Ana&Laura (O Perfume da Memória)

Casamento Aberto

*****

Laura sorri abertamente ao ouvir o que Ana falava. Ela sentia como se seu coração estivesse mais leve, e o sorriso de Ana contagiava cada vez mais o seu ser. Elas tiraram várias fotos, queriam deixar aquele momento registrado, pois Ana voltaria amanhã cedo para Inglaterra.

*****

Elas deitaram- se no chão, e resolveram tirar uma foto juntas. Essa foto ficaria guardada para sempre.

Sabe aquele sentimento feliz de encontrar alguém querido que você não vê há muito tempo? Quando na verdade você nunca esteve com essa pessoa, nunca a viu e nem a conhece? São assim as afinidades. Seu tempo e ritmo, nos aproximando dos nossos, nos reconhecendo do nada. E num instante, antes que essa pessoa diga, você já sabe exatamente o que ela quer. Na adversidade vocês choram juntos e depois riem. E rolam pelo chão como crianças. Brincando e vivendo, só por achar que a vida vale a pena.

*****

Elas se sentaram no sofá uma de frente para a outra, e resolveram brincar do jogo das cartas. E enquanto brincavam, as duas não paravam de conversar.

- Aí Laura, eu peguei um vôo de Londres para Austrália, só para conhecer um artista plástico que estava se lançando, Poul Waker
Ana dispara empolgada ao lembrar daquele momento.

- Não conheço
Laura responde fraco.

- Olha, é um homem de muito talento, sabe. Ele pintas umas telas com folhas secas imensas em várias cores, lindo!

Laura toma um gole de vinho enquanto escuta com atenção Ana falar sobre sua experiência.

- No dia, espalharam flores secas pelo chão, sabe. A gente ia andando no meio daquilo... Mas isso não importa. O que importa mesmo Laura, é que eu conheci aquele homem. Um artista genial, eu fiquei completamente atraída por ele.
Ana fala sorrindo abertamente.

- Espera, você transou com ele?
Laura pergunta surpresa.

- Anrram.

- E seu marido?

- Ah, toda vez que isso acontece eu conto para o meu marido.
Ana fala pegando de cima da mesa a sua taça de vinho.

Laura fica em silêncio por alguns segundos, e antes que o silêncio tomasse conta do ambiente, Ana se pronuncia.

- É, deixa eu te explicar. O meu marido, ele é a minha vida Laura, é meu parceiro, sabe. Entre todas as coisas no mundo, ele é a que eu mais amo, admiro, respeito

- Mas você expõe ele
Laura interrompe Ana.

- Eu jamais ficaria com alguém em público, e ele também não

- Ah, então ele também trai você?! Uau...
Laura fala surpresa.

- Não, não existe traição. É claro que ele tem os casos dele, mas a gente sabe tudo um do outro.

- Ana, você transa com o seu marido né?

- É claro que não, mas a gente sabe tudo um do outro.

- Ah, não?! Isso é demais pra mim...

- Espera

- Eu vou pegar uma bebida
Laura fala surpresa se levantando com sua taça, depois pega a taça de Ana e vai até cozinha pegar mais vinho. Ela volta confusa e pensativa sobre o que Ana acabara de dizer. Ela entrega a taça de Ana e volta a se sentar na sua frente.

- Nós dois não temos desejo um pelo outro.

- Mas já tiveram?

- Ah, já sim. Há muito tempo
Ana fala colocando sua taça de vinho em cima da mesa.

- E por quê que vocês não se separam?

- Porque você tem que ter alguma coisa eterna na vida, né Laura. Se você é leal a quem você tem amizade, aquela relação tá garantida. Agora no fogo da paixão, mesmo os dois sendo leais, tudo pode acabar em um segundo.

- Mas a vida é assim, não é? Tudo pode acabar em um segundo.

- Olha aqui, eu não tenho uma teoria sobre o mundo não. Só da maneira como eu quero viver.

- Eu prefiro chamar isso de falta coragem de viver a dor de uma separação

- Exatamente isso.

- Então você não quer sentir dor nunca?
Laura pergunta intrigada.

- Eu não quero sentir dor nunca.

- Entendi...
Laura sussurra.

E depois de cinco segundos de silêncio, Laura faz um questionamento a Ana:

- E o quê que você faria se um dia você se apaixonasse perdidamente por uma pessoa?
Laura a olha séria, e se surpreende com a resposta não esperada.

- Se um dia eu me apaixonar, eu abandono a paixão e volto pro Bernar.

- Ah, Ana! Ana, pelo amor de Deus... Eu quero viver uma relação em que as pessoas sejam leais e sejam fiéis sem o menor esforço. Desculpa, mas... É muito triste não poder se aprofundar numa relação.

- É uma questão de escolha. Pra mim, se aprofundar numa relação é não ter segredos com quem se ama. Você tem segredos..
Ana fala ironicamente.

- Eu?!!

- Sim. Vai me dizer que nunca teve um sonho erótico com outra pessoa?

- Já...

- Contou pro seu marido?

Laura não sabe o que dizer, e ela tem a certeza também de que Ana sabe a resposta. Ela toma um gole de vinho e Ana, para não deixar o clima de amizade se romper, muda o rumo daquele momento. Elas se levantam quando Ana a desafia a jogar o jogo do alvo. Elas colocam uma música enquanto jogam e sorriem. E o momento de tensão, outra vez se foi.

"Frente a frente as cegas, é um duelo ou um encontro? Já mostraram suas garras como bons rivais. Frente a frente as cegas, é um duelo ou um encontro? Empunharam suas taças, cruzaram punhais. Travesseiro e chiclete, espaguete e edredom, as duas numa farra corre que tá bom. Trás pipoca e sorvete, serve mais um Chandon porque isso é coisa de mulher, tem marca de batom.[...]"
Música de Oswaldo Montenegro.

As duas brincaram por muito tempo, elas riam do quanto Ana era péssima para acertar no alvo. Ela errava a maioria e Laura, acertava quase todas. Laura vendou os olhos de Ana, e com o resultado já esperado, Ana errou o alvo outra vez. Elas gargalhavam sem se importar com o barulho. Era como se só existisse elas duas ali no meio daquela sala, brincando, pulando, gritando, sorrindo, como duas crianças. Foi a vez de Ana vendar os olhos de Laura, que acertou em cheio o alvo. Ana sorriu surpresa do tanto que Laura era boa. Elas sentaram-se no sofá em altas risadas, ofegantes de tanto que estavam sorrindo. Laura não tinha percebido ainda que aquela noite que era para ser triste e solitária, estava cheia de cor e alegria. E que aquela dor que estava sentindo, tinha sido estancada pela presença de Ana que chegou inundando sua alma de sorrisos.

*******

- Vai, qual é o próximo tema?
Laura pergunta depois que havia se recuperado da crise de risos.

- Vamos brincar do joga de psicologia boba. Fecha o olho.

- O que é isso?
Laura pergunta de olhos fechados.

- Abre o olho. É um jogo de psicologia boba. Fecha o olho

Laura obedece aos comandos de Ana e torna a fechar os olhos com uma expressão confusa.