capítulo 3

686 50 11
                                    

Lagos - MG

Dominic,

Entrar em lojas e comprar móveis para casa. Apesar de nunca ter precisado fazer isso antes, porque primeiro morava com meu pai e depois aluguei um apartamento mobiliado e minúsculo na época da faculdade, é bem mais divertido do que imaginei.

Depois de escolher um conjunto de sofás e a geladeira, fui procurar por uma cama. Eu já tenho a minha e os móveis do meu antigo quarto foram trazidos para cá e levados para o endereço novo, então não preciso me preocupar com isso.

Escolhi uma cama de casal pra Robin, porque afinal, um homem solteiro precisa de espaço tanto quanto um casado... Ou não, mas espaço é sempre bom.

— Qual o próximo item? — O vendedor me pergunta e checo o papel na minha mão, antes de responder.

— Fogão e forno.

— E como prefere? Quatro bocas ou cinco? Também temos alguns modelos de seis... Pode ser cooktop e um forno elétrico, ou os dois a gás em um modelo único. Prefere um forno de embutir?

Caralho. O rapaz me leva para a área em que os produtos estão dispostos e uma fileira interminável de fogões está ali, além de fornos, coifas e outras coisas.

Simplesmente travo na hora dessa escolha. Se for optar por algo bonito eu ficaria com o forno de embutir, mas realmente não sei se é a opção mais prática.

Vou pedir a opinião do Robin outra vez. O cara é quem vai cozinhar, então ele que decida.

— Só um minuto... — peço ao vendedor, enquanto já digito uma mensagem.

"Robin... Fogão de quantas bocas? Com forno a gás ou prefere tudo separado? Me ajuda aí..."

Ele demora um pouco a responder e decido ligar para saber, mas antes de sair da tela do WhatsApp vejo que está digitando.

"Estamos querendo economizar ou está dentro do planejado? Porque se puder ser qualquer um, eu escolheria o forno elétrico, seja de embutir ou não. É mais rápido pra assar bolos..."

Bolos? Além de comida o cara me fala que faz bolos. Será que ele é gay? Não que isso signifique alguma coisa, mas acho que é bom saber, pra caso desça do carro de peruca e chegue aos ouvidos da minha família que agora moro junto com um namorado. Vai saber...

"Robin, posso fazer uma pergunta indiscreta?"

"Claro, mas escolho responder ou não."

Ok. Pode ser que ele não responda.

"Certo, você é gay?"

A resposta vem logo em seguida, com uma enxurrada de risos de duas formas: Emojis e palavras para demonstrar a risada e depois finalmente ele digita palavras compreensíveis:

"Que pergunta mais aleatória! Não, não sou gay. Eu tenho o Bernardo, lembra?"

O que isso tem a ver? Será que acha que é uma raça de cachorro muito hétero? É muito grande realmente, mas pra mim não faz sentido nenhum. Cada coisa...

"Só perguntei por perguntar. Curiosidade."

A próxima mensagem dele, no entanto, me pega de surpresa.

"Olha só, sei que vamos morar no mesmo apartamento. Me desculpe por dizer isso assim, mas como estou de mudança hoje preciso que fique claro. Eu sou hétero e vou continuar assim, mesmo que não saia com outras pessoas..."

O quê? Parabéns Dominic, agora o cara pensa que você está interessado nele. Idiota.

"Não, cara. Não viaja, perguntei por curiosidade só..."

"Tudo certo, então. E o fogão? Pode ser o cooktop e o forno elétrico?"

"Pode, sem ser o de embutir porque assim já podemos usar."

— Decidido — digo para o vendedor que me espera pacientemente.

Finalizo as compras e deixo a loja com tudo acertado. Farão a entrega em poucas horas e acredito que tudo esteja no lugar até a noite. Aproveito a saída para já comprar algumas coisas que tinha esquecido para o São Bernardo.

Estou preocupado por ser um cachorro que fica muito grande e torcendo para que seja bem treinado, ou então as coisas podem se complicar um pouco.

Verifiquei se o prédio aceitava animais, mas mesmo que tenham dito que sim, um cachorro desse porte não é a mesma coisa que um Poodle, mesmo ainda sendo um filhote e se tivermos problemas com isso não sei como Robin vai lidar. Não creio que dar ou vender o cão esteja em seus planos.

Cacete. Devia ter pensado nisso direito, o cachorro fica imenso.
Passo no supermercado antes de retornar para casa e compro algumas coisas básicas para abastecer a despensa. Acho que Robin acabou gastando muito com os aluguéis, então estou fazendo o possível para equiparar as coisas.

Claro que móveis são caros, mas muitas coisas eu já tinha e mantive, como a televisão e a mesa de cozinha. Já armários e guarda-roupas fazem parte do mobiliário planejado do apartamento.

Quando chego na nova casa, começo a arrumar as coisas e logo o local vai tomando cara de lar de verdade. Os entregadores chegam um pouco depois e já colocam as coisas no lugar, montam a cama e me deixam com a organização pesada que tenho pela frente.

Os sofás pretos na sala, uma mesa de centro que já presenciou muitos copos de cerveja e a televisão fixada em um painel, isso me faz sentir que foi feito algum avanço. Logo depois, leio o manual de instruções para ligar o fogão e coloco o forno no lugar.

Quando me dou conta de que finalmente terminei o trabalho, percebo também que já escureceu e que Robin deve estar chegando por aí. Aproveito e mando uma mensagem.

"Já estão em Lagos?"

Dessa vez sua resposta demora um pouco mais e imagino que esteja dirigindo, mas pouco depois, meu celular vibra com a notificação:

"Em uns dez minutos... Está no apartamento?"

"Sim, vou tomar um banho. Sua chave está na portaria, pode pegar e subir."

"Ok! Nos vemos daqui a pouco."

Na estrada - MG

Robin,

Deixamos nossa casa, a cidade de Cordilhéus e poucos amigos para trás quando o sol ainda estava se pondo. A viagem não será muito longa e logo que pegamos a estrada, me vejo pensando em todas essas mudanças e em como isso tudo pode ser desastroso.

Mas logo Bernardo, que está sentado em sua cadeirinha no banco traseiro do carro, me pede para ligar o som.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 24, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Que Seja DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora