c a p i t u l o 3

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m i a 

A conversa, ou melhor discussão, com Peter apesar de descontrolada havia sido aliviante. Ok, não foi totalmente descontrolada, mas eu não esperava soltar tudo daquele jeito, foi muito espontâneo, e pra variar um pouquinho eu quase chorei na frente dele, não de tristeza, eu só odeio brigar com as pessoas e sempre que isso acontece eu choro. Vê se pode!

— Mia você 'tá bem? 

— Sim, Emy, tudo certo. Relaxa.

— O que meu irmão fez agora?

— Peter? Nada, juro ele não fez nada. – sorrio fraco – Na verdade a gente até conversou, meio que se resolveu, eu acredito.

— E eu acredito que ele não te provocou de novo. Me faz de boba mesmo, Mia.

— 'Tô falando sério, ele tentou mas eu meio que dei uma leve surtada e falei que eu não entendia essa raiva. No fim, ficou só por isso.

Emma continuou desconfiada pelo resto da manhã, certeza que vai tirar satisfação assim que chegar na casa dela. É tão difícil acreditar no que eu disse que aconteceu? Tudo bem, eu entendo a raridade da situação em eu tentar entender as falácias dele, diretamente com ele.

A BG é uma escola gigante, ótimo pra se esconder e péssimo quando se é aluno novo, mas depois de tantos anos andando pelos mesmos corredores cada um acaba tendo um cantinho pra matar aula, ou ficar com alguém, ou simplesmente passar o tempo depois da aula, é relativo. E pra uma primeiro dia de aula as coisas já estão intensas de mais pro meu gosto, só queria um último ano tranquilo. Depois de todas as aulas, pego só alguns cadernos e coloco na bolsa, deixo o resto no armário e vou pro terraço.

Sim, terraço, quando descobri que existia uma passagem pro terraço na escola foi a coisa mais mágica do mundo. É libertador. As coisas aqui de cima parecem ser tão tranquilas, sem nenhum tipo de conflito ou de perturbação, nunca vi ninguém aqui – é como se fosse meu  espaço – e nem Emma sabia dele.Ele era praticamente todo aberto, tinham algumas redes de energia e refrigeração mas as principais ficavam em outra parte da escola, essa sim era sem acesso. Eu simplesmente gostava de vir aqui após as aulas, olhar as paisagens, detalhe por detalhe; cor por cor, era um costume do meu pai que, nas horas livres, ele fazia junto comigo.

Talvez eu goste muito de observar as paisagens, por causa dele.

Meu celular toca, e vejo uma foto do meu irmão no visor. Que milagre, penso, ele nunca me manda mensagem pra nada. 

"Vem pra casa logo, o pai vai viajar e quer se despedir"

Viajar? Pego minha bolsa e volto pra casa, com uma sensação estranha, ele nunca faz viagens assim do nada.

✨✨✨

— Mas 'tá tudo bem mesmo? Isso é muito estranho Gus – estou sentada com meu irmão no sofá.

Depois de alguns abraços, beijos e palavras de carinho meu pai foi pra viagem urgente à Espanha. Diz ele que havia um caso muito importante para resolver, relacionando com uma grande apreensão de drogas ou algo do tipo.

Evito ao máximo saber dos casos que papai pega, em maioria são sempre perigosos e com gente da pesada.

— Relaxa Mia, ele às vezes dá essas loucas de pegar casos complicados. É mais um desafio para ele atualmente, sempre ganha tudo. – meu irmão responde concentrado no celular

— E o que você tanto digita aí huh? Já sei! Conheceu alguém, né? – tento olhar com quem ele fala

— Saí fora! Vou sair com Taylor e uns amigos. Tchau!

Gus é um ano mais velho que eu, e faz faculdade aqui em Toronto mesmo, ele já foi muito amigo do Peter, na verdade eles tinham um trio único: Gus, Peter e Taylor. Mas depois de todas as merdas que aconteceram com o pai do Peter, eles se afastaram, Filler repetiu de ano e Taylor e Gus seguiram em frente na faculdade. Basicamente Peter Filler não existe mais para os dois.

E Taylor Jacques não existe mais para mim. Não depois de tudo que ele me fez passar.

Meu celular vibra na mesinha de centro e vejo uma foto de Emy.

"Vamos no shopping, ok? Tô passando aí em uns 5min"

Sorrio, Emma só vai ao shopping quando tem festa, e pelo visto teremos uma festa de início de ano em plena segunda.

— Mãe! Vou ao shopping com a Emma, 'ta? – grito

— Nessa casa ninguém mais pede autorização! – ela aparece na porta que divide a cozinha e a sala – Isso significa que vocês têm uma festa para ir hoje, certo?

Confirmo com a cabeça sorrindo

— Por favorzinho! Ela ficou fora o verão todinho!

— Espero amanhã ver vocês acordadissíma para escola.

— Muito obrigada, mamãe. – salto do sofá e vou até ela dando um beijo na sua bochecha.

Ela sorri fazendo careta enquanto eu subo para o meu quarto e troco a roupa que fui ao colégio.

✨✨✨

Fazer compras com Emma sempre foi a coisa mais divertida do universo, o fato é: a gente prova MUITA roupa e não leva quase nada. É mais pela diversão, e pelo desfile particular que compartilharmos em cada look.

— Mia do céu! Esse vestido ficou perfeito, leva! – ela exclama encarando o vestido vinho que visto.

Encaro o espelho do provador, a saia é soltinha e vai até metade da minha coxa, na cintura e no busto ele fica mais justinho e possui uma frente única que se encontra atrás do meu pescoço. Ele é lindo.

— Vermelha é a sua cor amiga – ela bate palminhas e sorri, acabo sorrindo junto.

— Certo, certo, mas agora precisamos de algo para você. Afinal, será a anfitriã.

— Tecnicamente, Peter é o host, mas estarei deslumbrante sem dúvidas – ela tira o cabelo dos ombros de forma dramática – Ele se aproveitou da viagem da mamãe pra aprontar essa de festa de começo de ano.

— Achei que fosse uma tradição do McAdams, ele não ficou puto? – digo tirando o vestido

— Até que não, Louis inclusive incentivou Peter a fazer lá em casa. Pelo que eu vi, eles vão convidar alguns universitários também. – Emma pega um vestido preto brilhante – Olha que lindo!

— Aposta quanto que o Gus vai? E é lindo mesmo amiga, prova esse.

— Gus e o bonde da University of  Toronto – ela responde já colocando o vestido.

— E preto definitivamente é a sua cor, Emy. 'Tá perfeito! – respondo engolindo seco. Se Taylor estiver nessa festa será a ruína.

Ela sorri e da uma voltinha.

— Essa festa vai dar o que falar, Mia. Anota aí.

Suspiro, mas sorrio para ela. Escolhemos nossas roupas e fomos pagar, dar mais um rolê nas lojas de acessórios e depois comer alguma coisa na praça de alimentação.


Ele e Ela [Em Edição]Onde histórias criam vida. Descubra agora