Ana&Laura (O Perfume da Memória)

Furacão Ana

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Laura obedece aos comandos de Ana e torna a fechar os olhos com um expressão confusa.

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- Imagina que você tá andando numa estrada, tá. Quando você estiver se vendo nessa estrada, você me fala.

- Tô vendo
Laura fala depois de cinco segundos.

- Essa estrada é de asfalto ou de terra?

- É de pedra.

- Tá. Continua andando. Tem um bosque a sua direita, tá vendo o bosque?

- Tô, tô vendo

- Nesse bosque entra muito sol, pouco sol ou nenhum?

- Muuuuito sol!
Laura fala junto de um sorriso.

- Continua andando

- Tá...

- Vai chegar num laguinho. Você se joga no lago, bota a mão no lago ou fica olhando?

- Ah, eu boto a mão pra vê se tá gelado
Laura fala sorrindo de lado.

- Tá. Continua andando. Tem um caminho bem estreito, tá vendo o caminho?

- Tô vendo.

- Tem uma onça dormindo atravessada no meio do caminho, tá vendo a onça?
Ana pergunta empolgada.

- Tô vendo!
Laura responde sorrindo sarcasticamente.

- Você sobe na árvore e fica lá até a onça acordar e ir embora, você dá a volta bem longe ou você passa devagarinho pela onça pra ela não acordar?

- Eu passo devagarinho em cima dela pra ela não acordar....

- Continua andando.

- Tô andando

- Tem um muro impedindo a passagem, tá vendo o muro?

- Tô vendo

- Sobe o muro

- Ah, não quero não...

- Sobe o muro

- Tá bom, subi.

- Ok. Quê que tem do outro lado?

- Uma casinha.

- Abre o olho.

- Iai?
Laura fala abrindo os olhos confusa.

- Você é uma romântica do século dezesseis que não consegue se adaptar ao seu tempo. Você é otimista mesmo sentindo dor. Não tem medo do sexo, mas também não é atirada. Você quando tem um problema, enfrenta. E quando alcança um abjetivo se acomoda e fica feliz em cima dele.

Laura a olha mais confusa ainda.

- A estrada é tua relação com o tempo. O lago é tua relação com o sexo. A onça é o problema a ser enfrentado. O bosque iluminado é o otimismo. E a casa é a acomodação. E o jogo é bobo como eu falei.

- Como consegue ser assim, Ana?

- Assim como?

- Assim, tão inteligente... Tão cheia de cor?!

- Ah, Laura... Eu só decidi aproveitar as coisas que me fazem bem e deixar as ruins pra lá, evitar o quanto eu puder evitar.

Ana sorri, enquanto Laura se surpreende com suas falas. Elas se levantam e vão para o meio da sala, onde Laura coloca uma música e Ana começa a sambar. Ana tenta ensinar a Laura, que não tem jeito nenhum para dançar.