Capítulo 3

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Ives Nuno
Merda. Meu primeiro dia e já foi descoberta. Não cheguei nem na metade da primeira aula. O que me entregou? Estou de lente de contato então escondi meus olhos laranjas. Mangas para esconder as marcas do braço, sentada no canto sem chamar a atenção.
Olho em volta e todos estavam olhando na minha direção. Cada um com uma expressão diferente. Sinto meu coração acelerar e meu corpo ficar mais gelado o que era impossível já que eu era fogo.  que me entregou... o que me entregou....

-Minhas asas... - Falo baixo e coloco a mão nas costas.

-Seu nome, minha querida. É tão tímida assim? - O professor fala sorrindo de forma amigável.

-Desc.... Desculpe. - Respiro fundo. - Sou Ives Nuno. - Volto com a mão para a mesa.

-Não foi as suas asas. Elas estão guardadas. - A voz fala outra vez.

-Façam duplas por favor. - O professor grita.

A turma começa a se movimentar. Todos arrastando as cadeiras e falando alto. Escuto uma cadeira se movimentar atrás de mim e depois para o meu lado. Continuo imóvel. A menina termina de se ajeitar ao meu lado. Eu me viro para olhar quem tinha me descoberto. Ela era morena, com o cabelo cacheado até a cintura, olhos cor de mel, um sorriso de criança que tinha acabado de ganhar um doce. Usava calça de moletom parecendo um pijama e um casaco que combinava. Estava mascando chiclete. Ela também estava fazendo uma análise completa de mim.

-Então menina de Ardon. Ficou muda de novo? - Ela fala rindo.

-Fala baixo por favor. - Falo nervosa olhando a minha volta.

Ela estava tranquila. Não parecia se preocupar com nada. Suspirou e colocou um caderno em cima da mesa. E eu fiz o mesmo. O professor começou a escrever no quarto uma lista de material que seria necessário para esse período. Ela olhou para o quadro e bufou.

-Aula de gastronomia e eu sentada em uma cadeira anotando. Só eu achei que iria fazer um prato francês hoje? - Ela levanta a sobrancelha e sorri. - Sou Nelle Fermi.

-Como sabe que eu sou uma...- Ela sorri e estende a mão para eu apertar.

-Sua energia. - Ela aperta a minha mão.
Nelle olha em volta, todos estavam distraídos anotando o que tinha no quadro, outros estavam tirando foto por preguiça de copiar. Ela olha para as nossas mãos e nesse momento eu vejo a mão dela ficar amarela, sorrio e olho nos olhos dela que mesmo pela lente de contato eu conseguia ver a luz.

-Você não está sozinha... E não é a única que está brincando de ser humana. - Ela sorri e solta a minha mão.

E nesse momento sem precisar de palavras ou um convite, eu sabia que tinha acabado de fazer uma amiga. Passamos o resto da aula copiando lista de compras, buscando no telefone aonde a gente podia comprar tudo e anotando a história da gastronomia. No final da aula corremos para as compras e depois ir para casa. Nelle ia de carona com o irmão que também estava brincando de ser humano e eu ia com Ivo que estava pontualmente me esperando na saída da aula.

Bem

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Bem... E o primeiro semestre se foi. Eu e Nelle nos tornamos melhores amigas. Sem dúvidas somos a dupla perfeita. Falamos com todos da nossa turma, mas no final, sou eu e ela. Voltamos ara casa algumas vezes com o irmão dela quando o Ivo não pode me buscar.

Falando nele, acredito que vocês estejam curiosos para saber o que aconteceu com ele? Mas não ouvi vocês perguntarem. Mas vou contar mesmo assim. Ivo arrumou um emprego na fazendo próximo a casa dele. Ela fica responsável pela organização da produção. Disse que ele poderia ter feito administração, mas com o tempo, ele passou a ter mais raiva dos humanos. 

O bom é que ele anda tão cansado do trabalho que não tem mais energia para arrumar brigas. Mas quando bebe fica insuportável, e ele anda bebendo demais. Ele ainda mora com os pais. E como estamos juntos a três anos ou mais, sim eu não sei exatamente a data, as pessoas começaram a nos perguntar sobre a data do noivado. 

Mas as pessoas só perguntam da data. Ninguém me pergunta se eu quero noivar. E não é nada contra o Ivo. Mas estou chegando na metade da faculdade ainda. Não tenho um emprego, Ivo não ganha tão bem assim. E... Ele precisa trabalhar a raiva dele. Ainda não me sinto totalmente segura para dar um passo à frente. Vocês me entendem?

Mais um ano se passou e estou sentindo um clima estranho no ar

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Mais um ano se passou e estou sentindo um clima estranho no ar. Antes tinham Ardons andando no campus da faculdade. Hoje eu vejo poucos. Eu e Nelle ainda estamos brincando de ser humanas e com isso escutamos coisas que não são agradáveis.
Começando que no campus de ciência estavam promovendo estudos e testes com Lobnia. Que usariam elas para a cura de algumas doenças dos humanos. Mas a pior coisa que eu ouvi é que eles estavam usando Ardons de alguma forma para esse processo de cura e que por isso muitos alunos tinham voltado para o vilarejo com medo.

Nelle estava considerando trancar a faculdade. Mas agora faltava tão pouco. E para eles, nós somos humanas. O irmão dela estava no último período. Estava convencendo a irmã a trancar a faculdade e voltar quando tudo melhorar.

Eu não iria desistir. E eram boatos, pode não ser nada. Eu precisava ter certeza. Então decidi que no intervalo eu iria ao campus de ciências vê como estava o clima e assim fiz. Uns minutos antes de tocar o sinal disse que ia ao banheiro para despistar Nelle.

Fui andando o mais rápido que eu pude até o campus e assim que cheguei, percebi que era cedo. Tinham algumas pessoas no pátio e no gramado provavelmente matando aula. Depois de alguns segundos analisando o ambiente o sinal toca, alto e me dá um susto. E logo vem a correria de pessoas.

Vários grupos vão saindo das salas, pessoas com jalecos no corpo, outras com jalecos nas mãos. Pessoas com projetos, pastas e maquetes. Acredito que todos humanos. Fico tentando capitar alguma energia como a Nelle fez quando me conheceu. Mas não sinto nada. Eu não poderia sentir ou não tinham nenhum Ardon aqui?

Tento escutar as pessoas falando, para ouvir alguma conversa sobre nós. Algum experimento. Mas era uma bagunça. Vários assuntos que eu não entendia. Buraco negro, buraco de minhoca, matéria escura, soldas espaciais.... Sinto uma mão no meu ombro.
Um homem alto, com cabelos loiros, olhos castanhos. Ele estava usando um jaleco pendurado na mochila, isso eu não tinha visto. Usava uma mochila traspassada no corpo. Ele segurava a alça da mochila e a outra mão estava parada no meu ombro, ele estava ao meu lado, olhando a multidão e sorrindo.

-Você não pertence a esse espaço, não é mesmo? - Ele ficou me encarando e sorrindo.

Ardon - A civilizaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora