Thomas não conseguia dormir. Em uma fração de segundos, a noite passou do mais sublime encanto ao mais terrível pesadelo. Perder a estrela que iluminara sua vida? Não, impossível. Mentir sobre sua origem, e magoar ela e os Wright? Não, muito cruel. Na verdade, ele conhecia o caminho certo... só não desejava segui-lo.
Imerso em pesar, ele solicita um chá com leite. Precisava recobrar o equilíbrio.
– Seu chá.
– Obrigado, Richard.
– Então, a senhorita Smith ficou feliz quando soube a novidade?
– Ainda não contei – Richard fica abismado – Não se preocupe, falarei durante o jantar – ele estava convicto. Ela o presenteou com asas, não seria justo cortar as suas... isso não é amor – Por que este semblante horrorizado?
– Sr. Walker, perdão... Acreditei que o senhor falaria ontem...
– Acalme-se. Não estou entendo, o que...
Passos duros ecoam no corredor. Com um misto de descrença e fúria, Cassie adentra o escritório.– Como você pôde mentir para mim? – Thomas compreende, rapidamente... ela descobrira – Então, se Emily não houvesse me parabenizado pela célebre notícia, eu não seria informada sobre o aparecimento dos meus pais?
– Cassie...
– Eu confiei em você!
– Escute...
– Por que escondeu a verdade de mim?
– Seus pais irão para a Irlanda em breve, eu não queria perdê-la, mas...
– Mas, o que? Seu egoísta, mentiroso...
– Deixe-me explicar...
– Não quero ouvir uma única palavra sua... traidor.
– Minha estrela...
– Nunca mais me chame assim. Não ouse se aproximar de mim, novamente. Você foi o maior erro e a maior decepção que já experimentei. Acabou – com a face coberta de lágrimas ela deixa a mansão, sem olhar para trás.
A verdade pode ser dolorosa, no entanto, a mentira, disfarçada de beleza, guarda um sabor amargo de destruição. Em segundos, o jovem casal assistiu ao fim de um amor puro, maculado pelo maior agente de sofrimento: a quebra de confiança.
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No seu quarto, Cassie vivencia uma dor profunda. Com três batidas na porta, James anuncia sua entrada.
– Filha, algumas pessoas desejam vê-la.
– Não quero falar com ninguém.
– Cassie, é importante – Com as mãos ao redor do pingente, ela caminha, ansiosamente, até a sala de estar. Os Wright estão sentados no sofá.
– Sr. Wright? Se Thomas o mandou...
– Sim. Porém, não pela razão que imagina. Cassiopeia... nós somos os seus pais – abismada, ela leva às mãos a boca – Nós nunca a abandonamos. Pensamos que estivesse... morta – Camille se aproxima dela e, toca o pingente, revelando o símbolo do infinito.
– Minha filha, o nosso amor por você sempre foi infinito como o universo. Será que posso... abraçá-la? – ela assente, e abraça a mãe. Pouco depois, Andrew se uni a elas. Ali, silenciosamente, Cassie vislumbra seu sonho distante tornar-se uma doce realidade.
Cassie não poderia estar mais realizada. Finalmente, era parte de uma família, algo capaz de alentar seu coração ferido. Ficou decido que se mudaria com os pais para a Irlanda. Mesmo sendo Wright, manteve o nome Smith, por gratidão e para lembrar-se do cuidado, contínuo, de Deus.
Assim, tão rápido quanto o caprichoso "tempo" gosta de agir, a fatídica data chegou. Cassie se despede de Mary, quando James adentra o cômodo, portando uma ornamentada caixa.
– Pronto, pode parar de fingir... Já abri meu presente – Ah, não. Com tantos detalhes em mente, ela não recordou o aniversário do seu zeloso tutor.
– James...
– Eu amei. Obrigada! – ela fica confusa – Como prometido ao Thomas, abri, somente, hoje. Ele deixou há uma semana. Disse que você esqueceu ao sair da mansão – O rebuscado telescópio, repousava sobre papeis estrelados. Ela comentou sobre o desejo de presentear o pai... e ele lembrou. Seu coração acelera, e um sentimento que, facilmente, identifica como saudade, a domina – Aliás, ele deixou esta carta. Pediu para entregá-la antes que partisse. Aconselhou que seria uma leitura, excelente, no voo até a Irlanda – "sarcástico, típico do Thomas", pensa.
– Obrigada, James... Por tudo – eles se abraçam, afetuosamente. Três horas depois, ela se prepara para voar em um jato particular da Starry Sky.
– Querida, tivemos um pequeno atraso. Partiremos em instantes, ok? – Cassie assente. Enquanto seus pais conversam com alguns amigos, ela abre a carta.
"Minha amada estrela,
Venho implorar seu perdão. Fui injusto e egoísta, quando a privei de informações acerca do passado. Embora, confesso, intentasse compartilhar o paradeiro dos seus pais, durante o jantar, não posso culpá-la por pensar diferente. Afinal, por uma noite, desejei que você não descobrisse, para prendê-la a mim. Porém, isso não pode ser chamado de amor.
Assim, ainda que não haja justificativas para o que fiz, gostaria de partilhar meus sentimentos mais profundos. Eu a amo, Cassie, com todo meu coração. Você transformou meu mundo. Como o brilho de uma estrela, iluminou meus dias, e me relembrou a razão de estar vivo.
Admito que, inicialmente, fiquei impressionado pela sorte de uma cristã, amante das estrelas, cruzar meu caminho. Mas, você me ensinou que não existem acasos... Apenas, propósitos. E Deus escreveu você no meu.
Uma linda moça me disse que somente o amor transforma a finitude da vida, em infinitude, porque quando amamos alguém, a tornamos eterna dentro de nós. Então, Cassie, independentemente de onde você esteja, está eternizada na minha alma e, no meu coração.
Para sempre seu, Thomas."
Cassie abraça a carta, enquanto lágrimas correm pela sua face. Dentro do envelope, um brilho dourado chama sua atenção. Um delicado par de asas, contém a seguinte frase: "O amor nos dá asas, e nos torna livres". Ela prende o pingente junto ao dos seus pais, e sorri.
– Está pronta, filha?
– Estou – ela entrelaça os dedos aos pingentes. "Sim, Thomas, você se tornou infinito em mim".
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Entre o Céu e a Terra
Short StorySerá que para cada um dos nossos questionamentos, o amor é sempre a resposta certa? Batizada com o nome de uma majestosa e imponente constelação, Cassiopeia Smith não possui a vida de uma estrela, mas certamente brilha como uma. Corajosa e divertida...