila em um canto, as encostando na parede. Com os dedos dos pés abaixei o calcanhar dos meus all star, amarelos e completamente surrados, que há um bom tempo estavam tendo sua lavagem procrastinada. Falta de tempo ou preguiça? Talvez a resposta certa nunca fosse encontrada, então eu arriscava ser um misto dos dois.
Tirei o prendedor dos cabelos e os deixei caírem do jeito que eles quisessem sobre meus ombros e costas. Meus cachos grossos estavam embolados e eu já tinha desistido de os deixar definidos ou alinhados, rotina que durou pouco tempo após a transição capilar. Me arrastei até o corredor que dava para a cozinha e antes de entrar no cômodo, fechei os olhos e respirei fundo, sentindo a fisgada na têmpora já dar sinais de que no dia seguinte eu teria problemas caso não tivesse medicamentos para enxaqueca dentro do armário.
Eu estava começando a acreditar que realmente não tinha sido uma boa ideia ter aceitado pedir aqueles lanches e as cervejas depois do treino de tecido acrobático. Meu corpo estava cansado e dolorido de aprender as novas posições, e agora o interior da minha cabeça também latejava pela quantidade de álcool que eu tinha jogado pra dentro.
Como se eu tivesse sido levada para outro plano, e talvez tivesse mesmo, ao abrir os olhos me surpreendi ao te ver ali, sentado naquela mesinha de quatro cadeiras, todas de modelos diferentes, fitando a janela que deixava entrar um pouquinho de luz da rua. Às vezes eu achava que você era uma invenção da minha mente fértil, até porque, ninguém além de mim sabia daquela nossa história.
Meu coração chacoalhou dentro do peito, tomado de saudades, e perceber o efeito que sua presença ainda fazia em mim transbordou meus olhos que se encheram de lágrimas. O sorriso que esbocei em meio aquela felicidade estranha se interrompeu antes mesmo que pudesse ser notado por você. Você ainda não tinha me visto no momento em que enxerguei no centro da mesa, em uma daquelas embalagens de plástico, um pequeno bolo redondo e de cobertura azul.
Você tinha se lembrado, Taehyung.
No meio de todos os seus compromissos e obrigações, você não tinha se esquecido.
E dali de onde estava, você enfim me fitou com aquele seu olhar que parecia transbordar a cozinha dos seus tons acolhedores e que eu gostava tanto de chamar de casa. E parecendo não se importar nem um pouco com o estado caótico e quase deplorável que eu me encontrava, se levantou e veio até mim. Me envolveu com seus braços longos, e o cheirinho do seu perfume de morango tomou conta do ar envolta de nós dois. Me senti envergonhada porque eu devia estar com cheiro de suor, cerveja e salgadinho frito.
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sépia • Kim Taehyung
Fanfiction"De acordo com o sistema de cores RGB, você era mais vermelho do que verde e bem mais que azul. De acordo com o meu sistema, você era os tons capazes de me aquecer independentemente de qualquer distância que existisse entre nós." Textos | BTS - Kim...